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16/01/2006 - 10h49

Mãe de Bachelet se diz surpresa com sucesso da filha

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Santiago

A antropóloga e nadadora Ângela Jeria, de 79 anos, confessou neste domingo que jamais imaginou que a filha médica, Michelle Bachelet, de 54 anos, pudesse chegar tão longe na política.

"Não gosto do poder", diz ela.

"Jamais, jamais, jamais pensei que um dia minha filha estivesse aqui e vivendo essa situação, mas as circunstâncias da vida foram nos levando para este caminho".

As declarações de Ângela Jeria foram feitas à BBC Brasil, quando ela acompanhava Bachelet, entre os empurrões e gritos de jornalistas e eleitoras, onde as duas votaram, nesse domingo, numa escola na capital chilena.

Tortura

"Mas agora grito por Michelle e fiz campanha para ela, nesse segundo turno das eleições", contou.

Ao que Bachelet, sorridente, olhou para trás, onde estava a mãe, e disse, em tom de brincadeira: "Ah, então gritou por mim, mamãe? Sério?".

As duas são, segundo a imprensa chilena, grandes amigas.

Essa amizade cresceu ainda mais depois que foram presas, juntas, pela temida polícia DINA, durante a ditadura de Augusto Pinochet.

A morte do pai da candidata, na cadeia, por não suportar as torturas, e do irmão de Michelle, também Alberto, vítima de infarto, dizem assessores que conhecem a família, também contribuíram para "intensificar" essa relação.

General da Força Aérea, Alberto Bachelet morreu na prisão, em 1974 depois de ter passado por vários centros clandestinos de tortura.

Por ter ocupado um cargo no governo do socialista Salvador Allende, como contou Ângela à imprensa chilena, o general "foi perseguido e morto".

Saúde

Allende foi derrubado por um sangrento golpe liderado por Pinochet, em 1973.

A tragédia, que deixou várias vítimas, ocorreu numa época em que, recordam analistas, o partido Democracia Cristã, agora integrante da frente governista de centro-esquerda, apoiou aquela intervenção militar, mas ao saber das prisões, torturas e mortes afastou-se e, anos mais tarde, uniu-se ao socialismo para formar a Concertación.

Nesse domingo, na correria para tentar acompanhar a candidata, de mãos dadas com a filha menor, Sofia, de 12 anos, Ângela disse, emocionada: "Eu adoraria que meu marido e meu filho, Betito, pudessem estar aqui hoje. Mas isso é impossível".

Olhos marejados, voz firme, quando perguntada sobre o que espera da gestão da filha, caso ela chegue ao Palácio La Moneda, respondeu: "mais educação e mais saúde para o povo porque só assim reduziremos a desigualdade social no nosso país".

A antropóloga costuma contar que a filha nasceu de sete meses de gravidez, com apenas um quilo e oitocentas gramas e que passou um mês numa incubadora.

Ela entende que a "inteligência" de Michelle Bachelet, amante dos livros e da música (ela toca violão), além de "jogo de cintura" e "seu bom caráter" a ajudaram a ser ministra da Saúde e, principalmente, da Defesa – cargo ao qual, segundo políticos da situação e da oposição, exerceu sem demonstrar "revolta" pelo que ocorreu com o pai, com a mãe e ela mesma, exilada, durante a ditadura, na Alemanha Oriental.

O estilo de Michelle Bachelet com os militares mereceu, porém, críticas dos partidos de esquerda, como o Partido Comunista, que optou por não aderir à sua campanha no segundo turno das eleições.

Eles argumentam que esperavam uma "gestão mais crítica" com as Forças Armadas, pelo que ocorreu na ditadura.

Mas o argumento da candidata é o de que o país vive uma democracia e que os crimes da ditadura estão sendo investigados pela justiça e que continuarão sendo investigados.

Bachelet foi operada, em 2003, de um aneurisma cerebral e, mais tarde, uma gripe acabou virando pneumonia.

Fatos que levaram a imprensa chilena a perguntar à sua mãe sobre sua saúde.

Ângela sempre respondeu que a filha, cujo nome completo é Verônica Michelle Bachelet Jeria, tem saúde de ferro.

Que engordou uns quilos após o nascimento dos filhos – Sebastián, de 27 anos, Francisca, de 21 anos, e Sofia, de 12 anos -, mas que continua, como ela, a praticar a natação e também a tocar violão.

Políticos que conhecem a candidata contam que ela recebeu "grandes influências" do pai militar, de quem foi muito próxima e herdou a capacidade para trabalhar horas seguidas, além do interesse pelo socialismo.

Que alguns de seus assessores afirmam ser "socialismo de épocas diferentes", entre os anos setenta e agora trinta anos depois.

Eles explicam que o partido continua preocupado, principalmente, com as diferenças sociais, mas apóia medidas como os acordos bilaterais de comércio, assinados pelo governo do presidente socialista Ricardo Lagos, com os Estados Unidos e a China, entre outros.
 

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