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01/02/2006 - 09h58

Análise: Sem ousar, Bush tenta se revigorar com discurso

CAIO BLINDER
da BBC, em Nova York

No discurso anual em sessão conjunta do Congresso, o presidente dos EUA dá um quadro da situação presente do país (o Estado da União) e alinha seus projetos futuros de governo. Nesta terça-feira foram tarefas mais agradáveis, embora não necessariamente encorajadoras, para George W. Bush, do que lembrar o ano passado. Afinal, 2005 foi o annus horribilis da administração iniciada em janeiro de 2001.

Na frase de efeito do seu quinto discurso sobre o Estado da União, Bush advertiu que os americanos estão "viciados" em petróleo e precisam reduzir sua dependência de fontes estrangeiras, em particular do instável Oriente Médio, através de combustíveis alternativos.

Energia é a chave.Este é um presidente que, mais do que nunca, precisa recarregar as baterias. Com o necessário vigor e sabedoria, o presidente advertiu que os problemas americanos não serão resolvidos com isolacionismo geopolítico e protecionismo econômico.

Com um tom que é sua marca registrada, Bush disse que os EUA não podem se retrair de suas responsabilidades internacionais e devem seguir adiante na ofensiva "para acabar com a tirania no mundo". Nada de recuo na chamada guerra contra o terror e no Iraque, embora seja patente e crescente a inquietação da opinião pública sobre o curso da Casa Branca.

No discurso, Bush buscou manter um equilíbrio entre otimismo e a constatação de que os americanos vivem num mundo complexo e recheado de desafios, como a ameaça terrorista e a competitividade econômica de países emergentes. Aqui ele citou China e Índia. Mas na ênfase na necessidade americana para manter a liderança e a competividade, o presidente delineou mais princípios do que programas em larga escala.

Contraste

Em um flagrante contraste com o discurso do ano passado, desta vez Bush não disparou projetos ambiciosos. Ele ainda se recupera do fiasco que foi sua tentativa de reforma da previdência social. A tímida estratégia de agora da Casa Branca é produto de uma ingrata dinâmica politica. Não existe dinheiro para grandes e novas iniciativas devido aos gastos militares e com desastres naturais. E para complicar os problemas de caixa, o corte de impostos é pedra de toque da política econômica de Bush.

O presidente tampouco pode ousar diante das ansiedades populares, da acalorada resistência da oposição democrata e mesmo de algumas divisões entre a maioria republicana no Congresso, num ano de eleições para a renovação de toda Câmara e de um terço do Senado. Um exemplo claro é imigração. Os republicanos estão rachados sobre o que fazer com trabalhadores ilegais (dar status temporário ou arrochar o controle fronteiriço). Não é hora de propostas ousadas da Casa Branca.

Ironicamente houve timidez num dia de triunfo para Bush (talvez o maior de seu governo na frente doméstica). Na terça-feira, o Senado confirmou o juiz Samuel Alito para a Suprema Corte. Alito e o novo presidente do tribunal, John Roberts, representam uma indiscutível guinada conservadora do Judiciário, que deve se configurar como um dos mais importantes legados da era Bush.

Mas balanços históricos estão distantes de um presidente que nunca se notabilizou pela introspecção. O desafio para Bush é provar relevância e liderança quando dois terços dos americanos acreditam que o país esteja no caminho errado. Um discurso, claro, é pouco para recarregar as baterias. O maior consolo para o presidente republicano é que os democratas ainda não encontraram o melhor combustível para dar a arrancada.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre George W. Bush
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