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17/02/2006
-
16h29
da BBC Brasil, em Miami e Washington
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse nesta quarta-feira achar "estranho" o alto número de votos brancos no Haiti, sem os quais o candidato René Préval não reuniria os mais de 50% de votos necessários para ser eleito no primeiro turno.
"Em um país em que o voto é facultativo, acreditar que uma pessoa sai para enfrentar uma fila, como as que nós vimos, para votar em branco, e que 200 pessoas votaram em branco em uma urna, é estranho", disse Amorim, segundo a Agência Brasil, antes de um jantar com o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, em Brasília.
O ministro, no entanto, disse não acreditar em uma "fraude maciça" - expressão usada por Préval, do partido Lespwa, para denunciar uma suposta manobra para evitar a sua eleição no primeiro turno.
"Não acho que tenha havido uma fraude maciça, mas quando você tem um candidato que tem 49%, que é a maioria dos votos dados aos candidatos em conjunto, então uma fraude de 1% já é suficiente para alterar."
O governo haitiano ordenou a suspensão da contagem dos votos até que sejam investigadas as acusações de fraude. Com 90% dos votos apurados, Préval, um ex-aliado do presidente deposto Jean Bertrand Aristide que governou o Haiti entre 1996 e 2001, tinha 48,7% dos votos totais. Em segundo lugar está Leslie Manigat, também ex-presidente do país, com 11,8% dos votos.
'Sem favorecimento'
O Brasil defende que Préval seja declarado vitorioso no primeiro turno, para acalmar a situação no país, que vem enfrentando protestos de rua e acusações de fraude desde que resultados parciais, que inicialmente mostravam Préval com mais de 60% dos votos, começaram a indicar a possibilidade de um segundo turno.
Amorim negou que o Brasil esteja favorecendo um candidato à Presidência do Haiti ao propor que Préval seja declarado eleito no primeiro turno, mesmo sem ter obtido a maioria absoluta dos votos.
"Não se trata de ter preferência por essa ou aquela solução, mas uma solução que seja respeitosa do mandato da Minustah (Missão da ONU no Haiti) e da vontade do povo haitiano."
Os votos brancos que o ministro disse considerar suspeitos podem oferecer a saída que a comunidade internacional vem procurando em negociações com autoridades haitianas para que Préval seja declarado vitorioso no primeiro turno sem pôr em dúvida a legitimidade do processo eleitoral.
O embaixador brasileiro no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, diz que se descontados os votos brancos - que representam 4,7% do total de votos contados - Préval conseguiria os mais de 50% necessários para evitar um segundo turno.
Segundo o diplomata, a inclusão dos votos brancos no cálculo das porcentagens dos candidatos são um "defeito" da legislação eleitoral haitiana.
"O Haiti é o único país que computa votos brancos no cálculo da maioria. Pela fórmula brasileira, que fez com que Lula ganhasse, ele já teria sido eleito", disse.
Segundo Cordeiro, o Brasil e outros países estão discutindo a idéia com três representantes do governo interino como parte dos esforços para "interpretar a legislação haitiana".
"Fizemos várias tentativas de interpretação", disse o embaixador, que chamou a atenção para a "falta de experiência" do Haiti com eleições.
Segundo o jornal The New York Times, o acordo para excluir os votos brancos já teria sido fechado entre autoridades haitianas, diplomatas estrangeiros e observadores internacionais, incluindo a Organização dos Estados Americanos (OEA).
O diário americano atribui a informação a um "alto funcionário" da OEA e diz que o acordo pode ser anunciado ainda nesta quinta-feira.
"Situação difícil"
O embaixador também disse achar suspeito o alto número de votos brancos, geralmente interpretados como votos de protesto em democracias, mas não quis vincular a proposta de excluir esses votos às supostas fraudes e sim ao "defeito" da lei eleitoral.
O diplomata disse que as denúncias serão investigadas, mas frisou a urgência em resolver o impasse no país.
"Estamos em uma situação difícil há três dias, as tropas estão controlando (os protestos), mas não estão reprimindo", afirmou.
Ele passou o dia em reuniões com embaixadores de outros países envolvidos diretamente com a situação política do Haiti, como Estados Unidos, França, Canadá e Chile, além de autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Cordeiro também ressaltou a expectativa da comunidade internacional de que as primeiras eleições desde a queda do presidente Jean Bertrand Aristide, em 2004, coloquem o país no caminho da estabilidade.
"A comunidade internacional investiu muito aqui - com tropas, dinheiro, recursos."
O Conselho de Segurança da ONU pediu nesta quarta-feira que o governo interino haitiano investigue as denúncias de fraudes e fez um apelo aos haitianos para que expressem as suas queixas em relação ao processo eleitoral "pacificamente e legalmente".
O Brasil comanda as tropas da missão de estabilização da ONU no Haiti desde a revolta popular no país que derrubou Aristide, em 2004.
Amorim considera 'estranho' dados de eleição no Haiti
CAROLINA GLYCERIO E DENIZE BACOCCINAda BBC Brasil, em Miami e Washington
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse nesta quarta-feira achar "estranho" o alto número de votos brancos no Haiti, sem os quais o candidato René Préval não reuniria os mais de 50% de votos necessários para ser eleito no primeiro turno.
"Em um país em que o voto é facultativo, acreditar que uma pessoa sai para enfrentar uma fila, como as que nós vimos, para votar em branco, e que 200 pessoas votaram em branco em uma urna, é estranho", disse Amorim, segundo a Agência Brasil, antes de um jantar com o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, em Brasília.
O ministro, no entanto, disse não acreditar em uma "fraude maciça" - expressão usada por Préval, do partido Lespwa, para denunciar uma suposta manobra para evitar a sua eleição no primeiro turno.
"Não acho que tenha havido uma fraude maciça, mas quando você tem um candidato que tem 49%, que é a maioria dos votos dados aos candidatos em conjunto, então uma fraude de 1% já é suficiente para alterar."
O governo haitiano ordenou a suspensão da contagem dos votos até que sejam investigadas as acusações de fraude. Com 90% dos votos apurados, Préval, um ex-aliado do presidente deposto Jean Bertrand Aristide que governou o Haiti entre 1996 e 2001, tinha 48,7% dos votos totais. Em segundo lugar está Leslie Manigat, também ex-presidente do país, com 11,8% dos votos.
'Sem favorecimento'
O Brasil defende que Préval seja declarado vitorioso no primeiro turno, para acalmar a situação no país, que vem enfrentando protestos de rua e acusações de fraude desde que resultados parciais, que inicialmente mostravam Préval com mais de 60% dos votos, começaram a indicar a possibilidade de um segundo turno.
Amorim negou que o Brasil esteja favorecendo um candidato à Presidência do Haiti ao propor que Préval seja declarado eleito no primeiro turno, mesmo sem ter obtido a maioria absoluta dos votos.
"Não se trata de ter preferência por essa ou aquela solução, mas uma solução que seja respeitosa do mandato da Minustah (Missão da ONU no Haiti) e da vontade do povo haitiano."
Os votos brancos que o ministro disse considerar suspeitos podem oferecer a saída que a comunidade internacional vem procurando em negociações com autoridades haitianas para que Préval seja declarado vitorioso no primeiro turno sem pôr em dúvida a legitimidade do processo eleitoral.
O embaixador brasileiro no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, diz que se descontados os votos brancos - que representam 4,7% do total de votos contados - Préval conseguiria os mais de 50% necessários para evitar um segundo turno.
Segundo o diplomata, a inclusão dos votos brancos no cálculo das porcentagens dos candidatos são um "defeito" da legislação eleitoral haitiana.
"O Haiti é o único país que computa votos brancos no cálculo da maioria. Pela fórmula brasileira, que fez com que Lula ganhasse, ele já teria sido eleito", disse.
Segundo Cordeiro, o Brasil e outros países estão discutindo a idéia com três representantes do governo interino como parte dos esforços para "interpretar a legislação haitiana".
"Fizemos várias tentativas de interpretação", disse o embaixador, que chamou a atenção para a "falta de experiência" do Haiti com eleições.
Segundo o jornal The New York Times, o acordo para excluir os votos brancos já teria sido fechado entre autoridades haitianas, diplomatas estrangeiros e observadores internacionais, incluindo a Organização dos Estados Americanos (OEA).
O diário americano atribui a informação a um "alto funcionário" da OEA e diz que o acordo pode ser anunciado ainda nesta quinta-feira.
"Situação difícil"
O embaixador também disse achar suspeito o alto número de votos brancos, geralmente interpretados como votos de protesto em democracias, mas não quis vincular a proposta de excluir esses votos às supostas fraudes e sim ao "defeito" da lei eleitoral.
O diplomata disse que as denúncias serão investigadas, mas frisou a urgência em resolver o impasse no país.
"Estamos em uma situação difícil há três dias, as tropas estão controlando (os protestos), mas não estão reprimindo", afirmou.
Ele passou o dia em reuniões com embaixadores de outros países envolvidos diretamente com a situação política do Haiti, como Estados Unidos, França, Canadá e Chile, além de autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Cordeiro também ressaltou a expectativa da comunidade internacional de que as primeiras eleições desde a queda do presidente Jean Bertrand Aristide, em 2004, coloquem o país no caminho da estabilidade.
"A comunidade internacional investiu muito aqui - com tropas, dinheiro, recursos."
O Conselho de Segurança da ONU pediu nesta quarta-feira que o governo interino haitiano investigue as denúncias de fraudes e fez um apelo aos haitianos para que expressem as suas queixas em relação ao processo eleitoral "pacificamente e legalmente".
O Brasil comanda as tropas da missão de estabilização da ONU no Haiti desde a revolta popular no país que derrubou Aristide, em 2004.
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