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17/02/2006 - 15h00

Para governador de Belém, Hamas ameaça projeto palestino

GUILA FLINT
da BBC Brasil, em Belém

O governador do distrito de Belém (Cisjordânia), Salah Ta'mari, acredita que a ascensão do grupo Hamas, que dominará o Parlamento palestino a partir deste sábado, significa uma ameaça ao projeto de sociedade pelo qual os palestinos sempre lutaram.

Ta'mari, um dos líderes do partido Fatah há mais de 40 anos, vê uma "contradição profunda entre a ideologia laica e democrática do Fatah e a visão teocrática do Hamas".

"O modo de pensar do Fatah é laico e democrático, queremos um Estado progressista em que as pessoas de todas as religiões possam viver em igualdade de direitos. Já o Hamas se identifica com a Irmandade Islâmica, e existe claramente uma contradição profunda entre a nossa visão da sociedade e a visao deles", afirmou o governador, em entrevista à BBC Brasil.

Como membro do Conselho Revolucionário do Fatah (partido do líder Yasser Arafat, morto em 2004), ele se opõe veementemente à participação do partido em um governo de coalizão com o Hamas e defende a ida do Fatah para a oposição.

"Por que devemos ser o saco de areia, o bode expiatório, a máscara, do Hamas?", pergunta Ta'mari. "O Hamas ganhou as eleições e pode formar seu próprio governo."

Desde a sua vitória nas eleições de janeiro, o Hamas vem convidando o Fatah para compor um governo de coalizão e acusa os líderes do Fatah que rejeitam essa proposta de "irresponsabilidade".

Ta'mari chama essas acusações de "chantagem emocional" e afirma que "a atitude mais responsável que o Fatah pode tomar é ficar fora do governo do Hamas".

"Se participarmos do governo, serviremos de máscara atrás da qual o Hamas poderá se esconder para implementar seus planos, como tomar o controle da educação e dos ministérios sociais".

"De acordo com a minha avaliação, o Hamas quer instaurar um regime teocrático islâmico, e isso não faz parte do projeto nacional que o Fatah e a OLP sempre defenderam", disse o governador de Belém.

"Líderes do Hamas já afirmaram que querem impor às mulheres palestinas o uso do véu e já fizeram várias declarações que indicam que sua intenção é impor a Sharia (lei islâmica) à sociedade palestina."

Equilíbrio de poder

O governador acredita que, depois da formação do governo do Hamas, deverá haver um equilíbrio de poder entre o Hamas e o Fatah, pois o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, é o lider do Fatah.

Mas esse equilíbrio, na sua opinião, se dará em meio a uma disputa pelo poder, durante o que chamou de "dias difíceis" que estão por vir. "Não será fácil a convivência com o Hamas, não espero um confronto armado, mas sim um confronto social, político e cultural."

Ta'mari é diretamente subordinado ao presidente Abbas, por quem foi nomeado para o cargo.

Apesar de seus temores de uma maior influência do fundamentalismo islâmico na sociedade palestina, o governador afirmou que os cristãos de Belém, que representam 30% da população do distrito, não correm risco algum.

"O Hamas sabe que Belém é vista como capital do Cristianismo, e todos os líderes islâmicos sempre respeitaram os cristãos de Belém e seus símbolos", disse.

"Qualquer tipo de repressão cultural significará um desafio não só para os cristãos, mas também para os muçulmanos, como eu, que não pertencem ao Hamas."

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