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18/02/2006 - 05h00

Analistas haitianos questionam solução eleitoral

CAROLINA GLYCERIO
da BBC Brasil, em Miami

Analistas haitianos entrevistados pela BBC Brasil criticaram a solução encontrada para o impasse eleitoral no Haiti que deu vitória em primeiro turno ao candidato René Préval.

"(O acordo) envia a mensagem de que Préval está acima da lei. Não temos que ser perfeccionistas, mas temos que seguir o jogo democrático minimamente", afirmou o economista Claude Beauboeuf, que leciona na Universidade Kiskeya.

Depois de dias de denúncias de fraudes e protestos de rua de eleitores exigindo a vitória de Préval, integrantes do governo e do conselho eleitoral fecharam um acordo em uma reunião de emergência, em que concordaram em distribuir os votos em branco entre todos os candidatos de maneira proporcional.

Sem o acordo, pelos últimos resultados parciais, Préval não conseguiria os 50% dos votos necessários para evitar um segundo turno. Com a decisão do conselho, o candidato passou a ter mais de 51% e foi declarado eleito em primeiro turno.

"Setor perigoso"

Para Claude Beauboeuf, a solução "viola a lei" e dá um mandato a um "setor perigoso da população", uma referência às gangues armadas que apóiam Préval.

"A única consequência positiva será o alívio da situação, mas isso não vai durar", disse.

Presidente do Haiti entre 1996 e 2001, Préval foi aliado do líder deposto Jean Bertrand Aristide, de quem herdou a popularidade entre as camadas mais pobres da população.

A declaração da vitória de Préval foi comemorada nas ruas por milhares de eleitores, que dias antes erguiam barricadas para protestar contra supostas fraudes nas eleições.

Já o segundo colocado nas apurações, o ex-presidente Leslie Manigat, que aparecia com 12% dos votos com 90% do total apurado, denunciou o acordo como uma "comédia maquiavélica" que impôs um vencedor "fora das regras da legalidade republicana", segundo a agência de notícias haitiana AlterPresse.

Brasil

O Brasil foi um dos países que apoiaram a reivindicação de Préval para ser declarado eleito mesmo sem a maioria absoluta dos votos e participou ativamente das negociações do acordo que acabou dispensando o segundo turno.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que Préval assumirá o cargo com grande legitimidade e negou que o governo brasileiro tenha influenciado a decisão das autoridades locais.

Outro analista haitiano, Kisner Fharel, da empresa de consultoria Croissance, concorda que a solução não põe em dúvida a legitimidade de Préval como presidente, porque a maioria dos haitianos acredita que ele sairia vitorioso de qualquer forma dada a sua grande vantagem em relação a Manigat, mas afeta a credibilidade do processo eleitoral.

Segundo o consultor, o processo havia começado bem com a votação de 7 de fevereiro - marcada pelo alto comparecimento às urnas apesar da desorganização e das quatro mortes em incidentes violentos - mas terminou repetindo a história haitiana.

"Toda vez há algum tipo de arranjo em vez de se respeitar o decreto eleitoral", afiormou.

Para o analista, o acordo reforça a idéia de que o Haiti é um "Estado fracassado" que precisa de ajuda internacional para resolver os seus próprios problemas.

"(Isso) prova que precisamos de alguém de fora porque não confiamos uns nos outros", disse Fharel.

Tanto Beauboeuf como Fharel acreditam que teria sido preferível a realização de um segundo turno, do qual Préval teria sido vitorioso, na avaliação de ambos.

"Se eu fosse Préval, eu teria ido ao segundo turno. Ele provavelmente sairia com 70% dos votos e receberia um mandato mais forte", disse Fharel.

O Brasil comanda as tropas da missão de estabilização da ONU no Haiti desde 2004, quando uma revolta popular no país derrubou o então presidente Jean Bertrand Aristide.

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