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29/03/2006
-
16h34
da BBC Brasil
O Kadima foi fundado a partir da premissa de que a sobrevivência de Israel a longo prazo depende de proteger a maioria judia e evitar que os árabes palestinos se tornem maioria no futuro.
A demografia foi a motivação para a decisão do primeiro-ministro Ariel Sharon de retirar tropas e colonos da faixa de Gaza no ano passado e para a promessa eleitoral do Kadima de assumir novos "compromissos territoriais" na Cisjordânia.
A idéia é rejeitada pelo ex-partido do governo, o Likud, que Sharon se viu obrigado a abandonar para criar o Kadima em novembro de 2005.
Mas quando foi internado após sofrer um derrame, em janeiro, Sharon ainda não tinha revelado por completo as intenções do Kadima. E essa tarefa caiu nas mãos de seus assessores mais próximos e de seu vice, Ehud Olmert.
"Vamos agir para estabelecer as fronteiras finais do Estado de Israel, um Estado judeu, com maioria judia", disse Olmert a seguidores do Kadima, em um discurso transmitido pela televisão na noite das eleições.
Veja fotos das eleições israelenses
"Vamos tentar alcançar isso em um acordo com os palestinos", acrescentou o líder do partido. "Senão, Israel vai assumir o controle de seu próprio destino e, em consenso com nosso povo e com o apoio de nossos amigos no mundo, especialmente do presidente americano George W. Bush, vamos agir."
"A hora de agir chegou", reiterou Olmert. E realmente é provável que a hora já tenha chegado.
Há pouca expectativa de qualquer progresso em uma negociação que resulte em dois Estados, especialmente depois da vitória do Hamas nas eleições palestinas de janeiro. O grupo militante sequer reconhece o direito de Israel de existir.
Anexação
Olmert tem afirmado que pretende estabelecer as fronteiras finais de Israel até 2010.
Para isso, quer que Israel deixe quase todo território capturado e ocupado durante a guerra de 1967, mas incorpore áreas com grandes colônias de judeus.
Parte desse território já foi anexada a Israel (Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã), apesar de essa medida transgredir as leis internacionais e não ser reconhecida internacionalmente.
Mas o foco dos próximos anos serão os grandes blocos de colônias na Cisjordânia, como Gush Etzion, no sul, Ariel e Kedumim, no norte, e Maale Adumim, ao leste de Jerusalém.
Essas áreas já estão a ponto de ficar no lado ocidental ("israelense") da barreira que o governo de Israel está construindo dentro e em volta da Cisjordânia.
A área anexada incluirá não apenas pessoas e prédios, mas também terras férteis e fontes de água que podem ser bens vitais para o futuro de Israel.
Há também a possibilidade de que Israel mantenha o controle sobre parte de Hebron, segundo local mais sagrado para os judeus e reduto de alguns dos mais radicais e determinados colonos israelenses.
Além disso, Israel também pode tentar anexar a área do Vale do Jordão para ter como controlar toda a extensão da fronteira com a Jordânia, de Golã ao Golfo de Aqaba.
Obstáculos futuros
Além de já ter sofrido uma importante baixa com a internação de Sharon, o Kadima também terá pela frente uma série de obstáculos.
Primeiro, terá que conquistar para seu plano o apoio de possíveis parceiros para uma coalizão. Durante as eleições, nenhum dos outros partidos defendeu retiradas unilaterais.
A vitória com uma vantagem menor do que a esperada pode significar a necessidade de concessões, tanto para a direita como para a esquerda.
Autoridades palestinas, que são contra qualquer retirada que permita a consolidação de colônias de judeus, podem concluir que não há muito a fazer para impedir os planos do Kadima, principalmente se as obrigações palestinas previstas no plano de paz para a região, como o desarmamento de grupos militantes, permanecerem sem ser cumpridas.
A maior polêmica para Israel, diante das lembranças da retirada de Gaza em 2005, será remover os colonos que vivem em áreas marcadas para evacuação.
O Kadima tenta abrir caminho para seus planos com referências ao "direito nacional e histórico (dos judeus) à terra de Israel por inteiro" (ou seja, incluindo os territórios ocupados).
Mas o manifesto do partido continua com outra consideração: "O balanço entre permitir que os judeus conquistem seu direito histórico e manter a existência contínua de Israel como nação judia precisa de compromisso territorial".
Apoio
O governo provavelmente começará com a retirada de acampamentos ilegais (colônias não autorizadas pelo Estado israelense), como determina o plano de paz internacional para a região.
Israel aparentemente já conta com o apoio do governo americano para anexar áreas com grandes populações de judeus na Cisjordânia. Em 2004, o presidente George W. Bush disse que o retorno às fronteiras anteriores a 1967 não seria realista.
O Kadima diz que agora cabe aos palestinos cumprir suas obrigações. Caso contrário, a redefinição das fronteiras começará sem eles.
A única esperança dos palestinos é que o resto do mundo impeça que eles sejam forçados a aceitar o que consideram mais uma concessão territorial, além da aceitação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza como futuro Estado palestino.
Os palestinos argumentam que os dois territórios representam apenas 22% da área da Palestina original, antes da criação de Israel em 1948. Ou seja, isso já representaria uma concessão significativa aos israelenses.
Demografia motiva planos do Kadima para a Cisjordânia
MARTIN ASSERda BBC Brasil
O Kadima foi fundado a partir da premissa de que a sobrevivência de Israel a longo prazo depende de proteger a maioria judia e evitar que os árabes palestinos se tornem maioria no futuro.
A demografia foi a motivação para a decisão do primeiro-ministro Ariel Sharon de retirar tropas e colonos da faixa de Gaza no ano passado e para a promessa eleitoral do Kadima de assumir novos "compromissos territoriais" na Cisjordânia.
A idéia é rejeitada pelo ex-partido do governo, o Likud, que Sharon se viu obrigado a abandonar para criar o Kadima em novembro de 2005.
Mas quando foi internado após sofrer um derrame, em janeiro, Sharon ainda não tinha revelado por completo as intenções do Kadima. E essa tarefa caiu nas mãos de seus assessores mais próximos e de seu vice, Ehud Olmert.
"Vamos agir para estabelecer as fronteiras finais do Estado de Israel, um Estado judeu, com maioria judia", disse Olmert a seguidores do Kadima, em um discurso transmitido pela televisão na noite das eleições.
Veja fotos das eleições israelenses
"Vamos tentar alcançar isso em um acordo com os palestinos", acrescentou o líder do partido. "Senão, Israel vai assumir o controle de seu próprio destino e, em consenso com nosso povo e com o apoio de nossos amigos no mundo, especialmente do presidente americano George W. Bush, vamos agir."
"A hora de agir chegou", reiterou Olmert. E realmente é provável que a hora já tenha chegado.
Há pouca expectativa de qualquer progresso em uma negociação que resulte em dois Estados, especialmente depois da vitória do Hamas nas eleições palestinas de janeiro. O grupo militante sequer reconhece o direito de Israel de existir.
Anexação
Olmert tem afirmado que pretende estabelecer as fronteiras finais de Israel até 2010.
Para isso, quer que Israel deixe quase todo território capturado e ocupado durante a guerra de 1967, mas incorpore áreas com grandes colônias de judeus.
Parte desse território já foi anexada a Israel (Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã), apesar de essa medida transgredir as leis internacionais e não ser reconhecida internacionalmente.
Mas o foco dos próximos anos serão os grandes blocos de colônias na Cisjordânia, como Gush Etzion, no sul, Ariel e Kedumim, no norte, e Maale Adumim, ao leste de Jerusalém.
Essas áreas já estão a ponto de ficar no lado ocidental ("israelense") da barreira que o governo de Israel está construindo dentro e em volta da Cisjordânia.
A área anexada incluirá não apenas pessoas e prédios, mas também terras férteis e fontes de água que podem ser bens vitais para o futuro de Israel.
Há também a possibilidade de que Israel mantenha o controle sobre parte de Hebron, segundo local mais sagrado para os judeus e reduto de alguns dos mais radicais e determinados colonos israelenses.
Além disso, Israel também pode tentar anexar a área do Vale do Jordão para ter como controlar toda a extensão da fronteira com a Jordânia, de Golã ao Golfo de Aqaba.
Obstáculos futuros
Além de já ter sofrido uma importante baixa com a internação de Sharon, o Kadima também terá pela frente uma série de obstáculos.
Primeiro, terá que conquistar para seu plano o apoio de possíveis parceiros para uma coalizão. Durante as eleições, nenhum dos outros partidos defendeu retiradas unilaterais.
A vitória com uma vantagem menor do que a esperada pode significar a necessidade de concessões, tanto para a direita como para a esquerda.
Autoridades palestinas, que são contra qualquer retirada que permita a consolidação de colônias de judeus, podem concluir que não há muito a fazer para impedir os planos do Kadima, principalmente se as obrigações palestinas previstas no plano de paz para a região, como o desarmamento de grupos militantes, permanecerem sem ser cumpridas.
A maior polêmica para Israel, diante das lembranças da retirada de Gaza em 2005, será remover os colonos que vivem em áreas marcadas para evacuação.
O Kadima tenta abrir caminho para seus planos com referências ao "direito nacional e histórico (dos judeus) à terra de Israel por inteiro" (ou seja, incluindo os territórios ocupados).
Mas o manifesto do partido continua com outra consideração: "O balanço entre permitir que os judeus conquistem seu direito histórico e manter a existência contínua de Israel como nação judia precisa de compromisso territorial".
Apoio
O governo provavelmente começará com a retirada de acampamentos ilegais (colônias não autorizadas pelo Estado israelense), como determina o plano de paz internacional para a região.
Israel aparentemente já conta com o apoio do governo americano para anexar áreas com grandes populações de judeus na Cisjordânia. Em 2004, o presidente George W. Bush disse que o retorno às fronteiras anteriores a 1967 não seria realista.
O Kadima diz que agora cabe aos palestinos cumprir suas obrigações. Caso contrário, a redefinição das fronteiras começará sem eles.
A única esperança dos palestinos é que o resto do mundo impeça que eles sejam forçados a aceitar o que consideram mais uma concessão territorial, além da aceitação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza como futuro Estado palestino.
Os palestinos argumentam que os dois territórios representam apenas 22% da área da Palestina original, antes da criação de Israel em 1948. Ou seja, isso já representaria uma concessão significativa aos israelenses.
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