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09/05/2006 - 10h41

Violência marca posse do presidente eleito do Haiti

MÁRCIA CARMO
da BBC, em Santo Domingo

A cinco dias da posse do presidente eleito do Haiti, René Préval, neste domingo, haitianos temem a volta da violência que assolava o país até a sua eleição.

Para o porta-voz do partido Fusão Haitiana dos Social-democratas do Haiti, Michael Gaillard, a situação "melhorou muito" em relação ao período anterior à eleição presidencial, mas ainda "há medo do retorno das gangues".

"Ainda não há atmosfera de estabilidade no país e existem dúvidas sobre o papel das gangues depois da posse de Préval", disse Gaillard.

Préval foi eleito em fevereiro com o apoio da população e das gangues que têm esperança que ele abra caminho para a volta do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, derrocado em 2004.

Apoio a Préval

Em entrevista à BBC Brasil, Gaillard, conhecido como "Micha", e o ex-primeiro-ministro do governo anterior de Préval, Rosny Smarth, afirmaram que o "sentimento geral" dos haitianos é de apoiar a nova gestão.

"Todos querem que funcione, que dê certo. Mas isso não significa que não estaremos vigilantes", disse Smarth.

Smarth (1996-1997) renunciou ao cargo, em meio a disputas com o então presidente Preval. Na ocasião, o Haiti viveu 17 meses de parlamentarismo sem um primeiro-ministro.

Para Smarth, o sucesso do novo governo dependerá da capacidade de Préval de provar que vai administrar sem a influência de Aristide.

"Ninguém pode descartar que a sombra de Aristide não tenha força no Haiti para provocar certos desequilíbrios e alguns obstáculos para o governo", disse Smarth.

"Bases aristidianas voltaram a dizer estes dias que vão se mobilizar para exigir o retorno do ex-presidente. E isso é preocupante."

Para o ex-premiê, o Haiti está numa encruzilhada e a volta de Aristide dependerá do sucesso ou fracasso do novo governo.

Normalidade

Smarth, Gaillard e outros representantes políticos vao sugerir a Préval "um governo de coalizão com a participação de ministros de diferentes partidos, para que reforce a governabilidade".

Mas ainda existem dúvidas, como afirmaram, sobre quem será o primeiro-ministro, quanto tempo as forças de paz das Nações Unidas permanecerão no país e quanto tempo será necessário para a conquista completa da normalidade.

"Préval era unha e carne com Aristide. Eu também fui aristidiano, como 80% da população, mas depois percebi que ele não atendia às expectativas e promessas", disse Smarth.

Exilado durante 11 anos no Chile, por ter sido perseguido pela ditadura de Jean Claude Devalier (1971-1986), Smarth diz que o fato de Préval e Aristide terem sido tão próximos no passado gera dúvidas sobre a capacidade de independência do ex-poderoso.

"Mas é preciso dar uma chance a Préval para que faça um bom governo. Até porque a população não vai aceitar uma oposição forte."

Tradição

O Haiti, que foi colonizado pelos franceses e tem população de cerca de sete milhões de habitantes, não possui Forças Armadas --desmanteladas por Aristide.

Segundo Gaillard, muitos haitianos já questionam a presença dos militares da Minustah (Missão de Estabilização da ONU no Haiti), liderada pelo Brasil, nas ruas da capital, Porto Príncipe.

"Nós sabemos que o país não estaria em pé, que a revolução não terminaria sem os militares (estrangeiros). Mas apesar da simpatia dos haitianos pelos brasileiros, muitos perguntam até quando será necessária a presença deles."

Gaillard e Smarth participaram em Santo Domingo, capital da República Dominicana, vizinha do Haiti, de um encontro para aproximar os dois países, que têm históricas diferenças e disputas políticas, econômicas e sociais.

Eles afirmam que os três partidos que disputaram as eleições com Préval vão oferecer total apoio no Parlamento.

Na opinião de Smarth, que recentemente voltou a falar com Préval, a expectativa é que o novo governo seja pragmático, voltado para obras e com tendência a uma economia liberal, sem abandonar, "de forma alguma", o drama social do país mais pobre da América Latina.

"Um dos braços fortes deste drama são as gangues. Eles não são muitos, mas têm capacidade e armas suficientes para parar Porto Príncipe", destacou Gaillard.

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