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30/05/2006 - 09h01

Para colombianos, PCC lembra o cartel de Medellín

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Bogotá

As recentes ações do PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo são comparadas por colombianos ao período de terror vivido pelo país durante o "reinado" de Pablo Escobar no comando do cartel de Medellín.

Políticos, autoridades e analistas ouvidos pela BBC Brasil afirmaram que Escobar tinha necessidade de mostrar que era mais poderoso do que o Estado e que, com suas ações, era capaz de parar cidades --como ocorreu com Bogotá, capital da Colômbia, e Medellín, sua terra.

"Que terror o que aconteceu com São Paulo. Impressionante. Eu me lembrei dos nossos dias com Pablo Escobar. Com a capacidade que ele tinha para nos amedrontar e parar as cidades", disse o senador Antonio Navarro, que chefiou até domingo a campanha eleitoral do candidato à Presidência Carlos Gaviria.

"O que aconteceu em São Paulo me lembrou Medellín, da época do cartel de Pablo Escobar", afirmou o analista Alfredo Rangel, da Fundação Segurança e Democracia, de Bogotá. Para ele, entre as "semelhanças" do que ocorreu em São Paulo e aquele período colombiano estão "duas organizações mafiosas, estruturadas e com hierarquia".

Alerta

Para Alfredo Rangel, a outra relação entre aqueles dias de violência em Medellín e em São Paulo está nas prisões. Em Medellín, elas também não eram seguras, e muitas vezes, recordou Rangel, os grandes líderes determinavam as ações criminosas a partir das cadeias.

Um funcionário do primeiro escalão do governo do presidente reeleito Álvaro Uribe disse que o Brasil "deve estar atento" aos avanços dos narcotraficantes. "É hora de agir e não permitir que eles voltem a mostrar que têm poder, que podem mais que o Estado", afirmou.

Na opinião desse assessor do governo colombiano, o fortalecimento do narcotráfico cumpre, normalmente, quatro etapas.

A primeira, segundo ele, já ocorreu no Brasil. "Foi quando os traficantes mostraram que podiam parar a maior cidade da América do Sul, gerar pânico e deixar as autoridades atônitas, mesmo que por algumas horas", disse.

A segunda etapa, que poderia caminhar junto ou não com a primeira, seria a capacidade dos traficantes de corromper autoridades e não apenas policiais ou seguranças das prisões. "Estamos falando de uma guerra de milhões de dólares, onde o poder dos traficantes não tem limites", disse o assessor colombiano.

As outras etapas --todas já vividas pela Colômbia, maior produtor mundial da coca-- seriam a sociedade se dividir em relação ao combate aos narcotraficantes até o ponto em que --a etapa final-- se passa a duvidar de maneira ampla da capacidade do Estado de resolver o problema.

Algumas autoridades colombianas --tanto de direita como de esquerda-- lamentam que o país não tenha optado por extraditar narcotraficantes para cumprirem sentenças de prisão nos Estados Unidos.

"O Brasil poderia ter aproveitado para extraditar (o traficante de drogas) Fernandinho Beira-Mar quando ele foi pego aqui na Colômbia. Todos eles (narcotraficantes) têm medo das prisões americanas", disse uma autoridade policial colombiana.

Beira-Mar foi capturado em 2001, em território colombiano, e enviado ao Brasil.

Loucura

Na opinião de um representante do governo brasileiro em Bogotá, é "loucura" comparar Pablo Escobar com Marcos Herbas Camacho, o Marcola.

"Escobar também mandava e desmandava a partir do seu celular, mas de uma casa que tinha até hipopótamo e uma rede que contava com juízes, políticos e policiais", disse. "O que ocorreu em São Paulo foi único."

Ainda hoje existe um bairro, em Medellín, com o nome do ex-líder do cartel.

"Medellín é a única cidade da Colômbia que tem metrô e é a mais bonita de todas. Nossa vida mudou com o fim de Escobar", disse o taxista Enrique Arango, 57, nascido em Medellín e que há dez anos vive em Bogotá.

O analista Alfredo Rangel recorda que a recuperação de Medellín só foi possível graças a um pacote de medidas. Elas incluíram ações conjuntas do Exército e da polícia, com profissionais especializados em combater e capturar grandes criminosos.

O pacote contou ainda com os chamados juízes "sem rosto" --suas identidades não eram reveladas-- para julgar os narcotraficantes. Logo depois, a Colômbia passou a ter três prisões nacionais de segurança máxima e distantes das áreas de ação dos bandidos.

Nelas, hoje, os telefonemas são controlados, presos são isolados, para impedir motins ou a organização de novos crimes. Os seguranças das cadeias recebem cursos especiais e têm tempo limitado em cada prisão --tudo para evitar que sejam corrompidos pelos presos mais poderosos.

"Não quer dizer que todo o sistema colombiano esteja resolvido e em boas condições. As outras prisões, onde estão presos comuns, também sofrem com excesso de gente e corrupção", disse Rangel. "Mas têm dado resultados para o país as prisões de segurança máxima, onde estão os líderes do narcotráfico, da guerrilha e dos paramilitares", afirmou Rangel.

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