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01/07/2006 - 20h00

México: Imigrantes terão participação reduzida nas eleições

CLAUDIA JARDIM
da BBC Brasil, na Cidade do México

A força produtiva mais importante do México não participará, na sua totalidade, das eleições presidenciais deste domingo. Dos milhões de mexicanos que vivem no exterior, apenas 40 mil poderão votar pela primeira vez.

O candidato que sair vitorioso das urnas terá que enfrentar um dos maiores problemas do país: a saída dos mexicanos em busca do sonho americano.

Segundo dados do governo, o número de mexicanos nos Estados Unidos é de 10 milhões. Mas pesquisas de instituições que tratam do problema da imigração indicam que o número é duas vezes maior.

De acordo com Luciano Concheiro, pesquisador da Universidade Autônoma do México, estima-se que 20 milhões de pessoas tenham deixado o país nas últimas décadas.

Até o ano de 1986, cinco milhões já haviam cruzado a fronteira. “Na década de 90, esse número saltou para 12 milhões de mexicanos que passaram a viver nos EUA de maneira illegal. Apenas 8 milhões possuem documentos ”, afirma Concheiro.

O aumento do número de imigrantes, segundo Luciano Concheiro, coincide com o “abandono de políticas agropecuárias” na década de 80 e a “liberalização da economia” na década de 90.

“O esgotamento das condições de produção no campo coincidiu com a aplicação das políticas neoliberais e a abertura econômica. Houve um abandono do mercado interno”, afirma Concheiro.

Depois dos atentados de 11 de setembro, um acordo que o atual presidente Vicente Fox pretendia firmar com Washington foi cancelado. Os críticos afirmam que esta foi uma das principais derrotas do governo Fox.

Negócio da imigração

Os três principais candidatos que concorrem à presidência neste domingo trataram do tema da imigração em suas campanhas e indicaram que a solução dependerá das relações com EUA.

Durante o debate presidencial do dia 6 de junho, os candidatos apresentaram suas propostas em relação ao assunto.

“ Temos que conseguir um novo acordo imigratório que nos permita incluir aos que hoje reclamam por proteção dos direitos humanos (…) temos que gerar empregos e que nossos compatriotas que estão lá apliquem suas remessas aqui”, afirmou Roberto Madrazo do Partido Revolucionário Institucional (PRI).

A imigração passou a ser um negócio rentável para a economia mexicana. Para o ano de 2006 está previsto o envio de US$ 24 bilhões, segundo o Banco do México.

“As remessas enviadas pelos imigrantes é a segunda principal fonte da economia, perde apenas para o petróleo”, afirma Luciano Concheiro.

De acordo com o Instituto Nacional de Geografia e Informática (INEGI), de cada quatro famílias mexicanas, uma tem algum familiar nos EUA.

O conservador Felipe Calderón do Partido Ação Nacional (PAN), que se autodenomina o “candidato do emprego”, disse que pretende criar um programa de trabalho temporário em que “os queiram trabalhar nos EUA por temporadas possam fazer-lo legalmente”.

O ex-deputado do PAN Javier Algara acredita que o problema da migração está ligado ao número de trabalhadores desocupados ou subempregados.

“ Sabemos que não podemos gerar novos trabalhos de um dia para outro, por isso defendemos a proposta dos trabalhos temporários nos EUA”, afirmou Algara.

Calderón diz que promoverá um acordo com os EUA para que os imigrantes que estão no país há cinco anos possam ter a situação regularizada.

“Temos que mostrar aos EUA que a imigração é um problema dos dois países, e por isso tem que ser discutido bilateralmente”, disse o ex-deputado panista.

Muralha fronteiriça

Tramita no Senado norte-americano uma lei que permitirá a documentação apenas para os mexicanos que estão há mais de cinco anos no país.

A lei que já foi aprovada na Câmara dos Representantes norte-americana e espera a decisão dos senadores prevê a construção de um muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México.

Durante o governo Fox, estima-se que quatro milhões de mexicanos deixaram o país.

Para o pesquisador Luciano Concheiro, o candidato conservador Felipe Calderón aposta nas boas relações mantidas com Washington para que o texto da lei favoreça os mexicanos.

Volta ao campo

Assim como seus rivais, o candidato de centro-esquerda Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD) afirmou que o tema principal em sua agenda bilateral com os EUA será o tema da imigração.

Durante o mesmo debate presidencial anunciou que se chegar à presidência dará instruções para que os 45 consulados que o México mantém nos EUA se convertam em procuradorias para defender os imigrantes dos maus tratos e violação dos direitos humanos. “Nada se resolverá com muros, militarização e com ameaças”, afirmou.

O centro-esquerdista diz que buscará um convênio com EUA e Canadá para impulsar conjuntamente o crescimento da “economia do nosso país e gerar empregos” como única maneira de “conter e ordenar os fluxos migratórios”.

Na avaliação de Luciano Concheiro, a proposta de Lopez Obrador - que prometeu reorganizar a economia rural e rever a cláusula de importações agrícolas do Tratado de Livre Comércio com EUA e Canadá - poderá inibir o fluxo de imigrantes ao norte, mas “não deve solucionar o problema em sua totalidade”.

“ Para inibir a imigração é preciso reativar a economia interna, subir a capacidade de compra e reanimar a indústria mexicana. Ainda assim, nunca é a solução final”, disse o pesquisador.

Na avaliação de Concheiro, o próximo período presidencial será decisivo. A seu ver, México está perdendo o que chama de “bônus demográfico”.

“Estamos exportando nossos jovens, um bônus demográfico. Se não se controla esse problema, nas próximas décadas seremos um país de velhos, assolados em uma miséria profunda”.

Até o fim da década de 80, imigravam para os EUA aproximadamente 70 mil pessoas por ano. Na última década, entre 400 e 500 mil deixaram o país anualmente.
 

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