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03/07/2006 - 00h04

Eleições no México são disputadas voto a voto

CLAUDIA JARDIM
da BBC Brasil, na Cidade do México

Nas eleições presidenciais mais disputadas da história do México, ninguém se arriscou a divulgar pesquisas de boca de urna antecipando os resultados do pleito.

As cadeias de televisão anunciaram que a diferença entre o primeiro e segundo candidato era bastante estreita e decidiram não divulgar resultados preliminares.

A presidência está sendo disputada entre o candidato de centro-esquerda Andrés Manuel Lopez Obrador da Aliança Para o Bem de Todos e o conservador Felipe Calderón do Partido Ação Nacional.

Ambos aguardam em seus escritórios de campanha o anúncio dos primeiros resultados que serão divulgados pelo Instituto Federal Eleitoral (IFE) ao final da noite.

Caso a diferença entre os candidatos seja inferior ao que o IFE considera seguro, somente na manhã desta segunda-feira os mexicanos saberão quem deverá governar o país durante os próximos seis anos.

Simpatizantes de ambos candidatos já comemoram nas ruas do país. O Partido da Revolução Democrática (PRD) convocou os simpatizantes de López Obrador a “comemorar a vitória” no Zócalo, centro da cidade, após as 23h. (01h00 da manhã horário de Brasília)

Voto do campo decisivo

Mais de 71 milhões de eleitores se inscreveram para participar das eleições. Enquanto esperava a abertura do centro de votação no centro da cidade, o camponês Gustavo Guerrero se queixava do atual presidente. “O que Fox está fazendo no campo é um crime. Está acabando com o camponês, tentando privatizar nossa terra”, disse Guerrero.

Um dos herdeiros da reforma agrária realizada por Lázaro Cárdenas em 1930, Gustavo Guerrero disse que optaria pela mudança e indicou seu voto. “Votarei em López Obrador porque é o único que propôs desenvolver o campo. Os outros querem que deixemos nossa terra para os ricos”, afirma o eleitor de 70 anos.

Uma das tendências antes das eleições era a de que o chamado “voto verde” - das organizações camponesas que de última hora romperam seu apoio ao Partido Revolucionário Institucional – poderia reforçar os votos tanto de López Obrador como os de Felipe Calderon.

López Obrador promete dar prioridade aos pobres durante sua gestão - com programa assistenciais, construção de hospitais e estradas - e rever o Tratado de Livre Comércio com Estados Unidos e Canadá (Nafta pelas siglas em inglês).

Calderón é o candidato preferido dos mercados internacionais e dos empresários locais. Sua principal proposta de governo é gerar empregos por meio da abertura ao investimento privado.

“Não votar, organizar-se”

Enquanto os eleitores mexicanos esperavam nas filas pela sua vez de votar, centenas de indígenas e camponeses organizados pelo Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) tomaram algumas ruas da capital do país convocando os mexicanos a “não votar e organizar-se”.

Durante os cerca de 5 quilômetros que marcharam desde o monumento Angel até o Zócalo - coração político e histórico do México - os zapatistas revindicavam o direito a uma “democracia verdadeira, desde abaixo”.

“Nosso sonho de justiça e liberdade não cabe nestas urnas”, diziam os zapatistas em cartazes e em dezenas de bandeiras erguidas durante a marcha.

A manifestação faz parte da “Outra Campanha” lançada no início do ano. De acordo com os zapatistas, se trata de organizar a resistência nas comunidades para “tomar o poder pela vía pacífica”.

Os manifestantes também exigiam a prisão dos responsáveis pela morte de duas pessoas durante a repressão policial de 2 de maio em San Salvador Atenco e a liberdade dos manifestantes detidos no confronto.

O subcomandante Marcos, um dos líderes do movimento de Chiapas, é crítico do candidato López Obrador considerado por muitos a opção à esquerda ao governo do país.

A seu ver o candidato do PRD representa os mesmos interesses dos demais candidatos de direita.

O líder dos zapatistas caminhou todo o trajeto como um “messias” cercado por jornalistas. Não declarou uma só palavra. Os meios de comunicação do país ignoraram a presença dos indígenas na cidade.

Pacto Nacional

Além do presidente, os mexicanos votaram por deputados federais, senadores e governador na Cidade do México, Jalisco, Morelos e Guanajuato.

Independentemente de quem seja o vitorioso da eleição presidencial, deverá encontrar um Congresso Nacional bastante dividido. De acordo com analistas, terá que “fazer alianças” para poder governar.

“Vicente Fox não pode governar porque não soube negociar com o Congresso. O novo presidente terá que restabelecer essas relações para poder governar”, analisa a historiadora Ana Maria Aragonês, da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).

Para o filósofo José Luis Medellin, da Universidade Aberta do México, o presidente eleito também terá de se “reconciliar com as forças populares”.

“Os candidatos se cumprimentam ao final, mas existe toda uma mobilização popular que tem que ser respeitada”, afirma.
 

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