Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
08/09/2006 - 08h10

Análise: Realidade força Bush a reverter métodos na luta antiterrorista

CAIO BLINDER
da BBC, em Nova York

George W. Bush não é um homem de se render, em especial nas questões sobre os métodos do seu governo na chamada guerra contra o terror, mas existem momentos em que até o presidente americano é prisioneiro da realidade.

Bush saiu nesta quarta-feira das sombras e pela primeira vez admitiu a existência do programa secreto da CIA de detenção e interrogatório de suspeitos de terrorismo em várias partes do mundo.

O presidente anunciou a transferência de 14 destes detidos --altos integrantes da rede Al Qaeda --da custódia da CIA para a do Pentágono, na base de Guantánamo, em Cuba, e pediu que o Congresso aprove legislação permitindo que suspeitos de terrorismo sejam julgados por tribunais militares especiais. Entre eles está Khalid Sheikh Mohammed, apontado como o mentor dos atentados do 11 de Setembro.

Para Bush é fundamental não dar a sensação de que se trata de uma rendição na sua guerra santa contra o terror, mas de que ele está se adaptando à situação.

Existem críticas internacionais, fricções com aliados, manchas na imagem americana, resistência doméstica e o repúdio direto da Corte Suprema a alguns dos seus métodos.

Em junho, por 5 a 3, os juízes rechaçaram as comissões militares estabelecidas pelo governo para julgar os detidos em Guantánamo, concluindo que não tinham sido autorizadas pelo Congresso e violavam padrões da justiça militar americana e das convenções de Genebra.

"Procedimentos alternativos"

Cooperação, portanto, é necessária. Isto, porém, não impede um tom de desafio de Bush. Na quarta-feira, ao fazer os anúncios, ele disse que o contínuo programa secreto da CIA é "crucial" na chamada guerra contra o terror.

O presidente insistiu que os americanos não praticam tortura, mas salientou com detalhes sem precedentes que "procedimentos alternativos" salvaram vidas e impediram atentados.

O governo Bush quer manter na medida do possível prerrogativas do Poder Executivo na chamada guerra contra o terror, mas o clima no país mudou cinco anos após os atentados do 11 de Setembro. Não existe uma formação cerrada de apoio aos métodos de luta. Mesmo dentro do Partido Republicano há resistência.

Os influentes senadores John McCain e Lindsey Graham têm uma proposta para o julgamento de suspeitos de terrorismo que confere mais direitos do que nos planos da Casa Branca, com destaque ao acesso às evidências.

E a oposição democrata, a dois meses das eleições no Congresso, não irá ceder passivamente o cenário para o presidente. A linha de ataque é uma postura vigorosa no combate ao terror, mas questionando alguns métodos governamentais.

Acuado, o presidente também está partindo para o ataque. Ele está em meio a uma saraivada de discursos que tem segurança nacional como pedra-de-toque .

O plano é revigorar o papel de Bush como o grande protetor da nação, em particular nas celebrações do quinto aniversário dos atentados do 11 de Setembro, e convencer o eleitorado que o Partido Republicano está mais preparado do que a oposição democrata para enfrentar o desafio terrorista.

E trazer à luz a figura aterradora de Khalid Sheikh Mohammed neste momento serve para ofuscar a guerra no Iraque, um crescente foco de impopularidade de Bush e das legiões republicanas.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre George W. Bush
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página