Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
02/10/2006 - 11h00

Eleição mostra que o "rouba, mas faz" ainda é aceito, diz ONG

ROGERIO WASSERMANN
da BBC Brasil, em Londres

O escândalo do dossiê pode ter prejudicado a votação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas os resultados gerais das eleições de domingo indicam que a mentalidade do "rouba, mas faz" ainda tem uma forte aceitação no eleitorado brasileiro.

A avaliação foi feita por Silke Pfeiffer, diretora regional das Américas da Transparência Internacional, organização que se dedica ao combate à corrupção.

"Se olharmos o comportamento dos eleitores em relação a deputados, senadores, etc., não podemos dizer que os eleitores puniram candidatos com acusações de corrupção", diz ela.

"Quase 20% de todos os candidatos a deputados federais eram acusados de corrupção, o que é um número dramático", afirma. "Esperávamos que os eleitores brasileiros punissem sistematicamente esse tipo de comportamento, mas isso não tem acontecido."

Pfeiffer cita como exemplos os casos do ex-presidente Fernando Collor de Mello, afastado da Presidência em 1992 após um escândalo de corrupção e que foi eleito no domingo ao Senado por Alagoas, e do ex-governador Paulo Maluf, que esteve preso no ano passado acusado de lavagem de dinheiro e corrupção e que foi eleito deputado federal com a maior votação individual do país.

"Acho que os eleitores estão cientes dos problemas de corrupção, mas há uma mentalidade muito perigosa de 'rouba mas faz'. Isso é realmente muito perigoso e precisa ser combatido", avalia Pfeiffer.

"Rouba, mas faz miséria"

Para ela, é necessário "mostrar aos eleitores que a corrupção não é um mal necessário e que pode ser combatida". "Temos que mostrar que 'rouba, mas faz' significa na verdade 'rouba, mas faz miséria'", diz.

Para a representante da Transparência, o combate à corrupção é essencial para permitir o combate aos demais problemas que países como o Brasil enfrentam, como a pobreza, a violência e a geração de empregos.

"São bilhões de dólares de recursos perdidos. O governo precisa ser pressionado para entender que tem um claro interesse em combater a corrupção se quiser resolver as outras questões", afirma Pfeiffer.

Pressão

Para ela, a pressão dos eleitores é importante para mudar a situação, mas também é possível haver pressão externa. "Várias pesquisas internacionais já mostraram que a corrupção afasta investimentos", comenta ela.

Além disso, avalia Pfeiffer, os organismos internacionais de financiamento deveriam favorecer os atores sociais comprometidos com o combate à corrupção.

"As agências de financiamento deveriam ficar mais atentas a quem emprestam o dinheiro e ter meios de controle. Há muitos meios para moldar a ajuda internacional e recompensar aqueles que realmente têm interesse em mudar alguma coisa. Desta forma, pode-se gerar incentivos para mudanças", afirma.

Para ela, o atual governo não adotou medidas para punir e prevenir a corrupção. "O combate à corrupção é sempre um grande slogan em campanhas eleitorais e serviu em campanhas eleitorais prévias de Lula", diz ela. "Ele até mesmo assinou comprometimentos muito concretos com a Transparência Brasil (seção brasileira da Transparência Internacional), mas implementou realmente muito poucos deles", afirma.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página