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16/06/2009 - 10h07

Obama deve optar por cautela sobre situação no Irã, dizem analistas

da BBC Brasil

Os Estados Unidos devem optar pela cautela ao se posicionar sobre a situação no Irã e os protestos e denúncias contra a eleição que teria concedido um segundo mandato ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, a despeito de amplas denúncias de fraude por parte da oposição.

Isso porque a situação no país ainda é incerta e qualquer posição americana poderia ser usada pelo lado vencedor contra a oposição. Essa é a opinião de analistas ouvidos pela BBC Brasil.

Por enquanto, o governo americano foi pouco além de declarações como a feita pelo presidente Barack Obama, de que ele está "profundamente preocupado" com as cenas de violência no Irã, que se seguiram aos protestos contra o resultado da eleição presidencial da última sexta-feira.

"A única opção para a administração americana no curto prazo é esperar e ver, porque a situação permanece fluida e Washington não teria nada a ganhar caso se antecipe aos eventos que estão acontecendo no Irã", afirmou Suzanne Maloney, uma analista do Saban Center for Middle East Policy, do Brookings Institution.

"Os manifestantes pró-Mousavi [o candidato supostamente derrotado de oposição Mir Hossein Mousavi] não gostariam que os EUA tentassem abraçar o seu movimento, porque ele tem raízes locais. Ainda existe no Irã um legado da intervenção americana dos anos 50, e creio que ninguém na administração Obama vá querer se meter em um conflito interno no Irã", afirma Maloney.

A alusão da analista ao suposto ato intervencionista americano na década de 50 se refere ao apoio oferecido a Reza Pahlevi, que deu um golpe no qual se instaurou no poder, com o título de xá, derrubando o então primeiro-ministro Mohammad Mossadeq. Pahlevi contou com apoio americano até ser deposto, em 1979, pela Revolução Islâmica.

Ali Nader, um especialista em Irã da Rand Corporation, avalia que a Revolução Islâmica iraniana nunca foi plenamente legítima, "mas isso se tornou ainda mais explícito com o resultado da eleição". Ainda assim, no entanto, Nader acrescenta que há pouco que os Estados Unidos possam ou devam fazer por ora.

"Os EUA precisam reconhecer que [a eleição] é um assunto interno iraniano. E os EUA precisam proceder com profunda cautela, a fim de que não sejam vistos como tomando uma ação intervencionista".

Situação indefinida

Para o iraniano-americano Mehdi Kahlaji, do Washington Institute for Near East Policy, a prudência americana é necessária também porque a situação no Irã permanece muito indefinida.

"Ainda é muito cedo para que a administração tome qualquer posição sobre a situação iraniana, porque não sabemos onde a coisa irá parar. É do interesse americano permanecer cauteloso ao menos até os próximos dias e assim veremos se o povo iraniano conseguirá mudar o resultado da eleição, irá aceitar o resultado oficial ou passar para uma outra etapa de ação, que poderia levar a alguma forma de revolução", afirma.

Alguns dos analistas acreditam que, se passarem os protestos e as contestações da oposição e Mahmoud Ahmadinejad vierem a se firmar como o líder de fato do Irã, os EUA deveriam dar continuidade à intenção de negociar com os iranianos, sobre as ambições do país em supostamente desenvolver armas nucleares.

"Se ele [Ahmadinejad], for reconhecido como líder do Irã, o que acontecerá é que teremos no poder as mesmas pessoas que estiveram no poder nos últimos quatro anos. É uma realidade com a qual os EUA e a comunidade internacional terão de lidar", diz Ali Nader.

"Por mais difícil que julguemos lidar com Ahmadinejad, se ele garantir um segundo mandato nessas condições, ainda assim é apropriado negociar com o Irã em relação a alguns aspectos de seu programa nuclear, porque não há nenhuma outra outra opção. Nós já negociamos com todo o tipo de regimes repugnantes. Não defendo que devemos recompensar Ahmadinejad com diplomacia, mas não há outra forma de fazer nossos interesses avançarem do que pela vida diplomática", comenta Suzanne Maloney.

Suposta fraude

Já Mehdi Kahlaji, acredita que as acusações de fraude eleitoral contra o regime iraniano exigem que os EUA recuem em sua intenção de negociar com o governo do país.

"Se este governo for bem sucedido em sua tentativa de consolidar o poder, o compromisso em negociar precisa mudar. Não se espera que os EUA negociem com um governo militar autocrático que busca uma agenda radical", diz Kahlaji.

Apesar de defender a postura americana prudente, do momento, o analista acredita que, se os desdobramentos dos protestos no Irã levarem à uma convulsão popular, os EUA deveriam apoiar uma revolução pró-democrática, a fim de não repetir erros anteriores.

"No século 20, tivemos duas experiências significativas. A primeira nos anos 50, quando o xá deu um golpe contra um governo democrático, com apoio americano. Isso ainda é uma ferida na consciência iraniana. Outra foi em 1979, quando o governo [do presidente Jimmy Carter] manteve, até o final, o apoio ao xá. Se o governo militar se firmar e os EUA não se posicionarem, isso trará de volta memórias dos anos 50. Se houver uma revolução, e os americanos se omitirem, isso trará a lembrança das políticas fracassadas de Carter."

Na visão de Khalaji, "os EUA precisam aprender com os erros passados". Mas, acrescenta, "infelizmente, já dizia Hegel, a história nos ensina que ninguém aprende com a história".

 

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