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06/12/2006 - 06h45

Força de Chávez ajuda, mas preocupa sócios do Brasil no Mercosul

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Buenos Aires

A reeleição do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, teve apoio dos sócios do Brasil no Mercosul que têm recebido promessas ou ajuda financeira direta do líder venezuelano, mas nem todos são unânimes na avaliação do papel que Chávez desempenha ou pode vir a desempenhar no bloco.

Para o analista uruguaio Gerardo Caetano, coordenador do Observatótio Político da Universidade da República, de Montevidéu, com a renovação do mandato de Chávez até 2013, a Venezuela pode “contrabalançar” o bloco que tem dois sócios maiores – Brasil e Argentina – e dois menores – Uruguai e Paraguai - que se queixam da falta de benefícios desta união.

Segundo diferentes analistas, a compra venezuelana de títulos públicos argentinos, quando o país começava a sair da pior crise da sua história, foi decisiva para equilibrar as finanças da Argentina.

Com o Uruguai, Chávez anunciou um pacote de intenções com vinte e uma medidas, incluindo cooperação entre as petroleiras PDVSA e Ancap. O presidente venezuelano também assinou acordos bilaterais com o Paraguai, ao qual prometeu fornecimento de petróleo com pagamento facilitado, com taxas de juros anuais a 2% e prazo de pagamento de 15 anos.

Entre empresários argentinos e uruguaios, de diferentes setores, existe a expectativa de que as exportações para a Venezuela vão continuar crescendo com esta união. O país de Chávez importa quase tudo que consome – petróleo é a grande exceção.

Preocupações

Mas o estilo de Chávez preocupa analistas e autoridades nos governos sócios do Brasil nesta união. “O problema é que Chávez acredita no personalismo e na ideologia até na hora de fazer esta integração. Os outros sócios pensam o bloco como política de estado”, disse Caetano.

Teme-se que no futuro a atuação de Chávez poderá, no final, atrapalhar mais do que ajudar, ampliando rixas atuais, inclusive com o Brasil.

Entre as diferenças e preocupações dentro do Mercosul está a política externa de Chávez, com suas críticas a Israel, elogios ao grupo militante xiita Hezbollah, ao Irã e a Coréia do Norte. Há cerca de dez dias, o embaixador venezuelano foi obrigado a deixar a Argentina, acusado de se meter em questões internas do país e defender o Irã, num momento em que a Justiça local acusa iranianos de participação em um atentado em Buenos Aires em 94.

A polêmica não parece ter afetado a relação do governo argentino com o governo venezuelano. O presidente argentino Néstor Kirchner ligou para Chávez para felicitá-lo pela vitória nas urnas e antes da eleição tinha desejado sorte, durante discurso, "ao amigo venezuelano".

Num comunicado à imprensa, logo após o resultado, Kirchner disse: “Com o afeto e a solidariedade que unem nossos povos, não duvido que continuaremos trabalhando juntos para fortalecer e ampliar nossos vínculos bilaterais existentes”. Menos eufórico, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, também felicitou o colega venezuelano.

Os gestos de Chávez com os sócios menores do Mercosul vêm gerando desconfiança entre negociadores do bloco pelo menos desde abril passado. Na época, ele esteve em Assunção, reunido com os colegas do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, do Uruguai, e da Bolívia, Evo Morales – cujo país é associado ao bloco.

Brasil e Argentina ficaram de fora do encontro. Mas depois da reeleição, autoridades do Mercosul acreditam que sua presença “fortalecerá”
esta união. O triunfo de Chávez, entende-se, consolida seu poder na Venezuela e sua política na região, como afirma-se nos bastidores dos governos do Paraguai e do Uruguai.

Na aparência os governos congratularam Chávez, mas para alguns analistas, mas não estão menos preocupados por isso. Ao mesmo tempo, como destacou o professor argentino Juan Gabriel Tokatlian, diretor de ciências políticas e relações internacionais da Universidade de San Andrés, em Buenos Aires, o dinheiro enviado pelo líder venezuelano não muda a geopolítica do Mercosul.

“A definição sobre o futuro do bloco continuará sendo decidida entre Brasil e Argentina, independente da Venezuela”, constata. Tokatlian lembra que os problemas do Mercosul já existiam antes da chegada do país caribenho à esta integração e que Chávez também já vinha enviando ou prometendo ajuda desde antes de aderir ao bloco.
 

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