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26/03/2007
-
09h30
da BBC
Mais de 1 milhão de mulheres trabalham como escravas sexuais para redes internacionais de tráfico de pessoas, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Vítimas de um negócio que fatura US$ 32 bilhões por ano em todo o mundo, muitas são atraídas com promessas de casamento e melhores oportunidades de vida, e acabam nas mãos de aliciadores em cativeiros na Ásia e na Europa onde são forçadas a se prostituir.
Na ponta do esquema, estão aliciadores, na maioria das vezes, da própria comunidade em que elas vivem. No Brasil, um "olheiro" ganha cerca R$ 600 por "escrava", segundo os cálculos dos serviços de assistência a vítimas.
Não há estimativas sobre o número de brasileiras escravizadas no exterior. Mas só em Portugal, autoridades estimam que cerca de 4.000 sejam vítimas de redes de prostituição. As rotas de tráfico do Brasil levam, principalmente, à Espanha, mas também à Holanda, Itália, Suíça, Alemanha e França.
A experiência da pernambucana Elaine* incluiu os três últimos países em menos de vinte dias: "Fui a primeira mulher a ser registrada em Pernambuco como 'vendida'", disse à BBC Brasil, sem demonstrar orgulho em sua entonação.
"Molto bella"
Convencida por uma mulher de sua própria comunidade, um bairro modesto nos arredores do Recife, a se 'casar' com um italiano que vivia na Alemanha, ela só se deu conta de que era vítima do tráfico quando foi obrigada a ter relações sexuais com o "marido" no trajeto de carro entre o aeroporto e seu cativeiro.
Elaine foi colocada dentro de um quarto trancado por fora e de janelas vedadas. Conta que foi "oferecida" a clientes alemães e turcos.
A fuga de Elaine ocorreu durante uma briga do casal que a traficou.
Com a roupa do corpo, ela conseguiu chegar a uma estação de trem. Mais magra, foi levada ao hospital e diagnosticada com hepatite.
"Foram 15 dias que pareceram quinze anos", diz.
Indústria bilionária
O caso de Elaine é um entre diversos sob supervisão de Ricardo Lins, chefe da unidade de combate ao tráfico de pessoas na Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.
Pelos Estados do Norte e Nordeste do país passam 60% das cerca de 240 rotas conhecidas de tráfico que utilizam o Brasil como ponto de origem ou passagem.
Mas metade dos US$ 32 bilhões faturados pelo tráfico internacional de pessoas se dá nos países industrializados.
O escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) estima que o lucro das redes criminosas com o trabalho de cada ser humano transportado ilegalmente de um país para outro varie entre US$ 13 mil e US$ 30 mil por ano (entre R$ 26.780 e R$ 61.800, aproximadamente).
Em 2000, os países da ONU assinaram em Palermo, na Itália, um protocolo que em linhas gerais define o tráfico de pessoas como o "recrutamento" ou "transporte forçado" de pessoas, em que uma tem "autoridade sobre outra para fins de exploração".
O entendimento marcou o início de uma maior cooperação internacional, já que permite que casos de tráfico para exploração sexual não sejam tratados simplesmente como de imigração ilegal.
Em muitos casos até hoje, a vítima de tráfico é punida duas vezes, porque é logo deportada como imigrante ilegal.
Organizações humanitárias, como a britânica Refugee Women, militam para que mulheres provenientes de países "fornecedores", como o Brasil, tenham o direito de permanecer no país até que sua volta já não seja considerada mais um risco.
Em um plano de combate ao tráfico de pessoas lançado na sexta-feira, 23, o Ministério do Interior britânico reconhece que "o braço repressivo não é efetivo sem a proteção e a assistência às vítimas".
Apenas no Reino Unido, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) calcula que 5.000 crianças ou adolescentes --principalmente do Leste Europeu-- trabalhem como escravas do sexo, de acordo com um estudo da Fundação Joseph Rowntree, de York.
"Muitos criminosos preferem ser traficantes de pessoas a traficante de drogas", diz Lins. "É muito mais fácil ser traficante de pessoas e ficar impune."
Especial
Leia o que já foi publicado sobre tráfico de mulheres
Leia o que já foi publicado sobre o OIT
Exploração sexual escraviza 1 milhão de mulheres, diz OIT
PABLO UCHOA, em Londresda BBC
Mais de 1 milhão de mulheres trabalham como escravas sexuais para redes internacionais de tráfico de pessoas, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Vítimas de um negócio que fatura US$ 32 bilhões por ano em todo o mundo, muitas são atraídas com promessas de casamento e melhores oportunidades de vida, e acabam nas mãos de aliciadores em cativeiros na Ásia e na Europa onde são forçadas a se prostituir.
Na ponta do esquema, estão aliciadores, na maioria das vezes, da própria comunidade em que elas vivem. No Brasil, um "olheiro" ganha cerca R$ 600 por "escrava", segundo os cálculos dos serviços de assistência a vítimas.
Não há estimativas sobre o número de brasileiras escravizadas no exterior. Mas só em Portugal, autoridades estimam que cerca de 4.000 sejam vítimas de redes de prostituição. As rotas de tráfico do Brasil levam, principalmente, à Espanha, mas também à Holanda, Itália, Suíça, Alemanha e França.
A experiência da pernambucana Elaine* incluiu os três últimos países em menos de vinte dias: "Fui a primeira mulher a ser registrada em Pernambuco como 'vendida'", disse à BBC Brasil, sem demonstrar orgulho em sua entonação.
"Molto bella"
Convencida por uma mulher de sua própria comunidade, um bairro modesto nos arredores do Recife, a se 'casar' com um italiano que vivia na Alemanha, ela só se deu conta de que era vítima do tráfico quando foi obrigada a ter relações sexuais com o "marido" no trajeto de carro entre o aeroporto e seu cativeiro.
Elaine foi colocada dentro de um quarto trancado por fora e de janelas vedadas. Conta que foi "oferecida" a clientes alemães e turcos.
A fuga de Elaine ocorreu durante uma briga do casal que a traficou.
Com a roupa do corpo, ela conseguiu chegar a uma estação de trem. Mais magra, foi levada ao hospital e diagnosticada com hepatite.
"Foram 15 dias que pareceram quinze anos", diz.
Indústria bilionária
O caso de Elaine é um entre diversos sob supervisão de Ricardo Lins, chefe da unidade de combate ao tráfico de pessoas na Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.
Pelos Estados do Norte e Nordeste do país passam 60% das cerca de 240 rotas conhecidas de tráfico que utilizam o Brasil como ponto de origem ou passagem.
Mas metade dos US$ 32 bilhões faturados pelo tráfico internacional de pessoas se dá nos países industrializados.
O escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) estima que o lucro das redes criminosas com o trabalho de cada ser humano transportado ilegalmente de um país para outro varie entre US$ 13 mil e US$ 30 mil por ano (entre R$ 26.780 e R$ 61.800, aproximadamente).
Em 2000, os países da ONU assinaram em Palermo, na Itália, um protocolo que em linhas gerais define o tráfico de pessoas como o "recrutamento" ou "transporte forçado" de pessoas, em que uma tem "autoridade sobre outra para fins de exploração".
O entendimento marcou o início de uma maior cooperação internacional, já que permite que casos de tráfico para exploração sexual não sejam tratados simplesmente como de imigração ilegal.
Em muitos casos até hoje, a vítima de tráfico é punida duas vezes, porque é logo deportada como imigrante ilegal.
Organizações humanitárias, como a britânica Refugee Women, militam para que mulheres provenientes de países "fornecedores", como o Brasil, tenham o direito de permanecer no país até que sua volta já não seja considerada mais um risco.
Em um plano de combate ao tráfico de pessoas lançado na sexta-feira, 23, o Ministério do Interior britânico reconhece que "o braço repressivo não é efetivo sem a proteção e a assistência às vítimas".
Apenas no Reino Unido, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) calcula que 5.000 crianças ou adolescentes --principalmente do Leste Europeu-- trabalhem como escravas do sexo, de acordo com um estudo da Fundação Joseph Rowntree, de York.
"Muitos criminosos preferem ser traficantes de pessoas a traficante de drogas", diz Lins. "É muito mais fácil ser traficante de pessoas e ficar impune."
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