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Comeu, contou e emagreceu
LUCAS MENDES
da BBC Brasil
Durante mais de cinco anos, Frank Bruni foi o comedor mais importante dos Estados Unidos. Comia e contava tudo no "New York Times". Agora ele conta mais no livro "Born Round" sobre uma vida de luta contra a gula, o peso e seus anos como crítico de restaurantes do "New York Times".
A gula regurgitou pela primeira vez aos 18 meses. O relato é da mãe que deu um hambúrguer gigante para o filho rechonchudo sentado na cadeira do bebê. Ele matou a carne picada e disse: "Quero mais".
A mãe não acreditou, mas, treinada pelo marido e sogra italianos, não resistiu ao prazer de dar mais comida.
O bebê traçou o segundo hambúrguer com voracidade vampiresca diante da mãe de olhos arregalados.
E pediu o terceiro. A mulher fincou o pé. "Não!"
Achou que o filho poderia ter um troço. E teve. Ele botou a boca no mundo num piti tão monumental que mudou de cor e vomitou os dois hambúrgueres.
Agora que o filho estava de estômago vazio, a mãe achou que ele precisava ser nutrido. Ele aprendeu o truque. Com aquele apetite, quando queria mais, era só dar um chilique e vomitar. Bulímico, antes dos 2 anos.
Frank Bruni reconstrói a vida pela boca. Lembra de todas as barras de chocolate e cachorros-quentes nos jogos de beisebol. Aos 6 anos descobriu chocolate quente com baunilha, aos 7, o quiche lorraine, aos 8, a costela de carneiro. Cresceu e embolou. Universitário brilhante e solitário, sonambulamente devorava várias galinhas assadas madrugada adentro. Chegou aos 125 quilos.
Sua maior aflição não era a saúde. Era a aparência. Descobriu cedo que era gay e que os gordos não conseguem namorados bonitos e malhados. Só outros gordos. Frank era fino no gosto.
A homossexualidade do filho nunca incomodou a mãe. O único problema foi contar à sogra-avó italiana.
Superado o obstáculo cultural, ela ajudava o filho a procurar namorados. Importante era a felicidade de Frank.
Juntos passaram por todos tipos de dietas. Fracassaram e se tornaram grandes amigos. Frank Bruni ia ao México comprar anfetaminas e outras mandingas mexicanas, tomava remédios para provocar diarreias. Mas não se livrava dos quilos.
Conseguiu controlar o peso quando se tornou campeão de natação, mas embarrigou de novo quando foi cobrir a Casa Branca de George Bush para o "New York Times". Vivia em viagens e comia sem horário, peso, nem medidas. Um lixeiro gastronômico.
Quando assumiu a chefia do bureau do jornal em Roma, aprendeu a comer porções menores --este é o segredo-- como os europeus, emagreceu e nunca mais engordou. Nem durante os cinco anos como crítico do Times jantando em restaurantes sete noites por semana, às vezes oito, com um orçamento maior do que o salário dele.
O caderno de restaurantes de Nova York e culinária da quarta-feira no "Times" é um dos mais lidos e lucrativos do jornal. Uma crítica mata, revela ou ressuscita um restaurante, um vinho, uma tendência ou um destino gastronômico.
As dicas de restaurantes não são o prato principal do caderno. Hoje não temos um dia sem notícia sobre uma nova pesquisa sobre dietas e exercícios.
Na última semana, descobrimos que fazer ginástica é bom para o corpo, mas não emagrece. Costuma engordar. A única forma de emagrecer é comer menos e comer bem, mas ninguém sabe o que é comer bem.
Quase todos sinais apontam para os alimentos orgânicos mas, para os americanos, custam quase US$ 1 mil a mais por ano. Para os ricos, mixaria, para os pobres, uma fortuna.
Na sua matéria de despedida do "New York Times" --ele vai continuar no jornal como repórter da revista para todas editorias, de gastronomia a política-- Frank Bruni respondeu as perguntas mais frequentes e absurdas que recebe dos leitores.
No nosso programa, Manhattan Connection, falamos mais sobre política, economia, cultura e Nova York mas nosso maior volume de e-mails sobre onde comer, dormir e se divertir em Nova York.
A lista do Frank Bruni é longa.
E aqui vai um resumo. Melhor peixe cru? Masa, mas a US$ 400, só para começar ele não vai lá há anos (nem eu, mas não esqueço a minha única experiência --como convidado, e bendito seja o anfitrião). A alternativa é o Sushi Yasuda (US$ 100 por cabeça) e o barato é o 15 East.
Carnívoro? Porter House New York, Peter Luger, Minetta Tavern, Keens Steakhouse (o mouton é a pedida).
Barganhas? Degustation, Soto, Academia di Vino e Cesca.
A lista é longa e não cabe nesta coluna, mas o livro do gordo/magro Frank Bruni é curto, grosso e delicioso. Hoje ele pesa 80 quilos e rasga corações gays.
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