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02/05/2007 - 13h07

Análise: Impasse político ressalta crise de identidade turca

Caio Blinder
da BBC, de Nova York

A crise política na Turquia ressalta a crise de identidade deste país que é uma ponte entre o Ocidente e o Oriente.

O establishment secular do país resiste a avanços (democráticos) do partido governista que é assumidamente muçulmano.

Em meio a veleidades golpistas dos militares --que se consideram guardiões do Estado secular--, a Corte Suprema turca impediu esta semana que o candidato do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, o ministro das Relações Exteriores, Abdullah Gul, chegasse à presidência.

É um cargo que foi ocupado pela primeira vez por Mustafa Kemal Ataturk, o pai da república secular turca, criada com o fim do Império Otomano em 1923.

O Partido da Justiça e do Desenvolvimento havia calculado que a candidatura presidencial de Gul seria mais aceitável para o establishment secular (e também para o mundo ocidental) do que a do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.

Moderado

Gul é a face mais moderada do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, no poder há cinco anos. Gul está à frente da ofensiva para que a Turquia seja aceita na União Européia e mais do que ninguém no seu partido quer estabelecer a ponte entre islamismo e modernidade.

Com o bloqueio da Corte Surprema, Erdogan agora quer antecipar as eleições gerais para junho ou julho e assim acelerar os esforços para refazer a natureza da democracia turca.

Entre as propostas de mudanças constitucionais de Erdogan estão eleições direitas para presidente, que hoje estão nas mãos do Parlamento.

Essencialmente, estas eleições antecipadas funcionariam como um referendo sobre o papel da religião no futuro político da Turquia.

Tudo parece muito bizantino, mas o que está sendo posto à prova é a capacidade de um país ser simultaneamente muçulmano, moderado, próspero, secular e democrático.

Aliado

Didaticamente, na primeira página da edição desta quarta-feira, o jornal "The New York Times" explicou o que está em jogo para os Estados Unidos e os países europeus, que relutam em aceitar a Turquia na União Européia.

"A Turquia é um importante aliado americano, e a sua estabilidade é vista como crucial em uma região problemática. O país tem fronteiras com o Irã, Iraque e Síria. É também membro da Otan e tem boas relações com Israel".

Setores mais conservadores nos Estados Unidos sempre criticaram a relutância européia para acolher a Turquia, mesmo quando um partido definido como neoislâmico chegou ao poder.

Há poucas dúvidas que o primeiro-ministro Erdogan subestimou as inquietações dos setores seculares, mas em editorial o jornal conservador "The Wall Street Journal" lembrou que ele "tem credenciais democráticas mais fortes e mais legitimidade do que os secularistas" que cortejam os militares.

Ameaça

O impasse político na Turquia ameaça os cada vez mais precários esforços do governo Bush para promover democracia no mundo islâmico.

A Casa Branca tem cicatrizado as feridas abertas na Turquia após a invasão do Iraque em 2003 e conta o país como um aliado na luta contra o extremismo islâmico.

As autoridades de Washington preferem manter uma postura discreta na crise turca e fontes do Departamento do Estado sinalizam para a imprensa que não convém aos Estados Unidos que a Turquia enfraqueça tanto a democracia como o caráter secular do Estado.

As autoridades em Washington lembram que tais tendências iriam prejudicar os esforços turcos para se juntar à União Européia.

O desafio bizantino é superar os obstáculos na construção da ponte entre modernidade e o islamismo, mantendo os pilares democráticos.

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