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22/05/2007 - 22h20

Análise: Pedido de extradição gera tensão entre Reino Unido e Rússia

PAUL REYNOLDS
da BBC

As relações entre Reino Unido e Rússia podem ficar tensas nos próximos dias, depois do pedido britânico de extradição do ex-agente da KGB Andrei Lugovoy, acusado de assassinar Alexander Litvinenko.

No entanto, o governo britânico decidiu que a investigação criminal deve prevalecer sobre qualquer dificuldade diplomática e está preparado para um período delicado nas relações com Moscou enquanto o pedido de extradição é processado.

o Reino Unido vai defender o que considera um caso típico da lei sendo aplicada em um processo criminoso. Com este argumento, o governo espera que a Rússia fique na defensiva.

"Isto continua sendo um caso legal", disse uma autoridade britânica do ministério das Relações Exteriores.

O pedido será feito dentro da Convenção Européia de Extradição de 1957. Será um pedido de governo para governo. No entanto, a Rússia tem o direito, de acordo com o artigo 6º, de se recusar a extraditar um de seus cidadãos. Se isso acontecer, o processo deve passar para autoridades locais.

O governo tem negado firmemente uma reportagem do jornal britânico "News of the World" afirmando que a ministra das Relações Exteriores, Margaret Beckett, estaria pressionando a Promotoria do Reino Unido a não levar o caso adiante.

A notícia era uma "bobagem completa", disse um porta-voz do ministério das Relações Exteriores. O diretor da Promotoria, Sir Ken Macdonald, disse que era "completamente falsa" a notícia de que houve pressão do ministério.

Revide

De acordo com Martin Sixsmith, ex-correspondente da BBC em Moscou e autor do livro O Arquivo Litvinenko, o pedido britânico de extradição não será atendido.

"A Rússia vai dizer não. Não há um tratado de extradição, logo qualquer extradição precisa ser combinada entre os governos. A Rússia deixou claro que não vai atender nenhuma exigência", disse Sixsmith.

"A Rússia alega que se as provas forem muito contundentes, o país poderá julgar o caso em seus próprios tribunais. O governo já abriu um caso não só sobre o assassinato de Alexander Litvinenko, mas também sobre a tentativa de assassinato de Dmitri Kovtun (outro ex-agente russo que se encontrou com Litvinenko em Londres), retratando Kovtun como vítima."

"No entanto, a investigação russa não está indo a lugar nenhum e o país está usando isso como desculpa para viajar o Reino Unido e entrevistar os russos exilados que moram lá."

"Os russos visitaram Boris Berezovsky [um oligarca exilado que fez sua fortuna na era Boris Ieltsin], que me disse que eles nem perguntaram nada sobre Litvinenko, mas sim sobre suas contas bancárias. Isso mostra onde está o interesse deles. Akhmed Zakayev [um exilado tchetcheno] se recusou a recebê-los. Todo o caso está em impasse, mas ao menos a Promotoria britânica foi corajosa o suficiente para ir adiante com o caso."

"Você precisa ver isso tudo como parte de uma guerra do presidente Vladimir Putin e seus apoiadores contra a oposição."

"Especificamente, isso é provavelmente um revide do Serviço de Segurança da Rússia contra Litvinenko, um ex-agente que denunciou a corrupção do Serviço em 1998, apesar de eu acreditar que esse caso só tenha subido até o nível dos coronéis, sem chegar à cúpula."

"O polônio [usado para envenenar Litvinenko] provavelmente veio de um laboratório do governo em Dubna, não muito longe de Moscou. A prova neste caso será predominantemente circunstancial, baseada no rastro de polônio, especialmente em lugares onde Litvinenko não foi."

Pedido russo

Os russos não só abriram a sua própria investigação como também pediram a extradição de Berezovsky, que havia declarado ao jornal "The Guardian": "Nós precisamos usar a força para mudar este regime. Não é possível mudá-lo através de meios democráticos. Não pode haver mudança sem força, pressão."

O argumento russo é que o Reino Unido está abrigando pessoas que pregam a violência e que o pedido de Moscou tem méritos suficientes para ser aceito.

o Reino Unido recusou-se a extraditar Berezovsky, que tem status de refugiado no país. No entanto, avisou-o para não se envolver em nenhuma atividade que possa prejudicar seu status. Além disso, o Ministério das Relações Exteriores está investigando as atividades do empresário. Ele já havia recebido um aviso antes.

Toda esta série de incidentes também precisa ser vista dentro do contexto de relações tensas entre a Rússia e os países do ocidente em geral.

O presidente Putin recentemente deu a entender que a política externa americana pode ser comparada àquela da época nazista.

Na semana passada, houve uma tensa cúpula entre União Européia e Rússia, na qual a chanceler alemã, Angela Merkel, reclamou do fato de manifestantes terem sido impedidos de viajar ao local do encontro (na Rússia).

A Rússia também reclama dos planos americanos de estabelecer um sistema antimísseis na Polônia e na República Tcheca, mesmo com autoridades americanas afirmando que a defesa russa não será afetada.

Se a Rússia quisesse dificultar ainda mais a vida dos governos ocidentais, ela bloquearia as sanções contra o Irã devido às atividades nucleares de Teerã. Também poderia se manifestar contra a resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a independência limitada para o Kosovo. Mas a Rússia tem sua própria agenda nestas áreas.

O efeito principal desta nova disputa provavelmente será bilateral, com as relações com o Reino Unido entrando em um período de esfriamento.

 

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