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Hugo Chávez, um herói de nossos dias
IVAN LESSA
colunista da BBC Brasil
Impossível não deixar de simpatizar com o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Pouco importa a posição política. Dele e de quem dele fica sabendo.
O homem --o homenzarrão, a bem dizer-- chegou a dar nos nervos do Rei Juan Carlos, de Espanha, uma figura reconhecidamente educada e paciente. Em uma dessas reuniões entre líderes mundiais e chefes de Estado, que nunca resultam em nada de positivo, ficou ao menos para a posteridade a irritação do rei espanhol com a infindável peroração de Chávez, ao ponto de, diante de câmaras de televisão de todas as partes do globo terrestre, ter exclamado em alto, bom som e castelhano castiço a frase que, durante uns tempos, chegou até a virar dizeres em camisetas populares, "Por qué no te callas?" Chávez calou. Algum tempo depois. Rei e presidente se abraçaram e riram muito do sucedido. Para algo serviu a tal reunião.
Chávez cria caso e os mais diferentes amigos. Para não falar em inimigos. Outro dia mesmo vi um longo documentário sobre o Maradona em que este se abraça com Chávez, trocam beijinhos e, felizmente, as coisas pararam por aí.
Chávez e Lula nem preciso dizer nada. Os brasileiros sabem muito mais dos casos. Pena que não me contem.
Agora, lá está de novo, nos noticiários, o bom, por assim dizer, Hugo Chávez. Cultiva a controvérsia como Maradona cultivava o controle da redonda, para citar a figura de algumas linhas atrás. Chávez veio de público --ele existe de, para e com o público-- defender seu conterrâneo o terrorista Carlos, o Chacal, ou Ilich Ramirez Sánchez, para usar seu nome de paz, ora servindo pena de prisão perpétua na França por liderar ou participar de uma série de atentados à bomba, assassinatos e sequestros.
O Chacal, nos pouco saudosos anos 70 e 80, acabou se juntando à Organização de Libertação Palestina e à Facção do Exército Vermelho da Alemanha na época Ocidental. Acabou sequestrado em Khartoum, em 1994, e levado para Paris, onde cumpre sentença de prisão perpétua principalmente pelo assassinato em 1975 de dois secretas franceses e um informante libanês. Convenhamos, boa bisca Carlos não era. Ninguém é apelidado de "O Chacal" em vão.
Ora, pois, pois. Chávez acaba de dizer, no mesmo tom de voz que feriu os ouvidos do soberano espanhol, que Carlos (por que não o chamou de Carlito?) era um indivíduo dedicado ao combate em nome da liberdade. Além do mais, considerou uma injustiça sua condenação por assassinato. Disse Chávez:
"Eu o defendo. Pouco me importa o que digam na Europa".
Sua excelência não parou aí.
Entusiasmado distribuiu loas e elogios como quem distribui medalhas e condecorações logo ali pelo resto da América Latina. Pegando pressão, Chávez seguiu em frente. Louvou, sem ser por ordem alfabética, figuras controvertidas, para dizer o mínimo. Foi em frente com o presidente Robert Mugabe, do Zimbábue, e, jogando mais lenha na fogueira que já começava a queimar suas sobrancelhas, citou esse que ainda há pouco esteve entre nós, causando movimentos de ruas e praças, contra e a favor, o ora muito em voga Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã.
Todos eles eram "seus irmãos" ululou, no sentido figurado, Hugo Chávez. E para encerrar com chave de ouro seu pronunciamento foi buscar, num passado ainda recente, para nós mais velhos, o ditador Idi Amim, de Uganda, figura simultaneamente tétrica e cômica.
Amin para Chávez, foi "um patriota incompreendido". Ora, muito bem. Enquanto não sair um pau feio, viva o presidente Hugo Chávez que ao menos dá um pouco de molho a essa sem-graceza ou trágica paisagem política mundial. Discordo do Rei, conforme um velho hábito republicano meu, e, daqui, faço meu pedido: "Porqué no hablas más, Chávez?" Por favor, vá?
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