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08/01/2001 - 07h35

PSDB lança série polêmica sobre a história do Brasil

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RAQUEL ULHÔA
da Folha de S.Paulo

O PSDB, partido do presidente Fernando Henrique Cardoso, está recontando a história do Brasil. E de forma polêmica. Logo no primeiro capítulo, a nova história demole um dos maiores mitos da história oficial, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

O Instituto Teotônio Vilela, órgão de pesquisas e estudos do partido, está publicando a coleção "Sociedade e História do Brasil", composta de 15 volumes, que conta por meio de um texto simples - enriquecido por curiosidades, perguntas para reflexões, fatos do cotidiano dos principais personagens e ilustrações - a história brasileira dos séculos 18, 19 e 20.

A obra patrocinada pelos tucanos desmistifica a Inconfidência Mineira e reabilita a Inconfidência Baiana de 1798 (movimento que alcança destaque muito menor nos livros didáticos que o mineiro) como uma verdadeira revolução social.

Enquanto a primeira é descrita como movimento da elite provincial descontente com Portugal, a segunda é vista como movimento popular. E recomenda a seguinte reflexão: "Por que a Inconfidência Baiana, enraizada no ideário de liberdade e igualdade, não alcançou, na história oficial, o destaque da Inconfidência Mineira?"

Mais adiante, os fascículos descrevem a censura à imprensa e a corrupção desenfreada dos primeiros anos da República.

O presidente João Goulart, derrubado pelo Movimento Militar de 1964, é tratado como um "banana", segundo o historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, responsável pelo texto.
Goulart será personagem de um dos fascículos ainda inéditos.

Entre os seis fascículos já editados, há trechos de Olavo Bilac que, como funcionário do governo do Estado do Rio de Janeiro, dava despachos nos processos em forma de versos.

Certa vez, em pedido de licença médica da professora Ana Maldonado, Bilac escreveu: "Se dona Ana Maldonado/ For uma bela mulher,/ Tenha o dobro do ordenado/ E do Tempo que requer./ Mas se for velha e metida,/ O que se chama um canhão,/ Seja logo demitida,/ Sem maior contemplação."

Piada
Em sua maior parte, o texto é bem-humorado. Há uma piada sobre Deodoro da Fonseca, divulgada pelos jornais da época em que ele era presidente do Governo Provisório e houve a separação entre a Igreja Católica e o Estado. Na anedota, um padre pergunta ao presidente se o governo iria manter a côngrua, pensão que se concedia aos padres. E o presidente mostra ignorar o assunto.

"O governo conserva a côngrua? Deodoro olhou vagarosamente para o seu interlocutor e respondeu sem convicção: "Então não havia de conservar? Conserva, sim senhor". Bom...respondeu o padre.

Quando o padre ia se retirando, Deodoro perguntou-lhe: Padre...Não repare na minha pergunta, mas estou intrigado. Que coisa é côngrua? E o sacerdote esfregou o polegar no índex e explicou que se tratava do pagamento pelos trabalhos eclesiásticos.

Imediatamente, o presidente respondeu: "Ah! É isso? Não conserva, não senhor! Julguei que fosse outra coisa!".

Tiradentes
Logo no primeiro volume, Tiradentes perde o posto de líder da Inconfidência Mineira (1789), que, por sua vez, é relatado como um movimento de elite, que visava o perdão dos devedores da Fazenda Real.

O alferes Joaquim José da Silva Xavier nunca teria feito parte da liderança da Inconfidência Mineira e teria sido morto e esquartejado só para servir de exemplo e ridicularizar o movimento, arquitetado de fato pela elite de Minas Gerais, que enfrentava dificuldades em pagar impostos atrasados à Coroa.

"Nascia uma vítima e também um herói. Essa foi a imagem legada pela história oficial", diz um trecho.

A coleção completa chega até o segundo governo Fernando Henrique Cardoso. Nesse ponto, Villa reconhece que o trabalho é mais jornalístico do que histórico. Segundo ele, a proximidade dos fatos impede uma análise histórica sobre o significado de FHC e de seu governo para o país.

Por isso, no fascículo que trata de suas duas gestões -ainda inédito- os fatos serão relatados sob o ponto de vista do governo e da oposição, "deixando o leitor ter a posição que desejar, lendo as duas versões", disse Villa.

Especulação financeira
A leitura aponta a inflação e a especulação financeira como coisas antigas na história do país. Villa destaca o fenômeno econômico chamado de "encilhamento", provocado com o novo sistema financeiro estabelecido por Rui Barbosa, na pasta da Fazenda, entre 1889 e 1892.

Com o objetivo de estimular a economia republicada, o crédito foi facilitado, os bancos ganharam liberdade e foi emitida grande quantidade de papel moeda. O resultado foi um desenfreado jogo de especulação financeira e inflação desordenada, com taxas cambiais favorecendo as moedas estrangeiras.

No fascículo, o leitor atento vai encontrar informações curiosas, como a insólita homenagem a Deodoro da Fonseca, promovido a "generalíssimo" por aclamação popular, que estendeu a promoção para todos os ministros civis, dando-lhes a patente de general de brigada.


 

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