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26/01/2001 - 03h48

Análise: MST encabula esquerda anti-Davos

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FERNANDO DE BARROS E SILVA, da Folha de S.Paulo

Há duas lógicas políticas distintas e duas expectativas conflitantes no Fórum Social Mundial: uma, dominante no seu comitê organizador, é mais moderada, propositiva e quer privilegiar a discussão de alternativas ao neoliberalismo. A outra, encampada quase apenas pelo MST, acredita que o Fórum deveria servir para criar focos de tensão e manifestações de protesto contra símbolos do capitalismo.

Pela reação no dia de abertura, quando foi ovacionado por cerca de quatro mil pessoas (as mesmas que gritaram em coro "Cuba, Cuba, Cuba"), o MST já foi eleito o grande xodó do público do fórum. Mas está em minoria num comitê organizador composto por oito entidades, das quais apenas a CUT, além do próprio MST, tem vínculos reais e origem nos movimentos populares. As demais instituições são ONGs e assemelhados, formadas e dominadas por intelectuais e setores afins das classe médias.
FHC estaria muito à vontade num evento como esse há 20 anos, quando era o príncipe da sociologia.

Fala-se muito, no jargão de Porto Alegre, na criação de "alternativas viáveis" ao neoliberalismo. Mas, enquanto os organizadores do evento anti-Davos estão mais preocupados com as "alternativas" que devem discutir a partir de hoje, o MST está muito mais interessado em torná-las "viáveis". O problema não é, nunca foi, de falta de idéias, mas de poder. Ou, como diz o primo-rico de João Stedile, o ativista francês José Bové: "Não adianta discutir sem criar uma nova relação de forças".

Nunca houve, portanto "pensamento único", bobagem que continua a ser repetida pelos corredores da PUC de Porto Alegre, mas "hegemonia política neoliberal", que dá sinais de que pode estar se enfraquecendo -e o próprio interesse pelo Fórum anti-Davos, que pegou seus organizadores despreparados e assustou alguns deles, é um exemplo disso.

A divergência entre, de um lado, a moderação das ONGs, e, de outro, o radicalismo do MST no interior do Fórum ficou patente desde o primeiro dia, quando os sem-terra foram demovidos pelos demais organizadores e -dizem- também pelo governo do PT da intenção que tinha de transformar a marcha de ontem num protesto contra bancos estrangeiros e o McDonald's.
Prevaleceu o temor de que a mobilização social sem alguma forma de controle pudesse descambar para a baderna e repercutir negativamente na imprensa, sobretudo a estrangeira. Em resumo: protesto de estudante em Seattle é mais chique e palatável que protesto de pobre brasileiro em Porto Alegre.

Mas o MST não deve se dobrar tão facilmente à linha moderada. Líderes do movimento planejavam ontem a invasão de uma unidade da Monsanto no interior do Rio Grande do Sul, a 300 km da capital gaúcha, perto do município que leva o sugestivo nome de Não-Me-Toque. Multinacional do setor de biotecnologia e produtora de alimentos transgênicos, a Monsanto entrou novamente no caminho do MST também em razão da presença de Bové no Brasil. Brincava-se no MST que, se ele não invadir alguma cousa, ao Sul do Equador volta para a França desmoralizado.
 

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