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26/01/2001 - 03h51

Davos abre com ataques à globalização

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CLÓVIS ROSSI, da Folha de S.Paulo

A frase "a globalização não está produzindo benefícios, pelo menos não de uma maneira equitativa" foi ouvida ontem em Porto Alegre (RS), sede do Fórum Social Mundial, promovido pelos adversários da globalização, ou em Davos, cidade alpina da Suíça, quartel-general dos encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, em tese o principal agente da globalização?
Errou quem respondeu Porto Alegre. A frase pertence a Claude Smadja, que vem a ser o diretor-gerente do Fórum Econômico Mundial, e foi dita em uma sessão de abertura do encontro anual de 2001, que, se tivesse se realizado em Porto Alegre, não produziria discursos muito diferentes dos ouvidos ontem na cidade suíça.

Tanto que o presidente da Tanzânia, Benjamin William Mkapa, foi à extrema ironia sobre os benefícios da globalização para seu país (e para a África em geral): "A globalização pode produzir benefícios tanto quanto a Tanzânia pode disputar e ganhar a Copa do Mundo de futebol" (a Tanzânia jamais passou das eliminatórias).

Marx presente
Era tamanha a semelhança aparente entre os discursos de Davos e de Porto Alegre que o presidente da Suíça, Moritz Leuenberger, exumou Karl Marx para dizer que, "como pai da primeira Internacional (a Comunista), o filósofo alemão foi também um pioneiro da globalização e, portanto, um longínquo precursor do Fórum Econômico Mundial".

Leunberger disse também que o "o futuro que se nos oferece inspira, ao mesmo tempo, esperança e angústia. A miséria e o sucesso andam lado a lado".

Mas o presidente suíço recuou no tempo anterior a Marx para dizer que era mais atual que nunca a divisa da Revolução Francesa (1789): "liberdade, igualdade e fraternidade". Para Leuenberger, como para muitos dos convencionais de Porto Alegre, "não há verdadeira liberdade quando ela não está acompanhada de justiça e solidariedade".

Ecoou o presidente tanzaniano Mkapa: "A evidência mostra que a globalização produziu exclusão, em vez de integração".

Defesa com dados
É verdade que houve quem, como o ministro indiano de Finanças, Yashwant Sinha, defendesse a globalização e apresentasse dados concretos para falar a favor dela: a taxa de crescimento da Índia pulou de 5% nos anos 80 para 6,5% nos anos 90, depois de uma década de abertura da economia, redução das tarifas de importação e liberalização dos investimentos externos.

Mas mesmo Sinha atacou "as iniquidades do presente sistema", apontando o dedo acusador para o Norte rico.

Tal como se faria em Porto Alegre, Sinha afirmou que "o meio ambiente está em perigo pelo modo de vida das pessoas que vivem no Norte".

E reclamou das políticas de imigração dos países ricos, desenhadas,
segundo ele, para aspirar cérebros do Sul subdesenvolvido. Citou, a propósito, o fato de que 38% de todos os portadores de título de doutor nos Estados Unidos são indianos, para uma explosão de aplausos da platéia.

"O Sul está pedindo ao Norte um acordo justo, não caridade", fechou o ministro indiano.

E deu a vez ao ministro brasileiro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, para outra catilinária anti-Norte.

Discurso brasileiro
Como sempre faz quando tem uma oportunidade, Pratini desancou o protecionismo agrícola dos países ricos, que concedem subsídios a seus produtores à razão de US$ 1 bilhão ao dia, segundo o ministro.

"O Tesouro do Brasil não pode competir com o Tesouro de Tóquio, de Washington e de Bruxelas", fulminou Pratini, em alusão aos subsídios que os governos do Japão, dos Estados Unidos e da União Européia concedem a seus produtores agrícolas (US$ 300 bilhões atualmente).

Semelhança interessada
Que ninguém se equivoque, no entanto: a semelhança de discursos entre Davos e Porto Alegre, ontem, se deve apenas ao fato de que a elite planetária está assustada com o recorrente fenômeno das manifestações violentas que ocorrem a cada grande evento global, desde a Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio em Seattle (dezembro de 99).

Não há, entre os dois símbolos -a favor da globalização e contra ela-, qualquer outra aproximação em matéria de propostas.

Tanto que o ministro Pratini de Moraes citou o encontro de Porto Alegre, em sua alocução, para dizer que espera que dele surjam "propostas concretas de solução, e não apenas críticas".

Também o presidente e criador do Fórum Econômico Mundial, professor da Universidade de Genebra e empresário suíço Klaus Schwab, citou em seu discurso as manifestações de protesto programadas para Davos.

Louvou "o idealismo e o entusiasmo" de muitos dos manifestantes, chegou a propor que juntem forças com o Fórum para "aperfeiçoar o estado do mundo" (o slogan do encontro), mas emendou uma cobrança: "Só pedimos que, assim como respeitamos suas vozes e suas liberdades, que respeitem as nossas".
 

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