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29/01/2001 - 11h43

Repressão causa crise entre ONGs e Davos

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  • Leia mais no especial Davos x Anti-Davos


    CLÓVIS ROSSI
    JOSÉLIA AGUIAR
    em Davos

    As ONGs (organizações não-governamentais) convidadas a participar do encontro anual do Fórum Econômico Mundial ameaçam romper com o evento se seus organizadores não assegurarem o direito de manifestação.

    A ameaça foi transmitida no sábado aos dirigentes do Fórum, depois da repressão policial que impediu a manifestação programada por outras ONGs, as que não foram convidadas.

    Hoje, as ONGs esperam uma resposta de Klaus Schwab e Claude Smadja, respectivamente presidente e diretor-gerente do Fórum. Querem mais: esperam que convençam as autoridades suíças a autorizar manifestações.

    "Se eles podem influir sobre as autoridades para conseguir benefícios, podem influir também para que seja respeitado um direito humano fundamental, que é o de manifestação", dispara Vandana Shiva, diretora da Fundação para Pesquisa da Ciência, Tecnologia e Ecologia (Índia).

    Se as garantias oferecidas pelo Fórum não forem consideradas suficientes, as ONGs não irão a Davos em 2002 (a não ser para ficar do lado de fora e tentar fazer manifestações).

    "Não se pode falar em diálogo quando o diálogo com a sociedade está fechado", justifica Shiva.

    Ela explica que sair do encontro deste ano não faria sentido porque o calendário de protestos já está encerrado e não haveria como conferir se o direito de manifestação seria ou não respeitado.

    As ONGs que estão participando do Fórum divulgaram comunicado no qual se dizem "profundamente preocupadas com a maneira com que o governo suíço tratou indivíduos e organizações que buscavam manifestar suas inquietações em pacífica assembléia nas ruas de Davos".

    O apoio das ONGs "incluídas" (convidadas para o encontro) às "excluídas" acaba com o que Lori Wallach, diretora do Global Trade Watch (Observatório do Comércio Global, uma ONG anti-OMC), chama de tentativa de criar um "apartheid" entre as organizações da sociedade civil.

    É uma referência ao fato de que não apenas o Fórum Econômico Mundial, mas outras entidades de âmbito planetário abriram suas portas ao diálogo com algumas ONGs, mas as mantêm fechadas para outras, mais radicais.

    Este ano, estão convidadas 69 ONGs, 18 a mais que no ano passado (o primeiro em que elas foram incluídas nos debates do Fórum).

    A reação das ONGs "incluídas" não foi o único evento a apontar para uma crise de legitimidade da globalização. Ontem, uma das sessões de Davos foi dedicada ao "contragolpe à globalização".

    Mais uma vez, o que se ouviu foi uma sequência de discursos que caberiam perfeitamente no Fórum Social Mundial. John Sweeney, presidente da poderosa central norte-americana AFL-CIO, atacou o "ensurdecedor coro" da mídia para louvar as benesses da globalização, esquecendo seus pecados. "A promessa (da globalização) era a de que abrir mercados, desregular as finanças e unir-se ao mercado global promoveria o crescimento, que promoveria o desenvolvimento.

    Disseram-nos que, se tirássemos o governo do caminho, os mercados fariam a sua mágica. A realidade do último quarto de século torna essa receita mais e mais dura de engolir."

    Mais: "A Rússia prova que, se os governos forem de fato tirados do caminho, a magia negra dos mercados tende a produzir gangsterismo em vez de capitalismo".

    Depois, veio Thabo Mbeki, presidente da África do Sul, que usou termos geológicos para descrever a globalização. Disse que, quando se fala de globalização, fala-se de uma "falha estrutural", que "põe de um lado os ricos e poderosos e, de outro, os pobres".

    Até John Wolfensohn, presidente do Banco Mundial, uma das organizações que as ONGs mais radicais querem fechar, falou bem das manifestações (sem especificar quais). Disse que elas provocam "um impacto positivo muito forte" na agenda internacional.

    Mas o palco foi dominado pela única representante de ONG presente, a indiana Vandana Shiva, que falou mais que os outros e era tratada com visível respeito. Ela inverteu a lógica do tema em discussão, ao dizer que "a globalização é que é um contragolpe a princípios fundamentais, como o respeito dos direitos humanos, das mulheres, dos trabalhadores".

    Protestos pela Suíça

    Pelo menos cem manifestantes antiglobalização continuavam presos ontem por terem participado de protestos violentos em Zurique no sábado à noite.

    Frustrados por não terem conseguido realizar a manifestação programada para a tarde do sábado, em Davos, mais de mil ativistas foram de trem para Zurique e ocuparam o centro da cidade. Eles incendiaram carros, destruíram lojas e apedrejaram edifícios.

    A polícia usou balas de festim, gás lacrimogêneo e jatos d" água para dispersá-los. Em Berna, também no sábado, cem pessoas protestaram no centro da cidade. Dois manifestantes foram presos.

    Ontem, ativistas em Zurique fizeram um protesto em defesa da liberdade de expressão em frente ao local onde estavam os presos. ONGs e parte da imprensa suíça reclamam que houve exagero nas ações para reprimir a manifestação prevista para o sábado.

    A polícia suíça fechou estações de trem, parou carros e ônibus nas estradas, cercou fronteiras, revistou e impediu centenas de pessoas de chegarem a Davos.

    O grupo suíço Mídia Independente acusa a polícia de ter solicitado a hotéis informações sobre hóspedes considerados "suspeitos" -na lista, desde jornalistas que não tivessem credenciais para o evento a cidadãos de pelo menos 15 nacionalidades. Autoridades suíças dizem que montaram o rígido esquema de segurança para evitar distúrbios como os de Seattle, Praga e Nice (França).



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