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30/01/2001
-
03h44
CLÓVIS ROSSI, da Folha de S.Paulo
Claude Smadja, o diretor-gerente do Fórum Econômico Mundial, e representantes de cinco das 69 ONGs que participam do encontro anual do Fórum tiveram ontem uma fortíssima colisão frontal e pública, em plena sala de imprensa do Centro de Congressos de Davos.
Consequência previsível: três das ONGs já anteciparam que não se sentem em condições de voltar a participar dos encontros de Davos. As outras duas (Transparência Internacional e Anistia Internacional) disseram que vão consultar as respectivas diretorias, mas avaliam que se criou uma situação muito difícil para a participação delas.
O choque foi em torno da repressão pela polícia suíça às manifestações programadas para sábado passado na cidade e aos atos paralelos ao encontro anual do Fórum, classificada de "totalmente inaceitável" por Pierre Sané, secretário-geral da Anistia.
Numa reunião prévia com Smadja e o presidente do Fórum, Klaus Schwab, os representantes das ONGs ficaram com a impressão de que ambos haviam entendido que havia uma diferença entre a necessidade óbvia de assegurar a segurança dos participantes do encontro anual e a violação do que as ONGs chamam de "direito básico de reunião e expressão".
Da reunião, nasceram duas cartas, uma para o presidente do Fórum e outra para as autoridades suíças.
Na primeira, as ONGs formulam ultimato com três condições para que possam participar de futuros encontros:
1 - Um compromisso público do Fórum com o direito de manifestação.
2 - Gestões junto às autoridades suíças para assegurá-lo.
3 - Um pronunciamento público, em setembro, a propósito "das providências que assegurarão o direito de reunião e de discurso para Davos-2002".
Smadja aceitou o primeiro ponto, mas reagiu com tanta veemência aos outros dois que suas mãos tremiam ao segurar o microfone.
Primeiro, disse que na Suíça as decisões sobre proibir ou permitir manifestações são da Justiça, não da polícia. "A Suíça não é uma república bananeira", emendou.
Depois, se disse orgulhoso da maneira como a Suíça funciona e avisou: "O Fórum Econômico Mundial não pode e não irá tomar parte em providências para a segurança que as autoridades suíças considerem necessárias, conforme sua própria avaliação de ameaças e riscos para a população de Davos e para os participantes do encontro anual".
Sobre o pronunciamento público em setembro, voltou a ser duríssimo: "Em setembro, eu não apostaria um franco (a moeda suíça) sobre qual será a situação em janeiro" (o mês em que se realizam os encontros anuais).
A reação do diretor do Fórum provocou, de imediato, a renúncia de três ONGs a participar de novo dos encontros de Davos.
"A democracia suíça, nestes últimos dias, fez uma transição para algo que ninguém sabe bem o que é", justificou Vandana Shiva, diretora da Fundação de Pesquisa para Ciência, Tecnologia e Ecologia, da Índia.
Jeremy Rifkin, presidente da Fundação sobre Tendências Econômicas (EUA), cobrou de Smadja a mudança do local dos encontros, já que as autoridades suíças e de Davos não respeitavam o direito de manifestação. Como Smadja negou-se a aceitar a proposta, anunciou que não volta a Davos.
Lori Wallach (Global Trade Watch, EUA) não chegou ao extremo de anunciar que não viria mais, porque precisa consultar a diretoria da ONG, mas antecipou que ficou difícil recomendar a manutenção do diálogo.
Ironizou: "Suspeito que, se a decisão da Justiça suíça (de vetar a manifestação) não tivesse sido do agrado do Fórum, teria havido um recurso".
A carta ao Fórum leva a assinatura de 16 das 69 ONGs convidadas este ano para o encontro anual. O que leva a supor que elas também se negarão a voltar no ano que vem, a não ser que as condições impostas ao Fórum sejam atendidas. Até porque a carta diz que "Davos se transformou numa fortaleza, com sérias consequências para o futuro do diálogo global".
Smadja tentou justificar a fortaleza: para ele, o vandalismo de sábado em Zurique (com carros queimados) acabava por justificar, a posteriori, o esquema de segurança.
Ao que Vandana Shiva retrucou: "A violência é inevitável se os espaços para manifestação ficam fechados".
Repressão a manifestações causa novo embate entre ONGs e Davos
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Claude Smadja, o diretor-gerente do Fórum Econômico Mundial, e representantes de cinco das 69 ONGs que participam do encontro anual do Fórum tiveram ontem uma fortíssima colisão frontal e pública, em plena sala de imprensa do Centro de Congressos de Davos.
Consequência previsível: três das ONGs já anteciparam que não se sentem em condições de voltar a participar dos encontros de Davos. As outras duas (Transparência Internacional e Anistia Internacional) disseram que vão consultar as respectivas diretorias, mas avaliam que se criou uma situação muito difícil para a participação delas.
O choque foi em torno da repressão pela polícia suíça às manifestações programadas para sábado passado na cidade e aos atos paralelos ao encontro anual do Fórum, classificada de "totalmente inaceitável" por Pierre Sané, secretário-geral da Anistia.
Numa reunião prévia com Smadja e o presidente do Fórum, Klaus Schwab, os representantes das ONGs ficaram com a impressão de que ambos haviam entendido que havia uma diferença entre a necessidade óbvia de assegurar a segurança dos participantes do encontro anual e a violação do que as ONGs chamam de "direito básico de reunião e expressão".
Da reunião, nasceram duas cartas, uma para o presidente do Fórum e outra para as autoridades suíças.
Na primeira, as ONGs formulam ultimato com três condições para que possam participar de futuros encontros:
1 - Um compromisso público do Fórum com o direito de manifestação.
2 - Gestões junto às autoridades suíças para assegurá-lo.
3 - Um pronunciamento público, em setembro, a propósito "das providências que assegurarão o direito de reunião e de discurso para Davos-2002".
Smadja aceitou o primeiro ponto, mas reagiu com tanta veemência aos outros dois que suas mãos tremiam ao segurar o microfone.
Primeiro, disse que na Suíça as decisões sobre proibir ou permitir manifestações são da Justiça, não da polícia. "A Suíça não é uma república bananeira", emendou.
Depois, se disse orgulhoso da maneira como a Suíça funciona e avisou: "O Fórum Econômico Mundial não pode e não irá tomar parte em providências para a segurança que as autoridades suíças considerem necessárias, conforme sua própria avaliação de ameaças e riscos para a população de Davos e para os participantes do encontro anual".
Sobre o pronunciamento público em setembro, voltou a ser duríssimo: "Em setembro, eu não apostaria um franco (a moeda suíça) sobre qual será a situação em janeiro" (o mês em que se realizam os encontros anuais).
A reação do diretor do Fórum provocou, de imediato, a renúncia de três ONGs a participar de novo dos encontros de Davos.
"A democracia suíça, nestes últimos dias, fez uma transição para algo que ninguém sabe bem o que é", justificou Vandana Shiva, diretora da Fundação de Pesquisa para Ciência, Tecnologia e Ecologia, da Índia.
Jeremy Rifkin, presidente da Fundação sobre Tendências Econômicas (EUA), cobrou de Smadja a mudança do local dos encontros, já que as autoridades suíças e de Davos não respeitavam o direito de manifestação. Como Smadja negou-se a aceitar a proposta, anunciou que não volta a Davos.
Lori Wallach (Global Trade Watch, EUA) não chegou ao extremo de anunciar que não viria mais, porque precisa consultar a diretoria da ONG, mas antecipou que ficou difícil recomendar a manutenção do diálogo.
Ironizou: "Suspeito que, se a decisão da Justiça suíça (de vetar a manifestação) não tivesse sido do agrado do Fórum, teria havido um recurso".
A carta ao Fórum leva a assinatura de 16 das 69 ONGs convidadas este ano para o encontro anual. O que leva a supor que elas também se negarão a voltar no ano que vem, a não ser que as condições impostas ao Fórum sejam atendidas. Até porque a carta diz que "Davos se transformou numa fortaleza, com sérias consequências para o futuro do diálogo global".
Smadja tentou justificar a fortaleza: para ele, o vandalismo de sábado em Zurique (com carros queimados) acabava por justificar, a posteriori, o esquema de segurança.
Ao que Vandana Shiva retrucou: "A violência é inevitável se os espaços para manifestação ficam fechados".
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