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30/01/2001
-
03h45
da Folha de S.Paulo
Embora condenando os métodos usados, o megainvestidor George Soros deu ontem razão aos seus interlocutores de Porto Alegre, ao dizer que "há algo, no capitalismo global, contra o que protestar".
Na véspera, Soros, ao lado de outros participantes do encontro anual-2001 do Fórum Econômico Mundial, mantivera um áspero diálogo, via TV, com algumas das principais figuras do Fórum Social Mundial, que se realiza em Porto Alegre.
Ontem, Soros, que não recusa o rótulo de "especulador", deu entrevista coletiva em Davos para dizer que não vai repetir a experiência: "Meu masoquismo tem limites. Não gosto de sofrer abusos", explicou.
Mas, métodos à parte, o megaespeculador reconheceu que o capitalismo global, contra o qual se lança o pessoal de Porto Alegre, "cria um campo de jogo muito desigual".
Soros diz o óbvio, ou seja, que "o centro controla o sistema", mas rema contra a maré dominante, que prega um liberalismo ilimitado. "O sistema precisa, sim, ser administrado", diz ele.
Para Soros, o sistema está sendo administrado apenas no centro. Dá o exemplo da atuação do Fed, o Banco Central norte-americano, para evitar o risco de uma recessão nos Estados Unidos.
"A periferia não pode fazer a mesma coisa, porque haveria fuga de capital", constata Soros, um especialista em pôr ou tirar capital dos países em que investe.
O endosso aos protestos de Porto Alegre tem um limite: Soros prega aperfeiçoar o sistema, ao passo que seus interlocutores de domingo "querem destruí-lo, o que seria desastroso".
Como aperfeiçoar o sistema? A receita de Soros:
1 - Permitir que os países da periferia adotem políticas econômicas que não levem em conta apenas "a disciplina dos mercados", mas possam conduzir ao desenvolvimento.
2 - Corrigir o que chama de "inadequação" do fluxo de capitais para o mundo em desenvolvimento. Soros lembra que já foi criado, no âmbito do FMI (Fundo Monetário Internacional), um mecanismo que atende em parte a questão, as chamadas linhas de crédito de contingência.
3 - O Banco Mundial, por sua vez, deveria fornecer recursos a fundo perdido para que os países pudessem investir no que o jargão chama de "bens públicos" (educação, saúde, infra-estrutura etc.).
4 - Por fim, a OMC (Organização Internacional do Comércio) deveria deixar de ser desequilibrada, já que hoje "há precedência de suas regras sobre, por exemplo, as da Organização Internacional do Trabalho e acordos ambientais".
Mesmo condenando os métodos usados no debate de anteontem e nos protestos de rua contra a globalização, Soros admite que eles são "eficazes". Chega ao extremo de dizer que os distúrbios causados pelos manifestantes provocaram uma inquietação que antes não havia, "o que é um saudável desdobramento".
(CR)
George Soros dá razão a críticas de anti-Davos
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Embora condenando os métodos usados, o megainvestidor George Soros deu ontem razão aos seus interlocutores de Porto Alegre, ao dizer que "há algo, no capitalismo global, contra o que protestar".
Na véspera, Soros, ao lado de outros participantes do encontro anual-2001 do Fórum Econômico Mundial, mantivera um áspero diálogo, via TV, com algumas das principais figuras do Fórum Social Mundial, que se realiza em Porto Alegre.
Ontem, Soros, que não recusa o rótulo de "especulador", deu entrevista coletiva em Davos para dizer que não vai repetir a experiência: "Meu masoquismo tem limites. Não gosto de sofrer abusos", explicou.
Mas, métodos à parte, o megaespeculador reconheceu que o capitalismo global, contra o qual se lança o pessoal de Porto Alegre, "cria um campo de jogo muito desigual".
Soros diz o óbvio, ou seja, que "o centro controla o sistema", mas rema contra a maré dominante, que prega um liberalismo ilimitado. "O sistema precisa, sim, ser administrado", diz ele.
Para Soros, o sistema está sendo administrado apenas no centro. Dá o exemplo da atuação do Fed, o Banco Central norte-americano, para evitar o risco de uma recessão nos Estados Unidos.
"A periferia não pode fazer a mesma coisa, porque haveria fuga de capital", constata Soros, um especialista em pôr ou tirar capital dos países em que investe.
O endosso aos protestos de Porto Alegre tem um limite: Soros prega aperfeiçoar o sistema, ao passo que seus interlocutores de domingo "querem destruí-lo, o que seria desastroso".
Como aperfeiçoar o sistema? A receita de Soros:
1 - Permitir que os países da periferia adotem políticas econômicas que não levem em conta apenas "a disciplina dos mercados", mas possam conduzir ao desenvolvimento.
2 - Corrigir o que chama de "inadequação" do fluxo de capitais para o mundo em desenvolvimento. Soros lembra que já foi criado, no âmbito do FMI (Fundo Monetário Internacional), um mecanismo que atende em parte a questão, as chamadas linhas de crédito de contingência.
3 - O Banco Mundial, por sua vez, deveria fornecer recursos a fundo perdido para que os países pudessem investir no que o jargão chama de "bens públicos" (educação, saúde, infra-estrutura etc.).
4 - Por fim, a OMC (Organização Internacional do Comércio) deveria deixar de ser desequilibrada, já que hoje "há precedência de suas regras sobre, por exemplo, as da Organização Internacional do Trabalho e acordos ambientais".
Mesmo condenando os métodos usados no debate de anteontem e nos protestos de rua contra a globalização, Soros admite que eles são "eficazes". Chega ao extremo de dizer que os distúrbios causados pelos manifestantes provocaram uma inquietação que antes não havia, "o que é um saudável desdobramento".
(CR)
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