Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/02/2001 - 00h10

Jader ameaça retaliar se for prejudicado

Publicidade

ELIANE CANTANHÊDE
KENNEDY ALENCAR

da Folha de S.Paulo

O candidato do PMDB à presidência do Senado, Jader Barbalho, 56, acha que já ganhou. Mas avisou que, se perder a eleição por interferência de ministros de Fernando Henrique Cardoso, seu partido reagirá duramente.

"Nós reagiremos. Afinal de contas, fazemos parte da base do governo, ajudamos o governo e não admitimos que o tratamento não seja o de reciprocidade política", disse, em longa entrevista à Folha, após dez meses de tiroteio.

O recado foi para o ministro tucano Pimenta da Veiga, das Comunicações, que nos bastidores articula a candidatura do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).

Jader admitiu que o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, pode ser candidato a presidente da República em 2002 se voltar ao PMDB. Itamar aguarda o desfecho da guerra no Congresso para decidir seu destino partidário.

Cauteloso em relação ao PFL, descarregou a ira em seu inimigo Antonio Carlos Magalhães. Mas se declara "cristão" e não descarta uma reconciliação futura.

Em contraposição ao estilo de ACM, prometeu que, se eleito, vai ser até "chato": "Não vão me assistir fazendo espetáculo diário, não vão me assistir agredindo o presidente da República e fazendo piada com o presidente do Supremo Tribunal Federal".

A seguir, leia os principais trechos da entrevista:


Folha - Vitória à vista?
Jader Barbalho
- O apoio do PMDB e do PSDB indica que terei mais do que a maioria absoluta do Senado. Terei apoio de outros senadores, até no PFL. Ganhamos a eleição.


Folha - Dizia-se que o sr. aceitaria discutir um candidato de consenso, que acalmasse essa guerra. Por que ele não surgiu?
Jader
- Aguardei um entendimento interpartidário. O processo está se encerrando sem que se tenha encontrado o nome. O ex-presidente José Sarney, citado como possível nome de consenso, possui todas as qualidades, poderia ter sido a solução.


Folha - Não foi por ter sido lançado por ACM?
Jader
- Exatamente. Foi um gesto de soberba, de prepotência. Além de vetar o presidente nacional e líder do PMDB no Senado, ele (ACM) se achou no direito de indicar qual peemedebista deveria ser o candidato. Foi um gesto intolerável para o PMDB. Seria o mesmo que o assassino, além de matar o marido, escolher com quem a viúva deve casar.


Folha - Sarney fez o jogo de ACM, admitindo ser candidato?
Jader
- Sarney passou por um constrangimento, o que declarou em nota. Disse que admitiria uma candidatura de consenso, mas não estava disposto a participar de um jogo de divergências.


Folha - Mas ele não participou desse jogo?
Jader
- Não, foi constrangido o tempo todo.


Folha - Docemente constrangido?
Jader
- O nome de Sarney foi imposto. Disse a ele que a candidatura dele deixaria de ser um gesto de reconciliação do Senado para ser um gesto de humilhação para o PMDB. Ele compreendeu.


Folha - Mas não foi à reunião que escolheu o sr. candidato.
Jader
- Agora, quem compreende sou eu. Eu e o senador Antonio Carlos fomos ministros do seu governo. Temos relações pessoais com ele. Não quis agravar dificuldades pessoais.


Folha - O sr. enfrenta resistência da oposição, no seu próprio partido e no PSDB.
Jader
- Não enfrento resistência. Enfrento uma campanha de uma única pessoa, que acaba estabelecendo constrangimentos dentro do seu partido, o PFL, no qual tenho grandes amizades.


Folha - Além de amizades, o sr. tem votos?
Jader
- Creio que tenho.


Folha - ACM acabou sendo, por ironia, seu grande eleitor?
Jader
- Sim. O PMDB não poderia admitir veto ao seu líder no Senado e ao seu presidente.


Folha - O sr. teme o aparecimento de um candidato de última hora? O senador Jorge Bornhausen, por exemplo.
Jader
- É do jogo. Não tenho o direito nem o hábito de interferir na vida dos outros partidos. Cresci na luta contra a ditadura. A minha formação política não é a formação da truculência.


Folha - Há ministros articulando o nome de Bornhausen?
Jader
- Há especulação.


Folha - Quem?
Jader
- Não posso citar nomes. Seria injusto e leviano. Entendo que o presidente da República tem o maior respeito pelo meu nome. O PMDB é um partido que tem colaborado com o governo e não imagino que haja ação de governo contra o candidato do PMDB.


Folha - Partidários seus dizem que o ministro das Comunicações, o tucano Pimenta da Veiga, é um dos articuladores da eventual candidatura Bornhausen. Se isso for verdade e influenciar no resultado da eleição, o PMDB pode ameaçar com alguma CPI, por exemplo?
Jader
- Recuso a idéia de que CPI possa ser usada como revanche política, de forma mesquinha. E não tenho dado concreto que indique que o ministro Pimenta tenha gestos de antipatia contra a minha candidatura.


Folha - E se houver um gesto de antipatia?
Jader
- Nós reagiremos. Fazemos parte da base do governo, ajudamos o governo e não admitimos que o tratamento não seja o de reciprocidade política.


Folha - Qual a ligação que o PMDB tem hoje e quais são as perspectivas de aproximação com os governadores Itamar Franco (sem partido-MG) e Anthony Garotinho (PSB-RJ) e o ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PPS-CE)?
Jader
- Consideramos que todos os três são expressões da política nacional...


Folha - O sr. chamou o Itamar de Shirley.
Jader
- São figuras expressivas da política nacional...


Folha - O sr. chamou o Itamar de Shirley.
Jader
- Não gostaria de discutir divergências que são do passado, feitas num cenário de profunda emoção.


Folha - O sr. se arrepende? Ultrapassou o limite?
Jader
- Não. Reagi de forma emocional. Tenho por ele respeito pessoal e político.


Folha - Itamar Franco tem chance de ser candidato pelo PMDB?
Jader
- Creio que sim, mas temos um candidato que é o senador Pedro Simon (RS).


Folha - O presidente está a favor do sr. nessa disputa? Ele impediu que o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) fosse lançado candidato no Senado por ACM?
Jader
- Posso dizer que conto com a simpatia do presidente.


Folha - Baseado em quê? Ele disse para o sr.?
Jader
- Não preciso que alguém me diga para que eu sinta e esteja convencido.


Folha - Mas como o sr. pode ter certeza dessa simpatia? Teve alguma conversa com ele?
Jader
- Políticos trabalham interpretando sinais. Os sinais que à minha interpretação chegam dão conta de que tenho a simpatia do presidente.


Folha - O discurso de oposição o sr. deixa para Inocêncio Oliveira, candidato do PFL na Câmara?
Jader
- Até aqui, minha conduta é como líder de um partido político. Eleito presidente do Senado, minha postura será a de presidente de uma Casa integrada por diversos partidos.

Aliás, vocês vão me achar um chato na presidência do Senado. Não vou fazer absolutamente o espetáculo diário. Vocês não vão me assistir agredindo o presidente da República, não vão me ouvir fazendo piada com o presidente do Supremo Tribunal Federal.


Folha - Voltando aos presidenciáveis, como os tucanos José Serra (ministro da Saúde) e Tasso Jereissati (governador do Ceará) estão se comportando nas eleições da Câmara e do Senado?
Jader
- Pelas notícias que tenho de ambos, são a favor do acordo com o PMDB, como contrapartida à solidariedade que o partido dá à candidatura do deputado Aécio Neves na Câmara.


Folha - Tasso está contra o ACM, o primeiro a lançar a candidatura presidencial dele?
Jader
- Não é questão de contra quem quer que seja. A postura dos líderes do PSDB é de respeito ao acordo firmado. Não se fazem acordos para descumprir, muito menos para trair. Evidentemente, a preocupação prioritária dele (Tasso) é com a candidatura Aécio. E nessa atitude só há méritos. Da mesma forma, o Serra.


Folha - A sua aproximação com o ministro Serra antecede a própria candidatura Aécio na Câmara, e a ligação de ACM com Tasso é antiga. A disputa ACM-Jader é uma disputa do PFL e do PMDB para ser o primo rico do PSDB em 2002?
Jader
- Minha aproximação com o Serra deriva do fato de sermos colegas de Senado, mas não há acordo político para 2002.

Acho fundamental para o presidente conservar os três partidos da base aliada. Jamais cometerei a estultice de defender com o presidente o afastamento do PFL, até porque não subestimo as qualidades intelectuais e políticas dele. E não gostaria que ele me tomasse por um ridículo.


Folha - Mas nós não estamos falando da base governista nos dois anos finais de mandato. Estamos falando de 2002.
Jader
- Estou me referindo a quem acha possível afastar um partido que faz parte da base do governo. Quem tem interesse maior em preservar essa base é o presidente.

Ele fará tudo o que estiver a seu alcance para manter essa base unida, inclusive porque um candidato que saia dessa base estará evidentemente no segundo turno em 2002 e viabilizado para ser vitorioso. Isso não impede que cada partido raciocine com seu projeto ideal.


Folha - Com os caciques se estraçalhando, como o sr. e ACM, não está cada vez mais difícil manter essa base unida?
Jader
- Tem nome e endereço esse estraçalhamento. Uma única pessoa é responsável pelas dificuldades que estamos vivendo hoje na base do governo. Isto sabe o presidente da República, o vice-presidente (Marco Maciel, do PFL), o sr. Jorge Bornhausen (senador e presidente do PFL), o sr. Hugo Napoleão (líder pefelista no Senado). Isto sabe até a "velhinha de Taubaté". Nós não temos nenhuma dificuldade entre nós.


Folha - ACM diz que não se trata de um veto pessoal. Ele diz que o sr. é ladrão. O sr. é ladrão?
Jader
- Pode ser que no juízo dele, que é meu inimigo. Não fui a única vítima neste país dessa escalada dele de violência, de leviandade, ao longo da sua caminhada de truculência.

Quando ele chega a dizer para correspondentes estrangeiros que o presidente da República é conivente com a corrupção, você tem o retrato da irresponsabilidade, da leviandade, da falta do equilíbrio numa função tão importante quanto a presidência do Congresso Nacional. É da maior irresponsabilidade política com o país.


Folha - Em conversas reservadas com políticos, ACM disse mais. Disse que FHC fez restrições morais e éticas ao senhor e à cúpula do PMDB e que por isso não o nomeou ministro.
Jader
- Em primeiro lugar, não considero que esse sr. (ACM) seja a figura mais adequada para substituir o embaixador George Lamazière (porta-voz da Presidência da República).
Isso só reforça seu caráter leviano, ao declarar à imprensa conversas que teria tido com o presidente da República.

Só esse gesto já demonstra o seu tamanho. Mesmo na hipótese de o presidente ter realmente mantido essas conversas, ele jamais poderia cometer essa inconfidência, trazê-las a público.


Folha - Por que esse ódio pessoal do senhor e de ACM?
Jader
- Da minha parte, não há ódio pessoal. Eu não trabalho com ódio. Eu reajo apenas.


Folha - O sr. pode se reconciliar com ele?
Jader
- Eu sou um cristão. Acredito em Deus, faço minhas orações diárias e sou uma pessoa conciliada comigo mesmo. Não tenho vocação para as mulheres de Sodoma e Gomorra, que só ficavam olhando para trás.
Chegando à presidência do Senado, não quero olhar para trás. Quero olhar para a frente.


Folha - Por que o senhor convocou uma entrevista coletiva para falar do seu patrimônio de R$ 30 milhões e, em vez de dar explicações sobre a origem, distribuiu bombons de cupuaçu?
Jader
- Em primeiro lugar, entendi a origem do jogo. Naquele momento, era me colocar para discutir com setores da imprensa. Ficava claro que, em relação à revista que levantou a questão ("Veja"), eu levaria uma imensa desvantagem. Aquela reportagem cometeu uma série de equívocos.


Folha - E a origem dos bens?
Jader
- Eu vou explicar. A revista ficou devendo aos leitores uma evolução patrimonial do sr. ACM. O sr. ACM é presidente do Senado há quatro anos.
Levando em conta que a declaração formal de Imposto de Renda dele é o dobro da minha, a revista não poderia se esquecer de forma nenhuma do senador de R$ 60 milhões.


Folha - Isso exime o sr. de explicar um patrimônio de R$ 30 milhões?
Jader
- Vou explicar. Acho que faltou uma reportagem também sobre a evolução patrimonial dele. Eu digo que não deve ser de R$ 60 milhões. Deve ser muito mais.


Folha - O sr. tem provas?
Jader
- Falo exatamente sobre a declaração do IR, que registra formalmente um patrimônio muitas vezes maior do que o meu.

Se se chegou a um número arbitrário no meu caso, me dou ao direito de, politicamente, imaginar que se chegaria também no dele.


Folha - Do ponto de vista da opinião pública, o que fica não é quem é mais ladrão? O senador de R$ 60 milhões ou o de R$ 30 milhões?
Jader
- Dêem licença. Quero aproveitar para explicar. Em primeiro lugar, a revista deu um tratamento equivocado, porque disse que havia duas pessoas, o homem público e o empresário, que há 26 anos tem atividade empresarial.

Quando fechou a contabilidade, somou só o rendimento da atividade pública. Fiquei com zero na atividade empresarial. Houve um equívoco matemático.

Outro detalhe: no Brasil, até prova em contrário, é uma ofensa maior à Receita Federal do que a mim, porque no Brasil quem tem competência técnica para fazer avaliação dessa natureza é a Receita.
E eu não recebi da Receita, ao longo de toda minha vida, nem uma comunicação sequer.

Clique aqui para ler mais da entrevista de Jader Barbalho à Folha
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página