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24/02/2001 - 04h07

Presidente quis mostrar que não teme ameaças

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da Folha de S.Paulo

O presidente Fernando Henrique Cardoso desistiu de esperar a passagem do Carnaval para demitir os ministros indicados por ACM a fim de não transmitir a sensação à opinião pública de que o senador baiano sabe de algo que comprometa sua integridade moral ou a do governo.

Quando foi dormir, anteontem, FHC já havia decidido demitir os dois, mas ainda estudava quando fazê-lo. Depois de jantar com o ministro Paulo Renato (Educação), tentou cair no sono, mas não conseguiu. Na madrugada, sozinho, decidiu demitir os ministros logo pela manhã. De próprio punho, começou a redigir a nota de exoneração de Rodolpho Tourinho (Minas e Energia) e Waldeck Ornélas (Previdência).

Decidiu usar o rompimento com ACM para dar um recado aos partidos aliados, cobrando lealdade à agenda do governo nos últimos dois anos de mandato.

De manhã, FHC conversou com o vice-presidente da República, Marco Maciel (PFL). Avisou que ia demitir os dois carlistas, sob pena de perder autoridade definitivamente no final do mandato.

No dia anterior, tivera conversa semelhante com o senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, e, ao lado de Maciel, o comandante do grupo que se opõe a ACM. Essa ala é chamada de "PFL do B".

Na tarde de quinta, FHC não falou em demissão com Bornhausen. Mas os dois voltaram a conversar por telefone à noite. O presidente do PFL disse que FHC estava livre para tomar a decisão que quisesse e que, ele, Bornhausen, defenderia que o partido continuasse a fazer parte do governo.

Parente
Por volta das 10h de ontem, chamou o ministro da Casa Civil, Pedro Parente, para uma reunião no Palácio da Alvorada. "Tenho a consciência tranquila. Não posso deixar esse assunto fritando durante o Carnaval", disse o presidente, segundo a Folha apurou.

Enquanto FHC revisava as vírgulas da nota de demissão, Parente telefonou para os dois ministros. Disse que o presidente e ele admiravam a competência dos dois, mas lamentavam que a crise obrigasse FHC a exonerá-los.

A decisão do presidente selava a ruptura com ACM e levava a anunciar que uma "nova fase" começaria. "Não tem mais volta política e pessoal com ACM", disse na tarde de ontem, quando o senador atacava de novo.

Pressão
A Folha apurou que, durante a tarde de anteontem, FHC sofrera enorme pressão para agir logo e duramente, especialmente de dois auxiliares: Ana Tavares, secretária de Imprensa e antiga colaboradora, e Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder do governo no Congresso e porta-voz dos revides aos ataques de ACM.

Um auxiliar do presidente chegou a perguntar se ele, em algum diálogo com ACM, dera munição que pudesse ser usada contra o governo. "Não devo e não temo o Antonio Carlos", respondeu na hora. A frase de FHC, ora contrariado, ora calmo, seria dirigida a outros auxiliares e políticos com os quais se encontraria.

Depois que o presidente afirmou que estava decidido a demitir os dois ministros, falou para os auxiliares que refletiria apenas sobre a oportunidade de fazê-lo.

Avaliou que talvez devesse esperar o começo de março, quando pretende fazer uma ampla reforma ministerial, levando em conta o rearranjo de forças após as eleições para as presidências da Câmara e do Senado.

Nessa disputa, o PFL perdeu para uma aliança PMDB-PSDB. O principal motivo foi o veto de ACM ao presidente do PMDB, Jader Barbalho, que forçou uma aliança tucano-peemedebista e acabou com a possibilidade de o PFL ficar com a Câmara. Jader ganhou o Senado. O tucano Aécio Neves, a Câmara.
(VALDO CRUZ, JOSIAS DE SOUZA, ELIANE CANTANHÊDE e KENNEDY ALENCAR)
 

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