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24/04/2001 - 08h13

Veja a cronologia das mortes de membros do MST a partir de 2000

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LEONARDO FUHRMAN e
CAMILO TOSCANO
da Folha Online

Veja abaixo a cronologia das mortes no MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) a partir de 2000:

dia 2 de fevereiro:

Um confronto entre pistoleiros e 250 famílias sem-terra na fazenda São Pedro, em Atalaia (43 km de Maceió - AL), deixou um sem-terra morto e outros dois feridos a bala. O MST acusa o dono da propriedade acupada desde dezembro, Pedro Duarte, de ter enviado 18 pistoleiros para desocupar a fazenda sem mandado judicial. Ele nega e diz que os sem-terra brigaram entre si.

Segundo a polícia, o sem-terra José Elenilson dos Santos, 28, levou três tiros e morreu ao tentar impedir que um trator, usado pelos supostos pistoleiros, derrubasse barracos do acampamento.

No final da tarde, os sem-terra atearam fogo nas plantações de cana, no trator, em um caminhão e em uma casa da fazenda. O secretário da Segurança, Edmilson Miranda, e o comandante da PM (Polícia Militar) do Estado, coronel Ronaldo Santos, foram à fazenda. "O governador Ronaldo Lessa deu ordem para que os pistoleiros sejam presos imediatamente", disse Miranda.

Segundo eles, cinco pistoleiros já haviam sido identificados. O MST acusa um dos filhos do fazendeiro de fazer parte do grupo. Os sem-terra já haviam invadido a São Pedro nove vezes. Em todas, o fazendeiro conseguiu a reintegração de posse.

dia 2 de maio:

Antonio Tavares Pereira, 38, assentado há 16 anos e pai de cinco filhos, foi morto com um tiro, no Paraná. Ele entrou no Hospital do Trabalhador, em Curitiba, ainda com vida, mas não resistiu.

Segundo o MST, Pereira teria sido morto em um conflito anterior ao que foi acompanhado pela imprensa. Dois ônibus que seguiam antes do comboio teriam sido interceptados às 8h na BR-277. No conflito, quatro policiais teriam atirado contra um grupo de cerca de 30 pessoas que haviam descido dos veículos. Eles dizem ter duas testemunhas que podem confirmar a versão.

A Secretaria de Segurança Pública do Paraná nega que tenha havido o conflito de que fala o MST. O sem-terra teria sido encontrado perto de Mandirituba, na BR-116, como consta no boletim de atendimento do hospital. Segundo essa versão, o sem-terra não poderia ter sido morto na ocasião porque a PM só teria usado balas de borracha e o sem-terra teria entrado no hospital às 9h09, antes, portanto, do conflito.

dia 10 de junho:

O militante do MST Wanderley Bernardo Ferreira, 31, foi morto à noite em Campos (norte do Estado do Rio de Janeiro), depois de receber três tiros. Ferreira era um dos líderes do assentamento Zumbi dos Palmares. Carlos Alberto Zanata, amigo de Ferreira, disse ter presenciado o crime. Ele relatou que os autores foram dois homens, que atingiram o agricultor a poucos metros de sua casa, no assentamento.

dia 25 de julho:

Um trabalhador rural foi morto com um tiro de revólver durante confronto envolvendo policiais militares e agricultores ligados ao MST, em Recife (PE). A vítima, José Marlúcio da Silva, 47, foi atingido no peito. A bala perfurou seu fígado e pulmão direito e saiu pelas costas. Outro integrante do movimento, Rommwel Figueiredo, foi atingido por um tiro de raspão no braço.

O conflito ocorreu às 14h30, em frente à superintendência estadual do Banco do Brasil, em Boa Viagem, bairro nobre da da cidade. Cerca de 200 trabalhadores rurais e 12 policiais militares estavam no local.

Segundo o líder do MST no Estado, Jaime Amorim, os agricultores foram "recebidos a bala" quando pretendiam negociar a liberação pelo banco de R$ 4,5 milhões para investimento em 11 assentamentos.

A PM afirma que os sem-terra avançaram em direção aos policiais para invadir a instituição, armados com foices, pedras e pedaços de pau. A corporação nega que os tiros tenham sido disparados pelos militares.

"Se teve tiro, foi do lado deles", afirmou o major da PM Elísio Viana, que chegou depois do incidente para assumir o comando da operação. "Os policiais ouviram disparos, mas não foram nossos", declarou. A PM abriu sindicância para apurar o caso.

"Se não foram deles, foram de bandidos disfarçados de polícia", rebateu Amorim. Ele negou que os lavradores estivessem armados. A PM não encontrou revólveres com os sem-terra.

Testemunhas dizem que os trabalhadores rurais chegaram com pedaços de pau e foices e caminharam em direção ao banco. Os policiais, ao mesmo tempo, vieram em sentido contrário, armados com revólveres e cassetetes.

dia 25 de julho:

Um sem-terra morreu e outros oito ficaram feridos durante o ataque de supostos pistoleiros no interior do Ceará. Entre os feridos, todos sem gravidade, há uma grávida de quatro meses e uma menina de oito anos. Uma mulher de 78 anos foi detida, acusada de ser mandante do ataque.

O incidente ocorreu em Ocara (87 km ao sul de Fortaleza). Por volta das 8h, um grupo de cerca de 30 famílias acampadas na fazenda Lagoa do Serrote se preparava para ir à cidade para participar de uma missa em homenagem ao Levante do Campo.

Eles ocupam uma área cedida pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) ao lado da fazenda, que está em processo de desapropriação. Seis homens se aproximaram do limite entre a fazenda e o acampamento e começaram a fechar um buraco na cerca, por onde os sem-terra buscavam água em um açude dentro da área.

Segundo o MST, os homens gritaram que estavam dispostos "a fazer carniça" e começaram a atirar. O lavrador Francisco Aldemir Mesquita, 28, foi baleado na cabeça e na bacia e morreu na hora. "Foram mais ou menos uns 20 minutos de tiros", disse a sem-terra Raimunda Inês Sousa Silva, 37.

O conflito na área é antigo. Os sem-terra, que reivindicam uma gleba de 932 hectares, ficaram acampados dentro da fazenda entre outubro de 99 e abril deste ano. O Incra mediou então um acordo para acabar com a invasão enquanto é analisado o processo de desapropriação da área, que foi classificada de improdutiva.

Há um mês, a dona da fazenda, Jacinta Abreu de Sousa, 78, mandou fechar a passagem para o açude e os trabalhadores não deixaram. "Não podemos concordar. É a nossa única fonte de água e depois fomos nós que construímos o açude, pela emergência. Se foi construído por nós com o dinheiro do governo, a água é do povo", disse José Caetano Pereira, 42, baleado sem gravidade.

Presa em flagrante e autuada como mandante do crime, Jacinta Abreu nega ter culpa. "Eles já me tomaram tudo. Minha colheita de caju, feijão e milho. Agora querem me tomar as terras. Eu não mandei matar ninguém. Aconteceu o que tinha de acontecer."

Um dos supostos pistoleiros foi preso. É o capataz de fazenda Emanoel Ferreira da Silva, que participou do ataque. Ele e Jacinta estão detidos em Redenção. Uma escopeta e dois revólveres foram recolhidos com ele. Os outros suspeitos não foram localizados.

dia 19 de agosto:

Everson Rodrigues dos Santos, 12, foi morto no assentamento Novo Amanhã (em Ariquemes, Rondônia). Ele era filho de Jadir Alves Rodrigues, o Chacrinha, líder do MST na região.

Segundo o MST, o crime pode ter sido uma vingança contra Chacrinha, que teria expulsado do assentamento um grupo de pessoas envolvidas com o narcotráfico e o roubo de carros. Ao saírem, os criminosos teriam dito que se vingariam dos sem-terra.

dia 19 de agosto:

A polícia encontrou no final da tarde os corpos de dois integrantes do MST no Mato Grosso do Sul que estavam desaparecidos desde anterior. Eles foram achados à beira do córrego Vacaria, em Rio Brilhante (MS), com as mãos amarradas para trás e os corpos perfurados a balas.

Um dos mortos, Silvio Rodrigues de Souza, 25, era líder regional do MST e havia recebido ameaças de morte. O outro era Ronildo da Silva, 36, morador no acampamento Índio Galdino.

O principal líder do MST no Estado, Egídio Brunetto, disse que os dois sem-terra estavam em um carro Voyage quando desapareceram na área rural de Rio Brilhante (a 150 km de Campo Grande). Eles estavam acompanhados por um homem identificado apenas por Cláudio.

Os sem-terra pegaram carona para visitar uma fazenda a 60 km de Rio Brilhante. Cláudio disse à polícia que parou o carro na estrada para abastecer o radiador do veículo. Segundo seu depoimento, ele caminhou rumo a um córrego e os dois sem-terra ficaram dentro do Voyage.

Quando Cláudio se distanciou cerca de cem metros do local, ouviu o disparo de um tiro, e o carro arrancou em alta velocidade, disse ele em depoimento. Antes de saber dos assassinatos, Brunetto declarou que o sumiço deveria ter ligação com as ameaças de morte.

Brunetto disse que Rodrigues comandou diversas invasões na região de Rio Brilhante, e, por isso, estaria sendo ameaçado. "Ele (Sílvio) recebeu ameaças dentro do fórum da cidade. Arrendatários de fazendas na região disseram que iriam pegá-lo", afirmou o principal líder dos sem-terra em Mato Grosso do Sul.

O líder assassinado coordenou há dois meses a invasão da fazenda Beco do Sossego. Na época, comandou as famílias de sem-terra que derrubaram a cerca da propriedade e se apropriaram do maquinário do fazendeiro.

dia 6 de outubro:

O vice-presidente do diretório do PT de Caruaru (PE), José Ribamar de Souza Gondim, 38, também ligado ao MST, foi assassinado no final da tarde no povoado de Lagoa do Pau, em Coruripe (litoral sul de Alagoas). Gondim morreu após levar 11 tiros disparados por dois homens em um restaurante.

A polícia sabe apenas que os homens chegaram ao local em um Uno vermelho. Segundo Jaime Amorim, líder do MST em Pernambuco, Gondim foi morto porque denunciou autoridades locais em Caruaru.

dia 7 de outubro:

O eletricista Manoel Maria de Souza Neto, um dos coordenadores da campanha do PT em Suzano (Grande São Paulo), foi encontrado morto de madrugada, em sua casa. Ele recebeu um tiro na nuca. O partido suspeita de crime político.

Segundo o PT, havia marcas de cortes no pescoço de Souza Neto, o que poderia indicar uma tentativa de degolamento. O partido disse que não havia sinais de roubo na casa do militante.

Souza Neto, 43, também participava do MST. Na última eleição, foi um dos assessores da campanha do candidato petista derrotado à Prefeitura de Suzano, Marcelo Cândido.

dia 21 de novembro:

O sem-terra Sebastião de Maia, o Tiãozinho, 38, um dos coordenadores regionais do MST no Paraná, foi assassinado com um tiro na cabeça em Querência do Norte (noroeste do Estado).

Ele havia comandado uma invasão da fazenda Água da Prata. Segundo o MST, outros três sem-terra foram feridos, mas a polícia não confirmou a informação.

O legista Luís Antonio Ricci Almeida, responsável pela autópsia, afirmou que o disparo ocorreu a menos de um metro de distância. Ele foi morto por volta das 6h30 com um tiro de espingarda calibre 12, que atingiu o olho esquerdo.

A versão inicial da polícia é a de que ele foi baleado no momento da invasão, em uma troca de tiros entre os sem-terra e supostos funcionários da fazenda. Para o MST, ele foi vítima de uma tocaia quando voltava a seu assentamento.

dia 21 de novembro:

José Rafael do Nascimento foi morto pela Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, na primeira morte de um sem-terra pela polícia no governo de Zeca do PT. Ele liderava o (MTR) Movimento dos Trabalhadores Rurais, dissidência do MST.

A polícia é acusada de abuso na ação. O sem-terra responderia a quatro processos por homicídio e usaria identidade falsa. A direção do MTR nega e aponta uma suposta emboscada.

Uma nota do governador diz que, "independente dos fatos que envolvam o nome do líder sem-terra, o governo lamenta profundamente a morte e quer apurar na íntegra o acontecimento".

Parte das informações são da Agência Folha.


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