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09/05/2001 - 03h40

FHC e Jader fecham acordo e adiam CPI da corrupção

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FERNANDO RODRIGUES e KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A pedido de Fernando Henrique Cardoso, o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), adiou a sessão de hoje do Congresso para a próxima quarta-feira, dia 16, o que, na prática, ajuda o governo a ganhar tempo para tentar diminuir as adesões na Câmara à CPI da corrupção para baixo do mínimo exigido.

A decisão de Jader, também presidente do Congresso, impede a leitura e averiguação das assinaturas de apoio à investigação mesmo que a oposição protocole hoje, como previsto, o requerimento de criação da CPI.

Para tentar retirar o ar de manobra protelatória, Jader admitiu convocar uma sessão extraordinária do Congresso para amanhã, "apenas para a leitura" das assinaturas. A Folha, porém, apurou que isso não deverá acontecer.

Ou seja, o governo poderá nos próximos dias procurar os parlamentares governistas que apoiaram a CPI. O novo ministro da Integração Nacional será escolhido como parte do esforço capitaneado pessoalmente por FHC e pelos líderes aliados para negociar com os deputados federais.

A CPI da corrupção é mista -composta por senadores e deputados federais. Portanto, precisa, no mínimo, da adesão de um terço do Senado (27) e da Câmara (171). A oposição disse que já tem certos 186 deputados e já conta com 29 assinaturas no Senado.

Operação Covas
O pretexto para o cancelamento da sessão do Congresso de hoje foi, segundo Jader, não "criar um certo constrangimento" a uma homenagem ao governador Mário Covas, tucano que morreu no começo de março.

"Cancelei a pedido do Arthur Virgílio [líder do governo no Congresso], que fez uma ponderação em nome do PSDB porque amanhã [hoje] nós teríamos uma homenagem ao Mário Covas. Isso poderia ser confundido com a apresentação do pedido de CPI", afirmou Jader.

"É uma manobra. A homenagem [a Covas] era de manhã [hoje], em sessão solene. A sessão deliberativa era só à noite. O presidente do Senado quer prestar serviço ao governo", afirmou o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (PT-BA). Pinheiro disse que a tendência é protocolar hoje o pedido de CPI.

"A oposição faz todo o esforço para fazer a CPI. E o governo todo o esforço para não realizá-la. Considero isso perfeitamente normal no processo democrático", disse Jader, que afirmou que não retirará a sua assinatura.

Ação de FHC
Virgílio, líder do governo no Congresso, recorreu a Jader depois de uma conversa com FHC na qual o presidente avaliou que a criação da CPI comprometeria o final de seu mandato.

Segundo auxiliares, o presidente tem afirmado: "A oposição quer precipitar a eleição do ano que vem, atingir o governo e acabar com meu mandato".

FHC considera que o Congresso paralisaria suas atividades e que a oposição priorizaria investigações para atingir o governo, especialmente os episódios de privatização do sistema Telebrás e o caso EJ (Eduardo Jorge, ex-secretário-geral da Presidência).

Na avaliação de FHC, não só ele, mas os partidos governistas perderão politicamente se for criada a CPI. O presidente quer convencer os governistas que assinaram a CPI com dois argumentos: 1) É do interesse deles preservar o governo para terem forças nas eleições de 2002 (Presidência, governos dos Estados e Legislativos federal e estaduais); e 2) Liberar emendas parlamentares já aprovadas, mas atrasadas, e negociar cargos desde que dentro do que o governo considera razoável.
FHC mandou o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral) priorizar a liberação de emendas congressuais aprovadas, mas ainda não liberadas.

Batalha das adesões
No cabo-de-guerra entre governo e oposição, o PMDB espera retirar de cinco a sete assinaturas dos 23 deputados que apoiaram a CPI. O PFL avalia que consegue reverter a adesão de cinco dos dez que apoiaram a investigação.

O governo optou pela "operação Mário Covas" por avaliar que não tinha tempo suficiente para impedir a CPI caso o protocolo com as assinaturas de adesões fosse lido hoje.

Ministros entraram na operação para abafar a CPI. O vice-líder do PFL na Câmara, Pauderney Avelino (AM), disse que "o governo está mobilizado".
Pressionado por dois ministros, o deputado Augusto Nardes (PPB-RS) admitiu que deverá retirar a sua assinatura: "Minha preocupação é em razão dos pequenos municípios da minha região, que poderão perder as verbas das emendas", disse Nardes.

O pepebista negou que os ministros tenham feito ameaças, mas deixou claro que o recado foi dado: "O que sabemos é que não vai haver simpatia para liberar verbas para quem assinar".

Apesar da ofensiva do governo, a oposição avançou e obteve mais quatro adesões. Há promessas de outras dez para hoje durante o ato que vai acontecer antes da entrega do pedido de CPI.

Assinaram ontem a deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) e os deputados Pimentel Gomes (PPS-CE), Cunha Bueno (PPB-SP) e Zezé Perrella (PFL-MG).
 

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