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30/05/2001
-
02h44
FERNANDO RODRIGUES
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Nada de acusações específicas. Só ataques alusivos, muita literatura e citações eruditas. Em um discurso mais retórico do que objetivo, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) fará ataques ao governo, mas sem acrescentar novidades ao conjunto de acusações já conhecidas contra o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Para precaver-se de críticas sobre estar atacando um governo do qual foi aliado, ACM se dirá traído e no direito de dizer o que considera errado. A seguir, concluirá: "[FHC" Alforriou-me de acompanhar até o fim seu longo declínio".
É esse o tom do discurso de renúncia de um dos mais influentes políticos do país. Num dos trechos que considera mais fortes de sua fala, dirá que o governo FHC passa por um "apagão moral", aludindo à crise energética -nada perto da expectativa formada em Brasília sobre os possíveis ataques que dispararia no seu último dia no Senado. O jogo de palavras segue por várias das 36 páginas de tamanho A-4 nas quais está impresso o discurso.
Voltaire, Ortega y Gasset, Kant e, não poderia faltar, Rui Barbosa são citados ao longo da fala que ACM classifica como "o melhor e mais forte discurso que já fiz".
Muita gente será mencionada de forma alusiva. Sobre o governo FHC e o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), o baiano falará de forma direta, mas sem acrescentar fatos novos.
Um peixe pequeno será alvo da ira baiana. Um empresário do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), responsável pelo envio de pizzas de papelão a todos os senadores, teve sua vida vasculhada pelo carlismo. "Tem mais de dez processos contra ele na Justiça", divertia-se ACM. Esse caso será descrito no discurso.
ACM aprecia em particular um trecho em que trata da situação econômica. Auxiliado por economistas amigos, citará muitos números. A explosão da dívida pública, por exemplo. Não há um número que já não seja conhecido ou que não tenha aparecido em propagandas da oposição.
A grande dúvida em Brasília ontem era se ACM falaria sobre a lista da votação secreta que cassou Luiz Estevão em 28 de junho de 2000. Revelará quem votou a favor e contra? Não, não vai revelar. E sobre os boatos de que FHC teria recebido as informações?
"É possível [que o presidente tenha recebido]. Mas sobre isso não falarei nunca", responde, sem negar nem confirmar um dos boatos mais recorrentes em Brasília nos últimos dias -veementemente negado pelo Palácio do Planalto.
O começo da fala é com um personagem bíblico: Pôncio Pilatos. Pouco antes de decidir crucificar Jesus, pergunta: "O que é a verdade?". ACM completará: "E eu pergunto: o que é a mentira?".
Afirmará então ter sido injustiçado e que muitas mentiras o levaram ao ato extremo da renúncia. Nada específico.
Ao citar Rui Barbosa, vai falar sobre as "ratazanas" da política congressual. "Rui nunca foi tão atual", dirá. De Voltaire, buscou uma frase em que o dramaturgo francês pede a Deus que transforme seus inimigos em ridículos. "E Deus me atendeu".
Uma parcela restrita da direção do PFL teve acesso ao discurso de ACM. Pediu que fosse excluído apenas um trecho pequeno e sarcástico. Trata-se de uma curiosa afirmação do escritor espanhol Ortega y Gasset sobre rãs: "Como podem conhecer o mar se nunca saíram do brejo?".
Até ontem à noite, ACM estava decidido a manter a frase. Afinal, raciocinava, era apenas uma menção para lá de indireta sobre o caso de um ranário que recebeu incentivo público e pertence à mulher do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA).
O discurso está pronto desde domingo à noite. Cerca de uma dezena de amigos e assessores o ajudaram na redação. As citações foram escolhidas pelo próprio ACM: "Tenho mais de cem livros de citações. Vou colecionando as que gosto".
Choro
Ontem durante o dia, enquanto revisava a redação final, ACM ia recebendo telefonemas. Emocionou-se e chorou ao falar no início da noite com o cardeal-arcebispo do Rio, d. Eugenio Sales. "Uma amizade de mais de 30 anos".
Depois de discursar, ACM pretende sair o mais rápido possível do plenário. "Não vou deixar que esses hipócritas que me condenaram venham me abraçar". Vai para a Bahia? "Não. Fico até quinta-feira [amanhã] para assistir a posse do Júnior [seu filho e suplente]".
FHC me alforriou de seu declínio, diz ACM
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
Nada de acusações específicas. Só ataques alusivos, muita literatura e citações eruditas. Em um discurso mais retórico do que objetivo, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) fará ataques ao governo, mas sem acrescentar novidades ao conjunto de acusações já conhecidas contra o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Para precaver-se de críticas sobre estar atacando um governo do qual foi aliado, ACM se dirá traído e no direito de dizer o que considera errado. A seguir, concluirá: "[FHC" Alforriou-me de acompanhar até o fim seu longo declínio".
É esse o tom do discurso de renúncia de um dos mais influentes políticos do país. Num dos trechos que considera mais fortes de sua fala, dirá que o governo FHC passa por um "apagão moral", aludindo à crise energética -nada perto da expectativa formada em Brasília sobre os possíveis ataques que dispararia no seu último dia no Senado. O jogo de palavras segue por várias das 36 páginas de tamanho A-4 nas quais está impresso o discurso.
Voltaire, Ortega y Gasset, Kant e, não poderia faltar, Rui Barbosa são citados ao longo da fala que ACM classifica como "o melhor e mais forte discurso que já fiz".
Muita gente será mencionada de forma alusiva. Sobre o governo FHC e o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), o baiano falará de forma direta, mas sem acrescentar fatos novos.
Um peixe pequeno será alvo da ira baiana. Um empresário do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), responsável pelo envio de pizzas de papelão a todos os senadores, teve sua vida vasculhada pelo carlismo. "Tem mais de dez processos contra ele na Justiça", divertia-se ACM. Esse caso será descrito no discurso.
ACM aprecia em particular um trecho em que trata da situação econômica. Auxiliado por economistas amigos, citará muitos números. A explosão da dívida pública, por exemplo. Não há um número que já não seja conhecido ou que não tenha aparecido em propagandas da oposição.
A grande dúvida em Brasília ontem era se ACM falaria sobre a lista da votação secreta que cassou Luiz Estevão em 28 de junho de 2000. Revelará quem votou a favor e contra? Não, não vai revelar. E sobre os boatos de que FHC teria recebido as informações?
"É possível [que o presidente tenha recebido]. Mas sobre isso não falarei nunca", responde, sem negar nem confirmar um dos boatos mais recorrentes em Brasília nos últimos dias -veementemente negado pelo Palácio do Planalto.
O começo da fala é com um personagem bíblico: Pôncio Pilatos. Pouco antes de decidir crucificar Jesus, pergunta: "O que é a verdade?". ACM completará: "E eu pergunto: o que é a mentira?".
Afirmará então ter sido injustiçado e que muitas mentiras o levaram ao ato extremo da renúncia. Nada específico.
Ao citar Rui Barbosa, vai falar sobre as "ratazanas" da política congressual. "Rui nunca foi tão atual", dirá. De Voltaire, buscou uma frase em que o dramaturgo francês pede a Deus que transforme seus inimigos em ridículos. "E Deus me atendeu".
Uma parcela restrita da direção do PFL teve acesso ao discurso de ACM. Pediu que fosse excluído apenas um trecho pequeno e sarcástico. Trata-se de uma curiosa afirmação do escritor espanhol Ortega y Gasset sobre rãs: "Como podem conhecer o mar se nunca saíram do brejo?".
Até ontem à noite, ACM estava decidido a manter a frase. Afinal, raciocinava, era apenas uma menção para lá de indireta sobre o caso de um ranário que recebeu incentivo público e pertence à mulher do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA).
O discurso está pronto desde domingo à noite. Cerca de uma dezena de amigos e assessores o ajudaram na redação. As citações foram escolhidas pelo próprio ACM: "Tenho mais de cem livros de citações. Vou colecionando as que gosto".
Choro
Ontem durante o dia, enquanto revisava a redação final, ACM ia recebendo telefonemas. Emocionou-se e chorou ao falar no início da noite com o cardeal-arcebispo do Rio, d. Eugenio Sales. "Uma amizade de mais de 30 anos".
Depois de discursar, ACM pretende sair o mais rápido possível do plenário. "Não vou deixar que esses hipócritas que me condenaram venham me abraçar". Vai para a Bahia? "Não. Fico até quinta-feira [amanhã] para assistir a posse do Júnior [seu filho e suplente]".
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