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14/07/2001 - 22h00

Rival de Garotinho planeja mostrar novas gravações

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ANTONIO CARLOS DE FARIA
da Folha de S.Paulo

As acusações de fraudes fiscais e tentativa de suborno de um funcionário da Receita Federal, que na semana passada abalaram o governador do Rio, Anthony Garotinho, pré-candidato do PSB à Presidência da República, serão agravadas por novos ataques do empresário Guilherme Freire, 41, ex-amigo de infância e inimigo declarado do governador.

Em junho do ano passado, Freire apresentou ao Ministério Público, em Campos (cidade natal do governador, localizado a 278 km ao norte do Rio), três fitas com grampos telefônicos, gravados há seis anos, em que Garotinho teria sido flagrado articulando o suborno de um fiscal da Receita, com o objetivo de legalizar uma empresa que lhe permitiria sortear carros e uma casa em um programa de rádio.

Gravações com conversas de Garotinho sobre o assunto foram divulgadas pelo "Jornal do Brasil" na última sexta-feira. Freire, que não quis dar entrevista à Folha de S.Paulo, tem mais fitas gravadas. Respaldado por elas, se prepara para apresentar novas acusações contra Garotinho.

Com as gravações e documentos que juntou ao longo dos anos, ele planeja acusar Garotinho de envolvimento com contas "fantasmas", esquemas para lavagem de dinheiro e corrupção de funcionários públicos.

Cenário

O cenário dessas gravações é uma cidade de cerca de 400 mil habitantes onde a economia gira em torno da prefeitura, enriquecida pelos royalties proporcionados pela extração de petróleo.

Em 1998, na campanha eleitoral para o governo do Estado, Cesar Maia (PFL) já havia tentado usar o conteúdo de 20 fitas que, dizia ele, envolveriam o rival Garotinho em fraude fiscal. A divulgação das gravações, anunciada por Maia, foi embargada, na época, pela 39ª Vara Cível do Rio.

Na semana passada, o jornal "O Globo" retomou o caso, mostrando que o governador, sua mulher, Rosinha, e o amigo Jonas Lopes, nomeado por ele conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), são suspeitos de irregularidades na realização de sorteios em programas de rádio e TV de Garotinho, em 1995.

Gravações clandestinas de telefonemas envolvem o governador Garotinho na suspeita de participação na tentativa de suborno do fiscal da Receita Marcos Azevedo, responsável pela legalização da empresa Garotinho Editora Gráfica, que fazia os sorteios.

Imposto de Renda
Garotinho nega ter participado de irregularidades. Ele diz que o fato de estar sendo investigado pela Receita é positivo, pois terá a chance de provar que não houve dolo na constituição da empresa e que, no máximo, o caso poderá resultar em multas por erros na declaração de Imposto de Renda de sua mulher e de Lopes.
A proliferação de grampos ilegais em Campos começou a partir do final de 1994. Na época, Garotinho, derrotado pelo tucano Marcello Alencar na sua primeira tentativa de se eleger governador, comunicou a intenção de voltar a ser prefeito da cidade, que já havia governado de 1989 a 1992.
Com a volta ao cenário político da cidade, ele entrou em conflito com seu sucessor e até então amigo, Sérgio Mendes, que tinha planos de manter sua influência na prefeitura mesmo após o final de seu mandato.
Garotinho venceu a eleição, em 1996. Uma das primeiras medidas que adotou, no início de 1997, foi uma devassa nas empreiteiras que atuaram na gestão anterior. Entre elas a Tucun, de Guilherme Freire, primo de Sérgio Mendes.
A pressão da prefeitura resultou no encerramento das atividades da empreiteira, mas não derrubou o empresário, que tem uma grande fazenda de criação de gado e negócios variados em que emprega cerca de 500 pessoas.
Assessores próximos ao governador lamentam o rompimento entre ele e Freire. Os dois estudaram juntos no Liceu de Humanidades de Campos.

Receio

Com receio de represálias, o empresário retirou a família da casa que ainda mantém na rua Voluntários da Pátria, mais conhecida como a rua da Jaca, nome tradicional que aparece no livro "O Coronel e o Lobisomem", clássico de José Cândido de Carvalho, autor nascido em Campos e que chegou a integrar a ABL (Academia Brasileira de Letras).

Na última pesquisa Datafolha, Garotinho aparece com 11% das intenções de voto, atrás de Itamar Franco (PMDB), com 12%, e Ciro Gomes (PPS), 15%. O primeiro colocado é Lula (PT), com 35%. O governador é o primeiro colocado no ranking Datafolha que mede a aprovação dos governadores.

O bom desempenho de Garotinho nas pesquisas é visto pelo próprio e pelo seu partido como a causa do aparecimento de denúncias contra ele.

Defesa

A direção regional do PSB, reunida durante a semana no Rio, com a presença do presidente da legenda, Miguel Arraes, decidiu adotar uma linha de defesa do governador, apontado como vítima de ataques injustos.

O presidente regional do partido, deputado federal Alexandre Cardoso, chega mesmo a fazer uma análise positiva do inferno astral vivido pelo governador. Para ele, as denúncias de que Garotinho teve que driblar a Receita o aproximam do homem comum, que vive em atritos contra a máquina do Estado. "Quantas vezes as pessoas pedem nota quando vão aos dentistas? Todos aceitam essas pequenas infrações", disse.
 

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