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22/08/2001 - 02h30

Governo suíço afirma que Maluf tem conta em Jersey

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ELIANE CANTANHÊDE
da Folha de S.Paulo

Documento oficial do governo da Suíça informa que o ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf abriu uma conta no Citibank daquele país em julho de 1985 (logo depois de perder a eleição presidencial indireta para Tancredo Neves) e, em 1997, a transferiu para o mesmo banco em Jersey, paraíso fiscal no canal da Mancha.


A conta foi aberta originalmente em nome da empresa Blue Diamond Ltd, constituída nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe. Essa empresa, cujo beneficiário era Paulo Maluf, mudou de nome mais tarde para Red Ruby Ltd.

Em 9 de janeiro de 1997, oito dias depois que Maluf deixou a Prefeitura de São Paulo, a conta da empresa no Citibank da Suíça foi fechada, e todas as suas aplicações transferidas para o Citibank da ilha de Jersey.

A nova descoberta complica ainda mais a situação de Maluf, cujos sigilos bancário e telefônico (nas ligações para o exterior) foram quebrados anteontem por determinação do juiz-corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais de São Paulo, Maurício Lemos Porto Alves.

O juiz também quebrou os sigilos de seis outras pessoas da família Maluf, contando desde 1º de janeiro de 1993.

Documento oficial

O documento oficial suíço foi enviado pelo Bundesamt Für Polizeiwsen, órgão de inteligência financeira daquele país. O destinatário foi o seu congênere no Brasil, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), presidido por Adrienne Senna e ligado ao Ministério da Fazenda.

Os dois órgãos, o suíço e o brasileiro, fazem parte de uma rede internacional de conselhos oficiais que investigam e trocam informações sobre operações financeiras ilegais, entre elas a lavagem de dinheiro.

Uma curiosidade é que o texto, escrito em inglês, qualifica Paulo Maluf como ex-governador do Estado de São Paulo e ex-prefeito da cidade de São Paulo.

Essa qualificação não é por acaso. Em 1999, órgãos financeiros de Jersey enviaram uma série de perguntas ao Coaf sobre quem era Paulo Maluf e se ele respondia a algum tipo de processo ou inquérito no Brasil. Adrienne respondeu e, segundo ela, avisou ao Ministério Público.
No último dia 10 de junho, a Folha informou que autoridades de Jersey haviam bloqueado aplicações financeiras não só em nome do próprio Maluf como também de sua mulher, Sylvia, de seus filhos, Flávio, Ligia, Lina e Octavio, e de sua nora Jacqueline, casada com Flávio.

Segundo a Folha apurou então, as aplicações chegavam a cerca de US$ 200 milhões, equivalentes a R$ 510 milhões pela cotação de ontem.

O novo documento, este da Suíça, não faz referência a valores, mas Adrienne Senna telefonou ontem para o chefe do seu autor, e ele disse que se tratava de "vários milhões de dólares".

Relação dos processos

O suíço, cujo nome Adrienne não quis revelar, aproveitou o telefonema para pedir à presidente do Coaf uma relação atualizada dos inquéritos e processos pelos quais Maluf responde no Brasil. Pediu também a relação dos respectivos juízes, para que possa auxiliá-los com informações das aplicações na Suíça, que duraram 12 anos.

As datas de abertura da conta original e de sua transferência para Jersey coincidem com momentos decisivos da vida política _e especificamente eleitoral_ de Paulo Maluf.

Em 1984, ele era deputado federal e chegou a ser considerado o candidato mais forte do antigo PDS (sucessor da Arena no apoio ao regime militar) para a eleição presidencial de 1985 pelo Colégio Eleitoral. Como era da situação, teve apoio de parte do empresariado. Perdeu em 1985, quando foi aberta a primeira conta da Blue Diamond na Suíça.

Em 1997, quando a conta foi transferida para Jersey, Maluf tinha acabado de eleger Celso Pitta seu sucessor na Prefeitura de São Paulo. No ano seguinte, concorreu ao governo de São Paulo pelo PPB e perdeu para o tucano Mário Covas, morto este ano.

Apesar de ter feito um acordo na campanha de 1998 para ajudar a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a Presidência da República, Maluf é sempre listado entre os possíveis compradores e divulgadores do "dossiê Caribe".

Trata-se de um conjunto de documentos, cujas principais partes têm se mostrado falsas, sobre supostas contas da cúpula tucana, inclusive FHC, em paraísos fiscais.

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