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04/09/2001 - 02h33

Citibank avisou às autoridades suíças sobre conta de Maluf

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ROBERTO COSSO
da Folha de S. Paulo, em Brasília

O Citibank foi o responsável pela informação fornecida às autoridades suíças sobre as movimentações financeiras do ex-prefeito paulistano Paulo Maluf (PPB) e de sua família em Jersey, paraíso fiscal no canal da Mancha.

Na edição de 10 de junho, a Folha revelou a existência de depósitos ilegais em nome de Maluf e de familiares dele no exterior. Todos negam possuir o dinheiro. Segundo o governo da Suíça, Maluf abriu, em julho de 85, uma conta no Citibank do país e, em janeiro de 97, a transferiu para o mesmo banco em Jersey.

Segundo a Folha apurou, as autoridades de Jersey foram informadas das movimentações suspeitas de Maluf pelo governo suíço, que, por sua vez, recebeu o comunicado de que elas ocorreram do Citibank.

Vítimas do nazismo
Até 1997, a Suíça era considerada o país mais seguro para o depósito de dinheiro ilícito, por conta de suas rígidas leis de sigilo bancário. Naquele ano, foram descobertas as contas inativas de judeus vítimas do nazismo e confirmou-se que, entre 1940 e 1945, bancos suíços haviam "lavado" o dinheiro saqueado por Adolf Hitler -reservas em ouro dos países ocupados e jóias dos judeus detidos e mortos.

Por causa da pressão internacional, a Suíça flexibilizou suas regras de sigilo bancário e obrigou as instituições financeiras a informarem à sua unidade de inteligência financeira sobre a realização de operações financeiras suspeitas. Foi justamente em 1997 que Maluf transferiu os depósitos que tinha no Citibank suíço para a agência do Citibank em Jersey.

Ao verificar a transferência de grande volume de dinheiro -cerca de US$ 200 milhões (equivalente a pouco mais de R$ 510 milhões), segundo a Folha apurou- da Suíça para Jersey, os funcionários do Citibank tiveram que comunicar a operação ao Escritório para Registros de Lavagem de Dinheiro da Suíça. Se não o fizessem, responderiam criminalmente, segundo as leis suíças.

O Escritório para Registros de Lavagem de Dinheiro comunicou o caso ao Ministério Público de Genebra. O procurador Jean-Louis Crochet deve decidir nos próximos dias se abre um inquérito criminal para investigar Maluf por suposta prática de crime de lavagem de dinheiro (ocultar a natureza de dinheiro ilícito para fazer com que ele tenha aparência de dinheiro lícito).

O escritório informou o caso a Jersey e, posteriormente, ao Brasil. A ilha confirmou a existência dos depósitos, pediu informações sobre Maluf ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e bloqueou o dinheiro do ex-prefeito, a pedido das autoridades brasileiras.

Em agosto, três advogados de Jersey haviam dito à Folha que a informação sobre a conta havia surgido fora do paraíso fiscal. Eles dizem que jamais tiveram conhecimento de um caso de vazamento de informação de conta, já que a manutenção do sigilo é um dos diferenciais da ilha. Os advogados afirmaram que a polícia do paraíso fiscal só começou a investigar o caso porque recebeu uma denúncia de fora.

O Ministério Público espera que as autoridades de Jersey enviem ao Brasil nos próximos dias uma confirmação oficial sobre a existência das contas de Maluf. O juiz-corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais de São Paulo, Maurício Lemos Porto Alves, determinou a expedição de ofício à Jersey para que as informações sejam requisitadas.


Leia mais no especial caso Maluf

 

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