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09/12/2001 - 09h20

Marqueteiro de Lula vê em Serra seu maior adversário

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KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O fenômeno Roseana é obra do "eleitor-turista", que não quer Lula e pula de candidato em candidato. O PT "intelectualizou demais suas mensagens" e "deve falar mais para o povão". Apesar de não ter cumprido as promessas sociais, FHC terá lugar "na galeria de um grande presidente". Serra é "o melhor candidato do governo". Essas são as opiniões de Duda Mendonça, publicitário que, aos 57 anos, está lançando o livro "Casos & Coisas", no momento em que se prepara para fazer a sua primeira campanha presidencial e a quarta de Luiz Inácio Lula da Silva.

"Minha consciência de alguma forma reclamava isso", diz, explicando por que está com o PT. Duda começou fazendo campanhas para a oposição baiana, ainda no regime militar. Transformou-se em estrela do marketing político ao eleger em 1992 o então "inelegível" Paulo Maluf (PPB) prefeito de São Paulo. Ao todo, fez cinco campanhas malufistas.

A mudança aconteceu em 1999, depois de uma viagem a Santiago da Compostela -cidade da região de Galícia, na Espanha, à qual chegam religiosos e místicos, como Duda, depois de uma caminhada de cerca de 800 km, partindo da França.

Ao analisar a sucessão presidencial do ano que vem, o publicitário avalia que o eleitorado está dividido em três fatias. Uma delas, com 32%, 33%, "já decidiu votar em Lula". Os indecisos somam 35%, 37%. Duda diz que a terceira fatia, de cerca de 30%, é a do "eleitor-turista". E afirma que "grande parte desse eleitorado parece ter parado na Roseana", pefelista que governa o Maranhão.

Para Duda, o "eleitor-turista" já deu intenção de voto a Ciro Gomes (PPS) e aos governadores Itamar Franco (PMDB-MG) e Anthony Garotinho (PSB-RJ). Ou Roseana segura esse eleitorado, ou parte dele pode migrar para o ministro da Saúde, José Serra, acredita Duda.

"Na hora que sair o Serra, por ser o candidato do presidente Fernando Henrique [Cardoso], da máquina, ele vai ganhar logo quatro ou cinco pontos percentuais."

Folha - Quanto custará uma campanha do Duda Mendonça para o PT?
Duda
- Não tratei disso com o PT, porque oficialmente não há candidato. Não abro mão de ter uma estrutura competitiva. Fiz dois programas para o PT, que custaram mais ou menos R$ 300 mil cada um. Não ganhei. Se ganhei, foi porcaria. Ganho de outro jeito. Eu queria fazer. A minha consciência de alguma forma reclamava isso. As campanhas do começo da minha carreira foram para a oposição. Fiz movimento estudantil. Enfim, é algo mais próximo de minha origem. Depois do caminho de Santiago da Compostela, tive um tempo para parar e me articular com minhas metas de vida.

Folha - O sr. elegeu Maluf após seguidos fracassos. Fará o mesmo com Lula?
Duda
- Há muita chance de o Lula ganhar. A coisa mais importante na eleição não é o candidato, mas o momento político. O momento político de hoje é muito bom para o Lula.

Folha - Qual é o nome governista mais forte para disputar?
Duda
- O Serra. Eu apostaria todas as minhas fichas de que o candidato será ele. É o melhor candidato que o governo tem. Acho que o grid de largada será Lula, Serra, Ciro e o Enéas [Carneiro, do Prona]. Eventualmente a Roseana pode entrar, se houver uma ruptura entre o PFL e o PSDB, no que eu não acredito.

Folha - O fenômeno Roseana é uma bolha ou pode se consolidar?
Duda
- Há um eleitorado hoje de 32%, 33% que já decidiu votar no Lula. Há uns 35%, 37% de indecisos. E há uns 30% que não querem o Lula. Dentro desses 30%, tem uma parte maior que pode ir para o candidato do governo e uma menor para um não identificado com o governo. Esses 30% de eleitores estão rodando. No começo, foi para o Ciro, depois para o Itamar, uma parte foi para o Garotinho. Agora, grande parte parece ter parado na Roseana. Esse é o eleitor-turista. Na hora que sair o Serra, por ser o candidato do presidente, da máquina, ele vai ganhar logo quatro ou cinco pontos percentuais da Roseana e encostar ou passar a Roseana.

Folha - No livro, o sr. diz que o PT tem de aprender a trabalhar melhor a forma. Na sua opinião, esse é o maior defeito do PT?
Duda
- No livro, a primeira parte é minha visão de fora do PT. Na segunda parte, fiquei parado cinco meses, justamente o tempo em que fui chamado pelo PT. Numa campanha na TV, a forma é mais importante do que o conteúdo. A linguagem não-verbal é muito importante: o jeito de falar, a cara, o brilho no olho. O PT também precisa fazer um discurso menos intelectualizado. O Lula deve falar mais para o povão, aproximar-se mais do povão. O PT intelectualizou demais suas mensagens e se fechou. No último programa de TV do partido, botei "no fundo, no fundo, você é um pouco PT". Fiz isso por achar que aqueles que são "muito PT" nos levam ao segundo turno, mas para ganhar precisamos daqueles que são "um pouco PT".

Folha - FHC terminará o mandato com popularidade e terá destaque na história?
Duda
- O julgamento imediato não será dos melhores. Mas, no longo prazo, ele fica na galeria de um grande presidente.

Folha - Por quê?
Duda
- De alguma forma, ele cumpriu etapas. É um homem sensato, cordato, não causou grandes crises políticas. Se não é um grande executivo, teve a conquista de segurar a inflação, ainda que a um preço muito alto. Faltaram os grandes investimentos sociais prometidos. A etapa de olhar para o social poderá ser cumprida com muito sucesso pelo Lula.

Folha - Como será o candidato Lula em 2002?
Duda
- O que ele sempre foi, um líder autêntico. Ser presidente é uma missão. Ele não vai governar de olho em pesquisa, vai olhar mais para o Brasil do que para a sua imagem. Essa é a grande diferença do Lula. Quer ser presidente, mas não a qualquer preço. É um homem confiável. É avô, tem mais de 50 anos, não é um aventureiro, não é um cometa.

Folha - No livro, o sr. fala como defendia Maluf muitas vezes acima de limites profissionais. Ao falar do PT, o sr. mostra certo engajamento. Como conciliar um engajamento que vai de Maluf ao PT?
Duda
- Quando fiz Maluf, era movido por um desafio. Era um profissional com uma empresa pequena. Queria ganhar e eleger o cara que ninguém elegeu. O caso do Lula é muito mais maduro e ligado à ideologia. Com Maluf, tinha de puxá-lo para o social. A característica dele eram as obras e uma imagem polêmica. O Lula eu não preciso puxar para nada.

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