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03/01/2002 - 06h53

Joãosinho Trinta organiza desfile no Rio que vai homenagear o Maranhão

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ELVIRA LOBATO
da Folha de S.Paulo, no Rio

João Clementino Jorge Trinta, 68, o famoso carnavalesco Joãosinho Trinta, vencedor de 12 carnavais no Rio (nove deles pelo grupo especial), vai homenagear o Maranhão no desfile da escola de samba Grande Rio.

Joãosinho Trinta garante que o enredo do desfile está escolhido há dois anos e que nada tem a ver com a candidatura da governadora Roseana Sarney (PFL), sua conterrânea, à Presidência da República. "Não misturo as avenidas", disse o carnavalesco, ao afirmar que o enredo da escola não faz referências à pré-candidata nem à família Sarney.

Mesmo assim, ele admite que a coincidência da homenagem com o ano eleitoral vai favorecer politicamente a pré-candidata do PFL: ""São os deuses que estão encaminhando as coisas".

Joãosinho afirma, porém, que a governadora não poderá ir ao desfile: "Ela avisou que não poderia vir se o desfile caísse no domingo, porque estará apoiando o Carnaval do Maranhão".

O carnavalesco disse que, para fazer campanha para Roseana, que ele compara a uma escrava guerreira, subirá, pela primeira vez, em palanque. A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha, concedida no barracão da Grande Rio:

Folha - O senhor diz que o enredo da escola está escolhido há dois anos, mas, nesse tempo, explodiu a candidatura de Roseana à Presidência. Isso influenciará o desfile da escola?
Joãosinho Trinta -
A candidatura não influenciou o enredo. Tudo o que eu queria falar antes, está dito lá. Não há referência a ela nem à família Sarney.

Folha - Mesmo sem citar a governadora, o enredo sobre o Maranhão não vai ajudá-la?
Joãosinho -
Ajuda. Mas, aí, são os deuses que estão encaminhando as coisas.

Folha - Que parte da história o senhor vai mostrar no enredo?
Joãosinho -
Começa em 1612, quando a França prepara a invasão do Maranhão, quando a esquadra desembarca em São Luís. Os franceses eram louros, de olhos azuis, emplumados e falavam uma língua que os índios não conheciam. Por isso, foram apelidados de papagaios amarelos, o que deu nome ao enredo: "Papagaios Amarelos nas Terras Encantadas do Maranhão".

Folha - O pai-de-santo Bita do Barão, que já declarou apoio a Roseana, vai estar no desfile?
Joãosinho -
Ele virá no carro alegórico "Mãe África" como rei negro, mas não vamos nos aprofundar nas magias, que devem ser muito guardadas.

Folha - O governo de Roseana vai contribuir financeiramente para o carnaval da Grande Rio?
Joãosinho -
Só institucionalmente. O governo está indicando empresas que possam patrocinar o desfile com incentivos fiscais da lei Rouanet, mas não haverá dinheiro do Estado.

Folha - A governadora virá para o desfile?
Joãosinho -
Nós a convidamos, mas ela avisou que não poderia vir se o desfile caísse no domingo, porque estará apoiando o Carnaval do Maranhão. Nosso desfile vai ser no domingo.

Folha - O senhor vai fazer campanha para ela?
Joãosinho -
Por ela, farei uma coisa que nunca fiz: subir em palanque.

Folha - O senhor tem liberdade para, durante o desfile, fazer uma homenagem a ela?
Joãosinho -
Não farei isso de jeito nenhum. Não misturo as avenidas. Eu agora vou assumir três avenidas: o Carnaval do Rio, o desfile de Natal, em Gramado (RS), e a eleição da Roseana.

Folha - Quando o senhor vai entrar nessa terceira avenida?
Joãosinho -
Já entrei. Gravei uma participação no programa do PFL. Estou disponível para o que for preciso.

Folha - O senhor conhece a Roseana de longa data?
Joãosinho -
Nos conhecemos em 1997, quando eu ganhei o Carnaval pela Viradouro. Ela me visitou no barracão da escola. Quando olhei nos olhos dela, achei algo que estava procurando havia anos. Em 1994, ganhei meu primeiro Carnaval pela Viradouro com o enredo "Tereza de Benguela, uma Rainha Negra no Pantanal" [na realidade, a Viradouro ficou em terceiro lugar no desfile de 1994; a vitória coube à Imperatriz Leopoldinense].

É a história de uma princesa angolana que veio para o Brasil como escrava e foi mandada para o Mato Grosso. Revoltada pelos maus-tratos, fundou o quilombo do Quariterê e governou com um parlamento, abrigando negros, índios e brancos. Quando Roseana entrou no barracão, vi nela o espírito de Tereza de Benguela e tive a intuição de que seria presidente do país. Disse isso a ela.

Folha - O senhor a compara a uma escrava guerreira, mas Roseana, que já passou por 12 cirurgias, passa uma impressão de fragilidade física.
Joãosinho -
Só quem sofre mostra o seu poder e a sua força.

Folha - O senhor trata como fatalidade essa candidatura?
Joãosinho -
Há nisso uma intuição do povo. O povo está cansado dos homens. Eu sempre acreditei no poder feminino. A mulher é mais intuitiva, sensível, honesta e, sobretudo, está mais próxima da natureza, porque gera, dá à luz e amamenta, experiência que os homens estão longe de experimentar. Um ser que gera outro tem mais condições psicológicas de governar.

Folha - Mas em que isso altera as condições de um governante?
Joãosinho -
Altera sua disponibilidade humanística. Se os homens tivessem filhos, fariam menos guerras, até porque teriam menos tempo para brigar. Os homens estragaram o mundo, inclusive o Brasil.

Veja também:
  • Roseana prepara programa para TV e grava em São Luís

  • Procurador quer retirar outdoors de ACM e Geddel na Bahia


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