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28/04/2002 - 07h33

Como ministro da Fazenda Ciro Gomes promoveu "abertura radical"

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FERNANDO RODRIGUES
da Folha de S.Paulo

Ministro da Fazenda por menos de quatro meses em 1994, Ciro Gomes teve uma gestão controversa à frente da economia do país. Sua medida de maior impacto foi a redução de tarifa de importação de 445 produtos.

Para críticos, como o pré-candidato do PSDB ao Planalto, José Serra, foi uma ação que prejudicou a indústria brasileira. Ciro diz que foi necessário para controlar a inflação e "foi definida coletivamente com a equipe econômica".

O fato é que naquele período o país foi inundado por itens antes vistos apenas em supermercados de países desenvolvidos. Batatas fritas importadas e automóveis fizeram a festa da classe média, que teve acesso a esses produtos por conta do real sobrevalorizado.

Consideradas as datas em que tomou posse -8 de setembro, quando recebeu o Ministério da Fazenda de Rubens Ricupero- e a em que entregou a pasta -1º de janeiro de 1995, a Pedro Malan-, Ciro ficou exatos 116 dias comandando a economia do país.

Foi convidado quando tinha apenas 36 anos e era governador do Ceará. Estava filiado ao PSDB.

Era uma situação de emergência. Rubens Ricupero perdeu o posto depois de ter uma conversa captada por antenas parabólicas. O ministro falava sobre como poderia ajudar a campanha do candidato tucano ao Planalto em 94, Fernando Henrique Cardoso.

Ciro assumiu o posto, segundo relata, "depois de uma conversa" que teve com FHC. "Foi por telefone. Ele estava em Porto Alegre. Implorou para que eu aceitasse."

A característica mais marcante da gestão, depois da redução de tarifas, foi sua verve contra o empresariado. "Estou pouco ligando para o apoio deles", dizia.
Assumiu dizendo que eram necessárias "porradas" para derrubar a inflação. Chamou de "otários" os consumidores que pagavam ágio na compra de carros.

Sua função era a de ser comunicador e coordenador da equipe econômica. O núcleo do time que fez o Plano Real continuava no poder. Ciro participava do processo decisório.

"Além das decisões serem tomadas de forma coletiva, tudo era comunicado a Fernando Henrique. Falava ao telefone diariamente com o Fernando Henrique e dizia que tudo dependia de ações dele mais à frente. Nosso objetivo era salvar o Plano Real."

Segundo o ex-ministro, a economia passava por uma encruzilhada, com a explosão de demanda por causa da moeda forte. A inflação poderia sair do controle e o plano econômico fracassaria. Por essa razão que as tarifas de importação tiveram de ser reduzidas.

"Na equipe econômica, a idéia era reduzir tudo a zero. Fui contra. Apenas um integrante da equipe era contra também: Winston Fritsch [então secretário de Política Econômica]", relata Ciro.

Para o presidenciável do PPS, "tudo que estava sendo feito pressupunha novas ações que seriam tomadas pelo governo que entrava no ano seguinte". Na visão de Ciro, essas medidas incluíam a venda de estatais para diminuir a dívida pública e as reformas tributária e da Previdência.

Os efeitos negativos da redução de tarifas de importação e da sobrevalorização do real, segundo ele, só ficaram mais evidentes porque o governo FHC não teria dado seguimento ao programa.

"Priorizaram a reeleição e tinham de garantir a popularidade fácil", diz. Ciro gosta de repetir que entregou o Ministério da Fazenda "com dívida pública da ordem de R$ 61 bilhões,que hoje já está na casa dos R$ 700 bilhões".

Apesar das críticas, em dezembro de 94, o ex-ministro saudou o eleito FHC como "o político vivo que tem maiores atributos". Logo depois, romperam. "Percebi que o rumo tinha mudado", diz.

Veja também o especial Eleições 2002
 

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