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23/06/2002 - 08h35

Tucanos quebraram o Estado, afirma Maluf

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da Folha de S. Paulo

Paulo Salim Maluf, 70, já traçou sua estratégia para ser eleito governador neste ano: atacar duramente o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Com isso pretende conquistar todos os eleitores insatisfeitos com os oito anos de domínio tucano no Estado.

Por isso prefere poupar seus demais adversários. A estratégia é acompanhada por um mudança em seu discurso. Além dos temas tradicionais da retórica malufista, ele incorporou ao seu repertório críticas à desnacionalização da economia, à privatização de rodovias e estatais e à elevação da dívida pública. Espera assim obter votos do PT e do PMDB. Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha,/b> - Por que ser governador?

Paulo Maluf - Porque tenho experiência. Sou hoje o ex-governador e o ex-prefeito com mais experiência administrativa. O meu temperamento é perfeccionista. Não posso ver nada errado que fico profundamente contristado.

Folha - Se eleito, qual será sua primeira medida?

Maluf - Não existe uma primeira medida. Quem cita uma não tem nenhuma. Você tem de ter um programa de governo. Na primeira semana de governo tem de reunir o secretariado e dar instruções a todas as secretarias. Tenho medidas no emprego, na segurança, no pedágio, na educação. Na Segurança é preciso mudar o sistema prisional, que só hospeda bandidos em motéis três estrelas e não reeduca ninguém. Vou abrir as praças de pedágio: das 23h às 6h, nem caminhão, nem ônibus nem automóvel paga tarifa.

Folha - Assina embaixo da frase bandido bom é bandido morto?

Maluf - Eu nunca disse isso. Eu assino a seguinte frase: bandido bom é bandido preso.

Folha - "Rota na rua" é o slogan adequado para definir sua política de segurança pública?

Maluf - Também, mas não é o único. Essa frase é marca registrada de Paulo Maluf. Quem estiver usando, pode, não cobro royalties, mas está copiando.

Folha - A defesa intransigente dos direitos humanos é uma forma de proteger bandidos?

Maluf - Não penso assim. Ficou essa concepção na idéia do povo porque, quando um soldado é morto, os direitos humanos não vão à casa da viúva. Não. Bandidos têm direito a direitos humanos. Humanos, que são direitos, também têm direito a direitos humanos. Sou contra qualquer violência, inclusive contra bandidos.

Folha - Como conciliar obras com o tamanho da dívida do Estado?

Maluf - Essa é uma boa pergunta para quem mente que saneou o governo, como Alckmin. Ele pegou a dívida com R$ 13 bilhões. Hoje está em R$ 93 bilhões. Se tivesse acrescido ativos, como hidrelétricas, aeroportos, estradas, escolas ou hospitais, poderíamos dizer que valeu a pena. Mas a dívida aumentou sete vezes, e os ativos de São Paulo não existem mais. O Banespa é dos espanhóis, a Eletropaulo é dos franceses. Qualquer um que seja eleito encontrará o Estado em situação deplorável, mas quem deixou o Estado nestas condições foram os tucanos, que tiveram oito anos para quebrar São Paulo.

Folha - O que é malufismo?

Maluf - É sinônimo de trabalho, de acordar cedo e dormir tarde. É respeito à família, é perfeccionismo e amor à pátria.
Folha - E o covismo?

Maluf - Mário Covas era um homem de bem, um homem honrado. Mas não deixou seguidores.

Folha - Nem Alckmin?

Maluf - Jamais seria eleito para qualquer cargo majoritário se não fosse a morte prematura de Covas. Nunca seria eleito governador. Também não acredito na reeleição dele. Não acredito nem que ele chegue ao segundo turno.

Folha - Defina seus adversários.

Maluf - Respeito todos.

Folha - Mas defina Alckmin.

Maluf - Ele não teve méritos. Aumentou a violência e o desemprego. Foi o grande construtor de praças de pedágios e de presídios no interior. Nada mais.

Folha - Genoino.

Maluf - É um homem bem intencionado, um bom parlamentar, tenho respeito por ele.

Folha - E Rossi?

Maluf - Trabalhou comigo, foi um excepcional secretário de Estado, recebi o apoio dele em 1998, acho que é um homem muito útil para a política de São Paulo.

Folha - Mas em 1994, entre Rossi e Covas, o sr. apoiou Covas.

Maluf - Foi um pedido de Fernando Henrique. Foi um apoio sincero e despretensioso. Não pedi nem nomeei nem um ascensorista do Palácio dos Bandeirantes.

Folha - O maior mérito e o maior defeito de FHC e de Alckmin.

Maluf - O mérito de Fernando Henrique foi ter mantido a inflação sobre razoável controle. O grave defeito: não conteve a violência, aumentou o desemprego e não perseguiu a diversificação das pautas de exportação que geraria emprego. É muito simples dizer conseguiu US$10 bilhões do FMI. E para quê? Para vender para os banqueiros tirarem o corpo fora do Brasil a um custo barato.

Folha - E do Alckmin?

Maluf - Verdadeiramente não encontro algo positivo na obra dele. O que sei é que ele continua promovendo o desemprego, a violência, os pedágios e está cometendo um grave engano. Covas demostrou ética ao se licenciar do cargo para fazer a campanha. Alckmin não segue as lições de ética de Covas. Segue as lições de outro professor, o ladrão de casaca. Ele usa o Palácio como comitê.

Folha - Vamos dar nome aos bois. Quem é o ladrão de casaca?

Maluf - Pergunte a ele.

Folha - Mas quem falou foi o sr.

Maluf - Você põe na entrevista. É de minha responsabilidade.
Folha - De sete eleições diretas a cargos majoritários, o sr. ganhou uma. O sr. se sente derrotado?

Maluf - De forma alguma. Sou o homem mais feliz do mundo. Em qualquer cidade do Estado sou reconhecido. Sou muito agradecido a Deus por ter uma boa mulher. Sou um animal em extinção: não conheço um homem casado 47 anos com a mesma mulher e há 35 anos no mesmo partido. Tenho dois genros, duas noras, dois filhos e duas filhas maravilhosos. Tenho 13 netos. Olha aqui (exibe foto da família). Foi Maluf quem fez. Sou feliz. O importante não são as eleições que ganhei, mas a popularidade de quando saí.

Folha - Quando o sr. deixou a prefeitura em 96 fez seu sucessor: Celso Pitta. Tem arrependimentos?

Maluf - Não, você nunca se arrepende do que faz. Só posso dizer que eu errei. Decidi trazer um quadro novo, mas ele [Pitta] não honrou os votos que recebeu.

Folha - O sr. o indicaria de novo?

Maluf - Eu errei, mas nada muda o fato. Mas São Paulo ganhou com minha derrota em 2000?

Folha - O sr. acha que ganhou?

Maluf - Não sei. Você tem todos os instrumentos do Datafolha para responder essa pergunta.

Folha - Qual a diferença entre o Maluf de hoje e o que disputou com Tancredo Neves em 1985?

Maluf - Aprendemos na vida. Hoje sou muito mais experiente. Se hoje fosse eleito presidente da República, em vez de 85, com certeza seria um presidente melhor.

Folha - O sr. ainda sonha ser presidente? Não ter sido é uma frustração em sua carreira política?

Maluf - Não. Deus escreveu (dizem as pessoas para me consolar) que o presidente eleito em 85 iria morrer. Então, Ele me poupou (risos). Evidentemente falo isso em tom de ironia. Gostava muito de Tancredo, e queria ele vivo.

Folha - Sonha com o Planalto?

Maluf - Sonho hoje em ser o melhor governador de São Paulo. Se Deus me der uma graça, ele me dará esta eleição para eu fazer a administração de minha vida, vou mostrar que sou competente.

Folha - As investigações de Jersey atrapalham sua campanha?

Maluf - Não. São mentirosas. Depois de um ano sem provas, membros do Ministério Público, que deveriam zelar pela imparcialidade da instituição, desejam fazer do órgão um partido político. Sr. Alckmin, acuso-o de receber no Palácio dos Bandeirantes promotores e de organizar essa farsa. Acuso-o de querer usar o Ministério Público como partido político.

Folha - Se a conta não existe, por que seus advogados tentam impedir as investigações na Justiça?

Maluf - Está respondido. O que não posso permitir é que minha reputação seja manchada por promotores a serviço do PSDB.

Folha - Por que o nome Paulo Maluf sempre esteve associado a denúncias de desvio de dinheiro?

Maluf - Não tenho nenhuma condenação. Todas as minhas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União, do Estado e do Município. Tenho 18 declarações públicas de bens e hoje tenho menos do que tinha quando comecei em 1967. No Brasil devem existir políticos tão honestos quanto Paulo Maluf, mas mais honesto não tem. Estou há 35 anos na política: não tenho jornal, não tenho concessão de rádio ou de TV. Sou um político limpo.
 

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