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13/08/2002 - 15h59

Collor está se vingando de mim, diz Ciro (íntegra 3)

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da Folha Online

Leia abaixo a primeira parte da sabatina com o candidato Ciro Gomes. Nesse trecho ele responde às primeiras perguntas dos jornalistas Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, Clóvis Rossi e Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial da Folha, e Carlos Eduardo Lins da Silva, diretor-adjunto de Redação do jornal "Valor".

Ciro continua sua defesa, dizendo que não tem compromisso de cargo público com ninguém, com nenhum partido, e diz que lutou contra Collor. Acompanhe:

Ciro Gomes: Só um minuto, só um minuto. Eu não tenho compromisso de cargo público com ninguém. Nem com Roberto Freire, nem com Leonel Brizola, nem com o PTB, nem com as dissidências do PMDB, nem com os dissidentes do PFL, nenhum.
(Intervenção da platéia): E com o Collor?
Ciro Gomes: Nem com o Collor. Muito menos com o Collor, de quem sou adversário histórico, a vida inteira.
Carlos Eduardo Lins da Silva: Governador,...
Eleonora de Lucena: Mas o Collor lhe apóia....
Ciro Gomes: Unilateralmente, com um ar de vingança, que eu repudiei. Claro. O que é que eu posso fazer? (aplausos).
Carlos Eduardo Lins da Silva: Governador,...
Ciro Gomes: É fato, está ali, não sei se o dossiê é generoso e bem informado, é fato o seguinte: lutei contra o Collor no primeiro turno, votando no Mário Covas, lutei contra o Collor no segundo turno votando no Lula, e eu era já prefeito de Fortaleza, eu lutei pelo impeachment...
Eleonora de Lucena: Antes disso, o senhor defendeu que o PSDB entrasse no governo Collor.
Ciro Gomes: Nunca defendi.
Eleonora de Lucena: O senhor defendeu isso publicamente.
Ciro Gomes: Nunca defendi, isso é mentira.
Clóvis Rossi: É que está no dossiê, aqui, uma frase atribuída a você pela revista "Veja" de 12 de fevereiro de 92: "O governo vai melhorar, e muito, este ano. Collor está golpeando a roubalheira.".
Ciro Gomes: Eu acreditei nisso.
Eleonora de Lucena: E o senhor já defendeu a entrada do PSDB no governo...
Ciro Gomes: Não, eu nunca defendi isso. Eu defendi isso porque, veja bem, ali se envolveram Adib Jatene, Goldemberg, Célio Borja, ele tinha feito uma mudança fundamental, acenando para o país a disposição de mudar, e eu que vinha criticando, que me recusei a ir ao aniversário dele, fui o único governador, eu que telegrafei à Folha de São Paulo quando foi invadida, contra o Collor, eu que simplesmente tive confrontos com ele o tempo inteiro, acho que, quando ele tomou um gesto de mudar, merecia um crédito. Eu não posso ser responsável pelo que vem a futuro onde eu estava alinhado ao impeachment como o único governador que pioneiramente se atirou na luta pelo impeachment.
Carlos Eduardo Lins da Silva: Governador, em relação a esse personagem...
Ciro Gomes: Aí (só completando), lá em Alagoas, a sessão local do PPS, por razões de quociente eleitoral, alinhou-se, na proporcional, com o PRTB, que vem a ser o partido dele. Eu apelei à direção do meu partido para desfazer essa aliança. A direção do meu partido entrou lá com o recurso, caiu esse recurso na Justiça. A direção do meu partido me prometeu que recorreria, depois os advogados disseram que era inviável o recurso. Eu tenho um candidato a governador que se chama Geraldo Sampaio, que é do PDT, em Alagoas. O resto... ele é um galhofeiro. Unilateralmente, ele pega e diz: "Eu vou apoiar Ciro Gomes. Ciro Gomes está crescendo porque parece comigo". O que ele está fazendo? Se vingando de mim, pura e simplesmente.
Carlos Eduardo Lins da Silva: Em relação a esse personagem, governador, o senhor tem sido muitas vezes comparado a ele como um novo Collor. Se é justa ou não é justa a comparação, cabe a cada eleitor decidir. Em relação à sua vida pessoal e à sua vida administrativa, não tenho nenhuma informação que possa me fazer compará-lo a ele. No entanto, em relação a temperamento, nas últimas semanas, nos últimos meses, o senhor tem dado alguns exemplos que, por vezes, nos fazem lembrar o candidato Collor. Quando o senhor xinga os fotógrafos de babacas porque estão cumprindo a sua obrigação, quando o senhor interrompe intempestivamente um estudante na Universidade de Brasília que estava lhe dirigindo uma questão, quando o senhor, também intempestivamente, agride um ouvinte de rádio na Bahia que estava dirigindo uma questão legítima. Até que ponto a sua personalidade, o senhor que até deve ter convivido com o presidente Collor, até que ponto a sua personalidade e a dele se assemelham e até que ponto a imagem de que a sua personalidade se assemelha à dele pode prejudicar sua campanha?
Ciro Gomes: Não sei quanto desse preconceito vai se disseminar pelo fato de eu ter um estereótipo: relativamente jovem, nordestino...
Carlos Eduardo Lins da Silva: Mas não é esse o ponto.
Ciro Gomes: Esse é um estereótipo que permite fazer isso. O resto é tudo diferente: a origem social, a prática política, o comportamento humano.
Carlos Eduardo Lins da Silva: E temperamento?
Ciro Gomes: O temperamento é profundamente diferente. Eu posso, por exemplo, recuperar isso. Os fotógrafos, eu tenho o melhor relacionamento com todos, o melhor relacionamento com todos. (risos)
Ciro Gomes: Escuta aqui... alguém sabe de alguma coisa em oposição que possa justificar um deboche desse? Qual foi o precedente? Eles estão aqui os fotógrafos.
Carlos Eduardo Lins da Silva: E esse "babacas"?
Ciro Gomes: Simplesmente não houve, não aconteceu. Vamos a outra, como versões, é impressionante, eu estou impressionado. Eu andei duas horas no centro de Campinas, duas horas, inteirinhas. Na rua, sem segurança, como eu sempre fiz. Abraçando, beijando, dando autógrafo, recebendo apelos, "olha o emprego", "olha a segurança", andando, estendi a mão para um camelô e o camelô disse: "Eu não cumprimento quem não seja petista". Eu disse: "Mas eu não estou... é só um ato de educação", e ele disse: "Eu só falo com petista". "Então me desculpe", segui adiante. Duas horas de caminhada e de relacionamentos absolutamente naturais, sem segurança, na rua, viraram duas fotos, uma na primeira página e outra lá dentro, resumindo ao meu ato, que camelô se recusa a dar a mão a Ciro Gomes, e eu simplesmente fui educado de estender a mão, como eu estendo a todos os meus adversários. Qual é a outra questão?
Gilberto Dimenstein: Tem mentira na foto?
Ciro Gomes: Não tem, tem manipulação.
Gilberto Dimenstein: Qual manipulação?
Ciro Gomes: Quem viu aquele fato pela Folha imagina que... não sabe o que aconteceu lá. Isso a gente conhece, Gilberto. Vamos deixar de papo. (aplausos). Vamos à outra. Vamos a outra. Eu estou, e fui, como todos os candidatos a presidente da República, eu fui convidado pela Universidade de Brasília para um debate sobre um livro que é "Repensando o Brasil", um conjunto de debates que eles fizeram cumprindo o papel extraordinário da universidade. O único candidato que foi até agora fui eu, por quê? Porque os marqueteiros dizem que essa não é a hora mais de você ir a um ambiente universitário, e eu, que sou professor de universidade, sei que sempre terá ali um grupo de adversários, o ambiente de informalidade ou de, enfim, de liberdade absoluta na universidade, é uma maravilha. Mas eu disse: não me custa nada, eu vou lá, levar uma vaia de 5 estudantes, não me custa nada. Vou lá cumprir o meu dever democrático, que eu considero fundamental. O debate tinha as seguintes regras: eu falava durante um período, e tinha regras rígidas, falava durante um certo período, em seguida o auditório fazia perguntas por escrito e um moderador lia as perguntas. E assim processou-se o debate. O moderador me fez uma pergunta sobre cotas para negros. Eu disse para ele que não tinha opinião formada sobre o assunto, que achava isso um tema polêmico, que eu estava consultando os movimentos negros do Brasil, que havia entre eles uma divisão profunda, se a melhor solução era de regime de cotas ou não era, e que eu, portanto, não tinha como responder afirmativamente àquela pergunta. Um garoto, com um boton do PT aqui, um boton do PT, que estava num grupinho lá atrás, vaiando, veio e começou a falar. O reitor disse: "Não pode". O moderador disse: "Não pode". Ele continuou falando e o grupinho que apoiava disse: "Deixa ele falar". Aí eu peguei o microfone e falei: "Não deixa ele falar, não. Isso aqui tem uma regra. Se quiser falar comigo, eu desço e vou conversar com ele depois do assunto". E foi só. O resto... a pessoa que quis quebrar uma regra do debate, com um boton de militante de um candidato de oposição a mim.

Leia as íntegras:

  • 1. Leia íntegra do início da sabatina e a apresentação de Ciro

  • 2. Ciro fala do apoio de ACM e de setores da direita

  • 3. Collor está se vingando de mim, diz Ciro

  • 4. Ciro fala sobre o acordo com o FMI

  • 5. Ciro fala sobre permanência de Fraga no BC em seu governo

  • 6. Ciro diz que dólar vai cair a partir do dia 15

  • 7. Ciro fala sobre inflação e distribuição de renda

  • 8. Ciro fala de Alca, Mercosul e política externa

  • 9. Ciro responde a leitores sobre segurança e elo com Collor

  • 10. Ciro responde pergunta sobre sua formação e drogas

  • 11. Ciro responde leitores sobre educação e cultura

  • 12. Ciro fala sobre reforma agrária e confisco de poupança


  • Leitores esperam que Ciro esclareça pontos econômicos de coligação


  • Lula 'foge' de pontos centrais e ataca só Ciro na 1ª sabatina da Folha


  • Especial Eleições 2002
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