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06/02/2008 - 10h35

SP usa menos da metade de verba para reforma agrária

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CRISTIANO MACHADO
Colaboração para a Agência Folha, em Teodoro Sampaio (SP)

O Estado de São Paulo usou, nos últimos cinco anos, menos da metade da verba repassada pelo governo federal para compra de áreas consideradas devolutas (públicas, com suspeita de apropriação ilegal no século passado) no Pontal do Paranapanema (oeste do Estado).

A compra das áreas é uma das principais formas de criar novos assentamentos e reduzir o conflito agrário na região, palco de 223 (48,2%) das 462 invasões de terra ocorridas no Estado de janeiro de 2003 a outubro de 2007, segundo levantamento do Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo).

Cruzamento de dados do órgão estadual e do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) aponta que, nos quatro anos do segundo mandato de Geraldo Alckmin (2003-2006) e no primeiro ano do também tucano José Serra (2007), o governo paulista prestou contas da utilização de somente R$ 26,2 milhões dos R$ 57,4 milhões repassados pela União em duas parcelas (2003 e 2006).

O número corresponde a 45,6% da verba. Isso significa que o Itesp deixou de usar R$ 31,2 milhões repassados.

Por meio da assessoria de imprensa, o Itesp afirmou ter empenhado na aquisição de fazendas um valor superior: R$ 34,4 milhões, ou 59,9% do total da verba anunciada pelo Incra.

Segundo o instituto, os R$ 8,2 milhões que não aparecem na prestação de contas ao Incra foram gastos na compra de duas fazendas, mas, de acordo com a assessoria, essa informação ainda não foi repassada ao órgão do governo federal.

Assentamentos

Os dados declarados mostram que, com a verba, o Estado fechou acordos para compra de nove fazendas no Pontal, um total de 7.966,85 hectares, o suficiente para assentar 479 famílias --hoje há na região 3.774 famílias cadastradas à espera de um lote de terra.

Das nove fazendas adquiridas com dinheiro do convênio, apenas duas se transformaram em assentamento. Outras cinco permaneciam invadidas por movimentos sociais até o início da semana passada.

Em quatro delas, visitadas pela Folha, os sem-terra usavam, sem autorização, a estrutura (pasto, água e luz) e até decidiram lotear um dos imóveis e tombar a terra para plantio de milho, mandioca e feijão.

Planilhas de áreas compradas com dinheiro do convênio obtidas pela reportagem mostram que, nos dois primeiros anos de validade do convênio, o Estado gastou R$ 16,3 milhões dos R$ 29,4 milhões do acordo para a compra de cinco áreas.

Já em 2005, o Itesp não fez nenhuma aquisição de terras. Com isso, segundo o Incra, "houve redução nos repasses seguintes". Entre 2006 e 2007, com a assinatura do aditivo de R$ 28 milhões, foram adquiridas quatro áreas. O Itesp prestou contas de só duas delas.

O Incra disse que a "intenção era que outros aditivos fossem sendo acordados a cada ano". Apesar de não ter sido utilizado todo o montante, Incra e Itesp firmaram em dezembro passado novo termo aditivo prevendo R$ 25 milhões para 2008.

O diretor-executivo do Itesp, Gustavo Ungaro, afirmou que não vai comentar os números por não ter "os dados em mãos". Mas confirmou que há dificuldades para arrecadação de terras. "O Estado encontra limitações, dificuldades por depender de acordos para pôr fim a disputas judiciais com os fazendeiros", declarou.

Para sem-terra e ruralistas, isso é "desculpa". "É a demonstração clara de que o governo tucano em São Paulo tem o compromisso com a oligarquia, o latifúndio, o agronegócio", diz José Rainha Jr., que, mesmo afastado da direção do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), domina a maior parte dos acampamentos de sem-terra do Pontal.

Já o presidente nacional da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia, criticou o argumento do diretor do Itesp. "Vende a terra quem quer. Vivemos numa democracia e ninguém é obrigado a vender a sua propriedade goela abaixo pelo preço que o Incra, o Estado quer."

Comentários dos leitores
Marcelo Takara (65) 01/02/2010 18h28
Marcelo Takara (65) 01/02/2010 18h28
Sr Mauricio de Andrade.
Má distribuição de riquezas e terras são problemas, mas não são mais graves do que o nosso sistema educacional público. Este sim, nosso maior problema, que perpetua o ciclo vicioso da concentração de riquezas. Resolva-se o problema da educação e eliminamos o problema da miséria. Educação dá discernimento, cidadania, melhora a qualidade na escolha de políticos e multiplica as chances de inclusão social e econômica. É a solução mais eficaz e qualquer estatística sobre índices de desenvolvimento humano mostram isso, e isso independe do sujeito pertencer ao campo ou a cidade.
sem opinião
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Marcelo Takara (65) 01/02/2010 17h43
Marcelo Takara (65) 01/02/2010 17h43
Acho que não me fiz entender direito.Valoriza-se mais as posses materiais do que a formação educacional. A agricultura familiar mudou muito, comparada àquela que se praticava décadas atrás. Sou de origem japonesa, meus avós foram agricultores, meu pai foi agricultor e migrou para cidade, onde conseguiu montar um comércio, graças a algumas boa colheitas. Detalhe: meu pai nunca foi proprietário de terras, sempre arrendou. Tenho alguns tios que continuaram na agricultura, no cultivo de hortaliças, e eles somente conseguem se manter porque se adaptaram, do contrário é difícil manter os custos. Atualmente, mesmo para tocar uma pequena propriedade, é necessário conhecimento técnico e qualificação para manejo sustentável, rotação de culturas, uso correto de fertilizantes e recuperação de solo. Ou seja eis a necessidade da QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL. A má distribuição de riquezas é consequência funesta da incapacidade de nossos governantes em dar uma educação digna à toda população, daí o fato de haver o exército de desempregados nos grandes centros urbanos. Igualmente continuarão a levar uma vida miserável mesmo na posse de uma terra, se não houver capacitação técnica. Por outro lado, tem surgido muitas vagas de empregos em muitas cidades pequenas e médias do interior do Brasil, que não são preenchidas por falta de formação educacional. A distribuição de terras pode até ser uma solução para o campo, mas não é a única. A melhor solução é de longo prazo e é EDUCAÇÃO. sem opinião
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Tiago Garcia (41) 01/02/2010 11h04
Tiago Garcia (41) 01/02/2010 11h04
A lei é para todos sem exceção.
Se a Cutrale grilou ou não fazenda a justiça que resolve, não o MST que eu nunca votei nem autorizei a fazer valer a vontade da lei. MST não tem legitimidade para isso.
A anos atrás quando eu estudei o MST seu principal argumento para invasões sempre era os grandes latifúndios improdutivos, terras paradas nas mãos da especulação. O que aconteceu com essa justificativa do MST?
2 opiniões
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