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05/09/2002 - 09h30

Candidatos recorrem a bizarrices para fisgar atenção e votos

CLÁUDIA CROITOR
da Folha de S.Paulo

Em 1994, com pouquíssimos segundos no horário eleitoral, o cardiologista Enéas Carneiro obteve a terceira maior votação entre os candidatos a presidente, com mais de 4,6 milhões de votos. Sua estratégia: repetir à exaustão o bordão "Meu nome é Enéas".

Seguindo a moda lançada por Enéas, que concorre a vaga de deputado federal pelo Prona, candidatos a deputado e senador por São Paulo recorrem a verdadeiros malabarismos, alguns abertamente apelativos ou mesmo circenses, para tentar driblar o anonimato e fisgar a atenção do eleitor dentro do tempo escasso de que dispõem na TV.

O corretor de imóveis Samuel Silva, candidato a deputado estadual pelo PMN, decidiu que faria com que o eleitor ao menos decorasse seu nome, entre os 1.572 candidatos ao cargo no Estado. Levou a estratégia de Enéas ao extremo: passa todos os 30 segundos de sua propaganda repetindo "Samuel Silva, Samuel Silva, Samuel Silva, Samuel Silva".

"Os candidatos ficam meia hora só para decorar os textos que têm de gravar. Imagina então o eleitor, que só os assiste por 30 segundos", afirma ele. Questionado se não seria o seu número que deveria ser divulgado, em vez do nome, ele contesta: "A intenção é despertar a curiosidade. Aí as pessoas procuram saber qual é o meu número, e saberão através dos meus panfletos". No folheto, ele tenta surpreender: "Pensou que eu só sabia dizer o meu nome? Então conheça minhas propostas".

A estratégia do candidato a deputado federal Marcílio Duarte Lima, do PST, é oposta à de Silva. Ele só divulga seu número, sem mencionar seu nome. Espalhou pelas cidades faixas e banners com os dizeres "Quem é 1818?".

"Primeiro quis construir a pessoa 1818. Agora vamos passar a falar das qualidades do 1818, para depois revelar quem ele é", explica o candidato, que promete a grande revelação para o horário eleitoral do próximo dia 17. Segundo ele, foi essa estratégia que o levou a se eleger vereador na cidade de Mairinque (interior de SP).

Fazer o eleitor decorar seu número é também a tática de Osvaldo Enéas Nantes Soares, sósia de Enéas Carneiro. Depois de perder na Justiça, na última semana, o direito de usar nas eleições o nome de Enéas _que havia adotado justamente por causa de sua semelhança com o candidato do Prona_, Soares repete para o telespectador: "Decore! 1, 4, 5, 6; 14, 5, 6; 14, 56". O nome mudou, mas a voz continua igual à do original.

Lucas Albano, candidato ao Senado pelo PMN, sabe que não é conhecido do público e que tem poucas chances de se eleger. Por isso lança mão de um ardil estratégico no horário eleitoral. Sai ele mesmo às ruas com um microfone, perguntando às pessoas o seu voto para senador. A resposta nunca coincide com seu nome, então ele pede: "Nesse caso, deixe eu ser seu segundo candidato".

Concorrendo a uma vaga na Câmara dos Deputados, Beatriz Duarte, do PTB, começa sua propaganda se apresentando. "Sou a inventora do lava-arroz", diz, com o utensílio na mão, para em seguida afirmar ter "soluções criativas e justas" para os pacientes e os profissionais de saúde.

Wadão, que concorre a uma vaga na Câmara estadual pelo PMDB, levou um jegue ao horário eleitoral para chamar a atenção e protestar. "A violência está tão grande que até meu jegue foi sequestrado. Paguei o resgate para tê-lo de volta", diz na propaganda. No final, toca uma corneta.

Não é o único a levar um animal ao horário político. O deputado federal Marcos Cintra (PFL), que tenta a reeleição, divide seu espaço na TV com um leão _de verdade. "Além de ser o símbolo do Imposto de Renda, o leão chama a atenção, já que a propaganda política é monótona e insuportável para o telespectador." O leão é alimentado com um saco de frangos inteiros antes das gravações. "Ele fica bem sonolento. O leão é manso, mas é melhor não arriscar."

Veja também o especial Eleições 2002
 

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