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26/09/2002 - 05h04

Peter Collins: Um calmante para os mercados

PETER COLLINS
especial para a Folha de S.Paulo

Apesar de vestir de terno e falar em estabilidade, Lula ainda não convenceu os mercados, e quanto mais ele sobe nas pesquisas, mais sobem o dólar e o risco-país. Como a maior parte da dívida pública está atrelada ou ao dólar ou à taxa Selic (que, nas condições atuais, o BC não pode cortar), alguns economistas dizem que a dívida acabará sendo insuportável a não ser que as condições do mercado melhorem.

Portanto, se vencer, Lula terá urgentemente que "dar um calmante" aos mercados, tranquiilizando-os no sentido de que um default não seria inevitável e que o seu governo seria sim capaz de manejar as finanças.

Pois, vale um olhar atrás na vitória do Tony Blair nas eleições britânicas de 1997: apesar dos esforços dos conservadores de pintar Blair de "inexperiente" e os novos Trabalhistas de "lobos vestidos de ovelhas", os mercados saudaram a chegada deles ao poder com uma subida na libra, nos bônus governamentais e na Bolsa de Valores.

Claro, há diferenças entre os dois casos: embora o PT mantenha o mesmo líder ex-sindicalista barbudo que só recentemente deixou de falar na linguagem radical, Blair foi um novo líder de uma geração mais nova, um advogado que foi da escola particular à Universidade de Oxford, e nunca tinha sido esquerdista.

Ainda assim, há lições para Lula tirar do êxito do Blair em acalmar os investidores. No dia depois da eleição, ele criou um "choque positivo" ao anunciar que daria independência ao Banco da Inglaterra (banco central). O presidente dele continuaria o mesmo.

Já o PT não descarta a independência do BC. Manter no cargo seu presidente, Armínio Fraga, de forma permanente é tido como improvável, mas pedir a ele que fique alguns meses para ajudar na transição, não tanto.

Blair já tinha se comprometido com a meta da inflação de 2,5% do governo anterior. Lula, se for eleito, deve anunciar a sua meta o quanto antes, e de preferência o mais perto possível da atual meta central de 4% para 2003.

Tal "choque positivo" também pode ser criado por anunciar a intenção de aprovar, nos primeiros meses de governo, reformas ousadas tributárias ou previdenciárias, especialmente.

Tony Blair repetiu constantemente que manteria nos primeiros dois anos os limites de gastos públicos previstos pelo governo anterior. Quanto mais vezes o Lula repetir o compromisso recente de manter um superávit primário suficiente para estabilizar a proporção dívida/PIB, melhor.

Em 1997 os mercados duvidaram pouco da capacidade do Blair de frear a ala radical do seu partido porque ele chegou no poder com uma maioria esmagadora de deputados, muitos deles "clones" seus moderados. Lula não terá essa vantagem, mas pode acalmar os mercados por construir uma maioria com os grandes partidos de centro, como PSDB e PMDB. Seria um erro pensar em um governo minoritário que só busque maiorias eventuais para aprovar reformas.

A proposta de Aécio Neves, que provavelmente será governador do segundo maior Estado brasileiro, além de ser um dos principais caciques tucanos de um pacto de governabilidade entre governadores e executivo federal, deve ser acolhida de braços abertos. Afinal, será difícil, mas não impossível, para um eventual presidente Lula superar o pessimismo profundo dos mercados e convencê-los que, nas palavras do jingle do Blair em 1997, "As coisas só vão melhorar".

PETER COLLINS, correspondente no Brasil da revista inglesa "The Economist", escreve mensalmente nesta seção, às quintas-feiras
 

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