Na CPI, deputado usa vídeo de 2006 para acusar ministro de fazer campanha para Lula

O deputado Vic Pires (DEM-PA) acusou hoje o ministro Altemir Gregolin (Pesca) de ter feito campanha eleitoral para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, durante compromisso oficial ao interior do Pará. A viagem --custeada pelo ministério-- serviu para entregar carteiras de trabalho a pescadores.

Pires levou à CPI dos Cartões Corporativos --onde Gregolin presta depoimento nesta quinta-feira-- um vídeo que teria imagens do ministro em campanha nas eleições presidenciais de 2006. No vídeo, Gregolin faria ameaças ao então candidato Geraldo Alckmin (PSDB).

"Se esse governo é sério, esse ministro tem que ser demitido. Eu vou ouvir o que ele vai dizer, mas estou dizendo a ele que tudo que estou lendo tem provas. Tem tudo gravado, filmado, não tem como ele tirar uma vírgula daqui. Ele estava em missão oficial, mas tudo que diz aqui é campanha pura. O senhor usou a máquina do governo federal para eleger um deputado federal e pedir votos em troca dessas carteiras dos trabalhadores da pesca", afirmou Pires.

Antes das acusações do democrata, o ministro havia confirmado que esteve no dia 6 de outubro no interior do Pará para cumprir agenda oficial. Gregolin reconheceu que pagou suas despesas com os cartões corporativos, uma vez que estava em horário de trabalho.

"Eu usei o cartão, era missão oficial. Usei cartão e o meu pessoal. No pagamento de hotel o cartão corporativo não funcionou, por isso pedi ressarcimento", disse o ministro.

Gregolin rebateu as acusações de Pires ao afirmar que a denúncia de uso da máquina para campanha eleitoral já foi solucionada pela Justiça do Pará. "Eu não tenho lembrança exatamente da fala, estou acreditando no senhor. Mas isso foi utilizado pela oposição lá, teve ação na Justiça que foi arquivada porque não caracterizou como uso eleitoral", afirmou o ministro.

Inicialmente, Gregolin negou que tivesse feito campanha para Lula. "Os diálogos que o senhor leu correspondem a uma fala numa plenária do PT, à noite, fora de horário de trabalho." Depois que Pires ameaçou repassar as imagens para a imprensa, o ministro voltou atrás e disse que "não lembrava" da ocasião. "Eu tenho muito orgulho de estar no governo Lula, um trabalho reconhecido pelos pescadores. Nós não misturamos campanha com agenda oficial."

Segundo Pires, o ministro disse durante atos oficiais no interior do Pará que os pescadores tinham que ir "para a porrada" contra a oposição, uma vez que se Alckmin fosse eleito privatizaria a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. "A gente tem que dizer isso para o povo, que vai perder o Bolsa Família, o Luz para Todos. Então, vamos botar todas as nossas energias nos deputados eleitos", teria dito Gregolin, segundo relato de Pires.

Irritação

Parlamentares da oposição ficaram irritados com a justificativa apresentada por Gregolin. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) disse que vai ingressar com ação de improbidade administrativa contra o ministro.

"É impossível desconhecer a imoralidade dos seus atos. Eu tenho o maior cuidado em não prejulgar quem quer que seja. Vossa Excelência perdeu a noção do que essa CPI representa. Parece que somos crianças de cinco anos de idade. Se atenha aos fatos, o senhor não está falando com crianças. Eu nunca vi um ato tão vexatório como esse", enfatizou Sampaio.

Gregolin, por sua vez, reiterou que não fez campanha para o presidente Lula em atos oficiais. "É essa a resposta, eu não fiz uso indevido", encerrou.