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07/10/2002 - 07h32

Malufismo enfrenta decadência pós-Pitta

LUIZ CAVERSAN
da Folha de S.Paulo

Em sua quarta derrota na disputa para o cargo de governador de São Paulo (que ocupou entre 1979 e 1982), Paulo Maluf experimentou uma queda surpreendente nas pesquisas. Pouco mais de um mês atrás, era impensável que ele não fosse para o segundo turno.

Chegou a ter mais votos que Geraldo Alckmin (PSDB) e José Genoino (PT) juntos: 40% contra 34% dos dois outros. Mas sua candidatura não se sustentou nas pesquisas e ele caiu continuamente: 35%, 29%, 26%, 26% e 24%.

O que tirou Maluf da disputa? Na opinião do historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos, Marco Antônio Villa, 47, ele perdeu, nos últimos anos, suas principais bandeiras e suas bases municipais. "Ele foi governador há muito tempo, há 20 anos. Já houve três gestões do PMDB e duas do PSDB. Suas bases municipais se pulverizaram. E, nesta eleição, quem mostrou obras na televisão foi o Alckmin."

Outra bandeira sobre a qual Maluf perdeu a exclusividade foi a do combate à violência, afirma Villa: "O Genoino assumiu um discurso duro, como o eleitorado paulista gosta". Para Villa, a perda de espaço de Maluf em um Estado de "larga tradição de voto conservador" também pode ser creditada à administração de seu sucessor na Prefeitura de São Paulo: "Celso Pitta foi um desastre".

É também a opinião do cientista político e professor da PUC e FGV Fernando Abrucio, 33, para quem o malufismo padece dos efeitos da crise Maluf-Pitta. "O malufismo já esteve em patamares melhores. Decaiu a partir da crise Pitta e vai demorar para se recuperar."

Segundo Abrucio, a trajetória de alta nas pesquisas no começo da campanha e de queda no final é recorrente: "Ele começa bem porque nunca pára de fazer política. Também aparece antes que os demais candidatos nos meios de comunicação de massa no período pré-eleitoral. E sempre concentra o voto de protesto nesse período." Quando a campanha começa de fato, porém, aumenta muito a rejeição: "Desta vez, a indignação cresceu muito por causa do Pitta".

Algumas tendências estruturais também pesaram em sua derrota. A principal base eleitoral de Maluf, os trabalhadores autônomos e profissionais liberais, ainda permanece fiel ao candidato, mas vem diminuindo em termos relativos nas últimas décadas (no Brasil, tal proporção caiu para 35,1%, em 1960, para 22,7%, em 1998). Essa redução vem estreitando as bases políticas do malufismo.

Outros estratos, como os assalariados de renda mais elevada, que haviam aderido a Maluf após a vitória de Luiza Erundina em 1988, abandonaram o candidato durante a gestão Pitta. Restou ainda a Maluf um eleitorado conservador de baixa renda e escolaridade, que se mostrou fundamental na eleição municipal de 2000, quando superou Alckmin por uma diferença apertada. Justamente essa camada deve ter enfrentado dificuldades ontem para digitar seis números na urna eletrônica.

Paulipetro
Adepto da insistência como caminho para o sucesso, Paulo Maluf já tentara se tornar o titular da principal cadeira do Palácio dos Bandeirantes em 1986 (ficou em terceiro lugar, atrás de Orestes Quércia, do PMDB, e de Antônio Ermírio, do PTB), em 1990 (perdeu para Luiz Antônio Fleury Filho, na época no PMDB) e em 1998 (perdeu para Mário Covas).

Na verdade queria retomar, pela via do voto, o posto de que desfrutou graças aos artifícios do regime militar: em 1978 ele venceu a convenção da Arena, o partido do governo, que indicava o governador. Fez uma administração polêmica, dando notoriedade à Paulipetro, estatal criada para procurar petróleo no Estado. Gastou US$ 500 milhões em perfurações, mas só achou água e um pouco de gás.

Deixou o governo estadual em 1982 para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, sendo eleito com 672.629 votos _maior votação em números absolutos para o cargo. Em seguida, tentou a Presidência via Colégio Eleitoral, em 85, mas foi derrotado por Tancredo Neves por 480 votos a 180.

Eleição majoritária mesmo, só ganhou uma das que disputou: a de prefeito de São Paulo, em 1992. No regime militar, ele já havia ocupado o mesmo cargo, como prefeito nomeado, de 1969 a 1971.

Tentou retornar à prefeitura paulistana em 1988, dessa vez em eleições diretas, mas perdeu para Luiza Erundina (então no PT). No ano seguinte, disputaria a Presidência da República, mas seria superado por seu ex-correligionário (e afilhado de casamento) Fernando Collor de Mello. Em 1990, perdeu o governo paulista, no segundo turno, para Fleury.

Após vencer Eduardo Suplicy (PT) no segundo turno em 1992, conseguiu eleger seu sucessor, Celso Pitta, em 1996. Os reflexos negativos da administração Pitta pesaram em suas derrotas subsequentes -para o governo do Estado, em 1998, e para a prefeitura paulistana, em 2000 (quando foi derrotado por Marta Suplicy).

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