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20/10/2002 - 20h56

Veja a íntegra do pronunciamento de Lula no horário eleitoral

da Folha Online

O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se antecipou hoje ao pronunciamento do presidenciável José Serra (PSDB) e fez um discurso no horário eleitoral desta noite para dizer que o tucano tenta responsabilizá-lo por uma crise "que está ligada ao atual governo."

Veja a íntegra do pronunciamento de Lula no horário eleitoral:

"Meus amigos e minhas amigas do Brasil,

Estamos a uma semana das eleições, talvez da mais importante eleição da nossa história. Exatamente por isso, todos estão muito atentos a tudo que tem acontecido durante este processo eleitoral. Desta vez, o povo não quer mais errar, pois tem a clara consciência de que, sempre que há um erro, é sempre ele, o mais fraco, o mais sofrido, que arca com a maior fatia do sacrifício. É exatamente por isso que, neste momento, eu quero ter uma conversa franca com você, eleitor brasileiro, e para a qual peço sua total atenção.

Existem algumas coisas que você precisa saber de forma bem clara e objetiva, coisas que dizem respeito a mim, a você e ao futuro do Brasil. Estamos diante de uma crise séria, uma crise que não é nova, mas que inegavelmente foi agravada depois de oito anos de uma política econômica totalmente equivocada, que resultou na menor taxa de crescimento econômico do nosso país nos últimos 50 anos.

Mais grave: em vez de investir pesado na produção, na exportação e na geração de empregos, optou pela conta política do endividamento externo, fragilizando a nossa economia e expondo o Brasil à especulação financeira. É como aquele sujeito que gasta mais do que ganha e todo fim do mês vai ao banco e toma um novo empréstimo, acreditando que assim o seu problema está resolvido. É claro que isso não pode dar certo. Como se não bastasse, o atual governo vendeu 76% do patrimônio do Brasil, com as absurdas privatizações.

Toda essa instabilidade econômica e a crise do dólar que você vê na televisão estão sempre, de uma forma ou de outra, ligadas a isso, da mesma maneira como os altos juros que o governo é obrigado a manter e a inflação que está perigosamente reaparecendo na nossa economia. Para você ter uma idéia do que isso tem significado para o nosso país, há oito anos, no início deste governo, a dívida pública brasileira era de R$ 152 bilhões. Hoje é de R$ 861 bilhões, um aumento de 466%. É uma grande bola de neve, em que pagamos empréstimos antigos com novos empréstimos, acrescidos sempre de novos juros.

É por isso que falta dinheiro para os projetos sociais, para a saúde, para a educação, para a aposentadoria, para o salário mínimo e para os investimentos em infra-estrutura, como estradas, energia, moradia popular e saneamento básico. Esta é a mais absoluta verdade sobre a crise econômica brasileira e quem disser outra coisa está querendo enganar você.

Foi com esse espírito de alerta e responsabilidade que lancei a "Carta ao Povo Brasileiro", em julho passado. Foi também pensando no Brasil que conversei com o presidente Fernando Henrique e tratei de forma sensata, ainda que com preocupação, o acordo selado com o FMI.

Veja, não duvido das boas intenções do presidente, mas diante da possibilidade real de ganharmos as eleições no próximo domingo, não posso permitir que sua equipe econômica e seu candidato tentem fugir da responsabilidade dos seus erros, que, entre tantos prejuízos causados ao nosso país, resultou em 12 milhões de desempregados, o maior índice de toda a história do Brasil.

É inaceitável, portanto, a tática usada pelo candidato do governo, que tenta nesta última semana das eleições e de forma absolutamente irresponsável amedrontar o povo brasileiro, falando inclusive dos riscos dessa crise para a nossa economia, como se a culpa por essa crise não fosse deles, afirmando ainda, insistentemente, que ele, e só ele, sabe como resolver esse grave problema. É de se perguntar: se ele sabe como resolver essa crise, por que não fez isso antes, se desde o começo do governo foi sempre um de seus homens mais influentes, tendo inclusive sido ministro do Planejamento e um dos principais responsáveis pelo desastroso processo de privatização?

Quero dizer a vocês, eleitores e eleitoras brasileiros, estamos preparados para enfrentar e vencer esta crise porque temos equipe, porque temos um plano e, principalmente, porque temos humildade para reconhecer que precisamos da ajuda de todos os brasileiros interessados em tirar o país dessa humilhante situação o mais rápido possível.

Quero dizer a vocês que os mais economistas deste país já foram convocados por mim e, neste momento, já estão trabalhando com minha equipe. Já sabemos os novos rumos que, se eleito, precisam ser tomados na nossa economia.

Quero dizer a vocês que grandes empresários e os principais sindicalistas deste país, que nunca foram chamados por este governo nem sequer para serem ouvidos, já estão trabalhando também com minha equipe, estudando fórmulas para que o Brasil retome, no mais curto espaço de tempo possível, o caminho do crescimento econômico, a única forma de gerar empregos e fortalecer a nossa economia.

Não sou um homem só e não pretendo, se eleito presidente da República, governar o Brasil sozinho. Se este é um país de todos, todos serão convocados a ajudar e a se comprometer em fazer a sua parte. O meu governo será um governo de paz, sem mágoa e sem rancor, e terá como marcas registradas o entendimento e a negociação. Mais do que nunca será preciso fazer um pacto, numa autêntica união pelo Brasil, alicerçado no planejamento de longo prazo para as políticas públicas. Se houver sacrifícios, serão sacrifícios para todos; quando houver benefícios, serão repartidos entre todos. Não será como sempre aconteceu neste país, em que o benefício era para poucos e o sacrifício, para muitos.

Quero dizer a vocês, homens e mulheres do Brasil, que fiquem otimistas. Sempre enfrentei desafios na minha, desde o dia em que nasci, e sempre consegui vencer todos, um a um. A prática de negociar exaustivamente em busca de consenso, tanto utilizada pelo Partido dos Trabalhadores, me fez um homem paciente e, sobretudo, de diálogo. Por tudo isso, o meu governo será um governo de paz, que não perseguirá outro objetivo a não ser o respeito e a vontade do povo brasileiro.

Obrigado e boa noite."

Leia mais no especial Eleições 2002
 

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