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28/10/2002 - 02h17

Irmão de Lula diz que família não pleiteia cargos no governo

da Folha Online

Nenhum dos seis irmãos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva irá ocupar cargos públicos remunerados no novo governo. A informação foi dada por José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Lula e responsável pela entrada do irmão no movimento sindical e, posteriormente, na política. Em entrevista à Agência Brasil, ele disse que "nenhum irmão vai ter cargo público, porque não é da índole de Lula empregar parentes. E nós também não devemos tirar proveito disso".

Frei Chico, 60, que ganhou o apelido por ter uma "coroinha" na cabeça semelhante à usada pelos padres, disse que seu único vínculo com o governo será continuar insistindo junto à comissão do Ministério da Justiça que analisa os processos de indenização a pessoas perseguidas ou mortas durante o regime militar.

Durante o regime militar, ele foi afastado da vice-presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul e hoje reivindica do governo um salário mensal fixo indenizatório, já que foi um dos presos na grande greve que marcou o ABC paulista em 1975.

Aposentado depois de 39 anos de trabalho como metalúrgico, ele já recebeu uma indenização de cerca de R$ 18 mil, mas quer ter um benefício fixo. Frei Chico, na época filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCB), conta muitas histórias sobre Lula e sua luta no movimento sindical, que culminou, em 1980, na criação do Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo Frei Chico, Lula resistiu muito antes de entrar para o movimento sindical, porque não gostava da associação que ele tinha com os partidos de esquerda.

Dois fatos pesaram na transformação de Lula: o primeiro foi quando surgiu uma vaga de suplente na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, pois o indicado para o cargo, o metalúrgico José Ferreira de Souza, não pôde assumir porque poderia perder o emprego. "Indiquei Lula para a função."

Ele não queria, inicialmente, porque trabalhava na Villares, em São Bernardo. "Não foi fácil convencê-lo. Ao final de três reuniões com os integrantes da chapa que concorria à eleição, eu, finalmente, consegui levá-lo para o sindicato". Frei Chico achava que Lula tinha jeito para a vida sindical, porque tinha uma certa liderança pessoal, era muito querido, gostava de brincar com todo mundo, contava piadas e tinha um poder de convencimento singular.

A outra história foi quando ele perdeu a mulher, Maria de Lourdes, de 19 anos, que morreu juntamente com o menino, que nasceria morto após um diagnóstico mal feito por médicos do Hospital Modelo Tamandaré, em São Bernardo. Os médicos não perceberam que Maria de Lourdes estava com hepatite e não trataram adequadamente o caso, o que levou à morte mãe e filho, que pesava quatro quilos, "por negligência médica".

Frei Chico lembra que Lula ficou muito chocado com isso, ficou deprimido e conta que, para ajudá-lo a sair da crise, Paulo Vidal, eleito para o sindicato, o convenceu a assumir a suplência da entidade.

Lula, a partir daí, ficou muito interessado naquilo que fazia, e passou a ler e a se informar sobre tudo que envolvia a luta dos metalúrgicos por melhores salários, segundo o irmão mais velho do presidente eleito. Para mostrar a coragem do irmão, Frei Chico conta que, quando foi preso, em 1975, Lula estava no Japão participando de um evento do sindicato. Ele tomou conhecimento da notícia e decidiu, na mesma hora, voltar ao Brasil para procurá-lo nas prisões.

"Lá, os caras deram um chá de cadeira nele de várias horas, queriam interrogá-lo, e ele provou que não devia nada. Depois de 29 dias, ele descobriu onde eu estava. Foi a partir daí, que ele descobriu o que era a ditadura. Então, ele começou a organizar o pessoal dentro das fábricas e foi fazendo congressos, transformou o sindicato em uma escola, que tinha curso supletivo, curso de eletricista e outras atividades profissionais."

"Em 1979, 1980, veio a outra fase da vida dele, pois o sindicato já não mais lhe bastava. Era preciso criar o Partido dos Trabalhadores". Lula é o antepenúltimo dos oito filhos de Eurídice e Aristides Inácio da Silva, que morreu nos anos 80, vítima de alcoolismo. Aristides teve mais 11 filhos de outro casamento com uma prima da mãe de Lula. Dona Eurídice morreu de câncer, durante as greves do ABC, em 1980, quando Lula estava preso no Dops paulista.

São irmãos do novo presidente: Zeca, já falecido; Jaime, Marinete, Vavá (Genival), Frei Chico, Maria, Lula e Ruth. Segundo Frei Chico, Lula é um homem alegre, "um grande piadista, brincalhão", gosta de uma boa cachacinha e também de uísque, mas bebe de forma moderada; fuma charuto; adora baião, música sertaneja e curte clássicos, entre eles, o tenor italiano Luciano Pavarotti; na juventude, ele gostava muito de dançar. "Só não canta, porque sua voz é horrorosa. Ninguém aguenta a voz dele cantando."


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