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28/10/2002 - 04h27

Antônio Palocci sintetiza mudança ao centro

MÔNICA BERGAMO
Colunista da Folha de S.Paulo
EVANDRO SPINELLI
da Folha Ribeirão
CHICO DE GOIS
da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto

O médico sanitarista Antônio Palocci, 42, prefeito licenciado de Ribeirão Preto e hoje um dos principais assessores de Lula, percorreu, em sua vida pública, uma trajetória que é a síntese da que ajudou o PT a vencer, ontem, as eleições presidenciais: da esquerda para o centro pragmático.

Na juventude, ao cursar medicina na USP de Ribeirão Preto, ele militou na Libelu, corrente trotskista de extrema esquerda. Aos 28 anos, depois de ocupar cargos em associações de classe, sindicatos e na CUT, foi eleito vereador.

Votou contra propostas de aumento de IPTU e apresentou projetos como o que previa o passe livre nos ônibus para os estudantes.

Eleito prefeito, em 92, vetou lei que previa o mesmo passe livre. A proposta havia sido apresentada pela oposição, que pretendia mostrar as "contradições" do PT.

Vendeu 49% das ações da empresa estatal de telefonia da cidade, quebrando um tabu no PT, e concedeu para a iniciativa privada, por 20 anos, a operação de estações de tratamento de esgoto.

De volta ao cargo de prefeito, em 2001 (com a ajuda do marqueteiro Duda Mendonça), propôs aumento de até 900% no IPTU e perseguiu o superávit nas contas públicas. Negou aumento aos servidores, determinou a extinção de 30% dos cargos em comissão e um corte de 10% nas despesas.

Teve como principal auxiliar um não-petista, o banqueiro Nelson Rocha Augusto, do Banco Ribeirão Preto, nomeado para a Secretaria de Planejamento. "Palocci sempre foi mais aberto e oxigenado que o PT", diz Augusto.

De um déficit de R$ 60 milhões, a prefeitura fechou o ano no azul, segundo o banqueiro, e acabou concedendo aumento de 7% aos servidores (eles pleiteavam 30%).

"Se Palocci assumir um cargo no governo, é sinal de que o PT vai levar a economia a ferro e fogo. Ele fará de tudo para cumprir as metas do FMI e tornar adequada a relação dívida/PIB", diz Augusto.

Truculência na economia
Casado com a médica Margareth, Palocci vive com dois enteados e com a filha de 11 anos.

Em fevereiro, Palocci passou a coordenar o programa de governo de Lula. Assumiu a tarefa num momento delicado, em meio à comoção pela morte do prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado um mês antes.

Foi o escolhido por ter, como Daniel, experiência administrativa. É também considerado de temperamento tranquilo. Acabou ampliando suas atribuições e é hoje um dos principais interlocutores com o empresariado.

Foi dele a iniciativa de procurar Gabriel Ferreira, presidente da Febraban, para um almoço em maio. Após o encontro, Ferreira deu declarações favoráveis a Lula.

Há quatro meses, Palocci telefonou para Eugênio Staub, da Gradiente. "Ele se apresentou e pediu para conversar", diz Staub. No encontro, Palocci pediu sugestões para o programa do PT para a Zona Franca de Manaus. "O PSDB faz reuniões com empresários para pedir dinheiro", disse Staub ao declarar apoio. "O PT escuta sugestões e leva em consideração."

O prefeito nunca perdeu uma eleição-ele já foi eleito vereador (88), deputado estadual (90), deputado federal (98) e duas vezes prefeito (92 e 2001).

Mas fracassou ao tentar eleger seu sucessor para a prefeitura, em 96, e, neste ano, mesmo com a "onda vermelha", o PT não conseguiu eleger nenhum deputado na região de Ribeirão Preto.

Na campanha, Palocci se viu às voltas com acusações de licitações dirigidas, como a que exigia a presença de molho de tomate com ervilhas em cestas básicas (especificidade que gerou as suspeitas).

Cancelou ainda a concorrência para a construção de uma avenida depois de acusações feitas pelo vereador Nicanor Lopes (PSDB) e enfrenta disputa judicial contra o aumento do IPTU.

Veja também o especial Governo Lula

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