Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
28/10/2002 - 04h29

Cargos na transição abrem primeira crise no PT

KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo

Eleito senador com mais de 10 milhões de votos, o deputado federal Aloizio Mercadante (SP) é o pivô da primeira crise na formação da equipe de transição e do ministério do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A Folha apurou que Mercadante disputa espaço na área econômica com Antônio Palocci, coordenador de programa de governo de Lula e nome que cresceu muito no PT e fora do partido durante a campanha, e também com Guido Mantega, principal assessor econômico de presidente eleito.

Mercadante nega haver disputa e desentendimentos. Disse ontem à noite já ter conversado com Lula sobre a possibilidade "teórica" de participar do governo. Mas teria reiterado que não poderia, de início, entregar a um suplente seu novo mandato parlamentar. "Seria um desrespeito para todos os que votaram em mim", disse.

Por vezes identificado como principal porta-voz econômico do PT, ele perdeu parte desse poder para Palocci e Mantega.

No processo eleitoral, Lula e o presidente do PT, o deputado federal reeleito José Dirceu (SP), ficaram contrariados com declarações de Mercadante não previamente combinadas com os dois.

Alguns contatos de Mercadante com banqueiros e autoridades públicas também foram feitos à revelia da cúpula. A principal crítica é a de que ele faz um jogo mais individual do que partidário.

Mais: a cúpula petista identificou o dedo de Mercadante na volta de rumores que o dão como cotado para o Ministério da Fazenda, o que nem de longe está nos planos de Lula.

Como Mercadante sabe que não será ministro da Fazenda, a direção petista acha que os novos rumores teriam por objetivo cavar um "crédito" para que ele ganhe a pasta das Relações Exteriores ou receba apoio para tentar presidir o Senado a partir de 2003.

Ontem pela manhã, ao votar, o senador eleito já havia declarado que preferia permanecer no Congresso, em nome de seus 10.491.345 eleitores. Discorreu mesmo assim com familiaridade sobre a agenda econômica da equipe de transição.

Elogiou a sugestão de Pedro Malan, de indicar já agora o novo presidente do Banco Central, que seria assim sabatinado pelo Senado e poderia assumir na primeira semana de janeiro, e fez considerações sobre o novo salário mínimo: ele será maior que os R$ 211 previstos pela proposta de Orçamento que FHC enviou ao Congresso. Mas tudo ainda depende do câmbio e da taxa de juros até o final do ano, que afetam a dívida pública, a inflação e a taxa de crescimento a partir da qual a União vai fazer a projeção de quanto deve arrecadar em impostos.

Equipe de transição
Até ontem, Mercadante articulava a fim de obter uma vaga na equipe de transição, usando como argumentos o cacife eleitoral, o conhecimento do Congresso e as boas relações que tem em Brasília. O problema, para a cúpula petista, é que a entrada de Mercadante na equipe de transição possa gerar conflitos de imediato.

Isto é, poderia haver uma superposição de atribuições entre ele e Palocci, autorizado por Lula para fazer as sondagens e contatos oficiais com empresários, banqueiros e economistas a respeito de participação na equipe de transição e no ministério.

O outro nome autorizado a fazer esse tipo de trabalho, com mais foco na grande articulação política, é o de José Dirceu, que será o chefe da transição, ocupando o cargo de ministro extraordinário criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pago com dinheiro público.

No plano inicial, Dirceu comandaria a transição e faria a grande articulação política ao lado de Lula. O segundo escalão da equipe teria Palocci, pela área econômica, auxiliado por empresários e técnicos. Participariam ainda Luiz Gushiken, no papel de executivo do grupo de 51 funcionários que deverá trabalhar em Brasília, e Luiz Dulci, com as atribuições de fazer a interface entre a equipe e o PT e aliados.

Ao lado de Dirceu e Palocci, Gushiken e Dulci formavam a cúpula da campanha de Lula. Mercadante, que disputava a eleição, ficou fora, mas agora tenta recuperar o espaço de principal porta-voz econômico do PT.
O fato, porém, é que Palocci e Mantega, pela dinâmica da campanha, assumiram esse papel de modo mais satisfatório, na avaliação de Lula. O presidente eleito costuma dizer que Mercadante tem um perfil desagregador, gerando arestas entre os economistas do partido. Palocci, ao contrário, é hábil articulador.

Além de atritos com Palocci, Mercadante também tem tido dificuldades com Mantega, encarregado dos contatos com instituições como o FMI e o Banco Mundial, com o segundo escalão de instituições financeiras e com universidades.

Mantega deverá participar nas próximas semanas das reuniões com a primeira missão do FMI que virá ao Brasil para a revisão dos termos do acordo recém-fechado com o Fundo por FHC e já respaldado por Lula.

Veja também o especial Governo Lula

Veja também o especial Eleições 2002

Acompanhe a apuração nos Estados

Acompanhe a apuração para a Presidência
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade