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28/10/2002 - 04h41

BNDES não deve emprestar a estrangeiros, diz vice de Lula

GUILHERME BARROS
da Folha de S.Paulo

Se depender do senador e vice-presidente eleito José Alencar (PL), 71, três filhos e cinco netos, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) terá papel fundamental no novo governo. Entre outras idéias, ele propõe que o BNDES não conceda mais financiamentos para empresas estrangeiras. "O BNDES tem que abrir um leque para o Brasil", diz.

Ele defende que o BNDES facilite o acesso às pequenas e médias empresas aos financiamentos.

Sobre seu papel na campanha, Alencar diz que o que procurou fazer foi "não atrapalhar o Lula".

Folha - Qual será seu papel como vice?
José Alencar
- O papel do vice-presidente está previsto na Constituição, que é o de substituir o presidente numa eventualidade. Eu acredito até que vá substituir muito pouco. O Lula vai viajar muito, mas para o interior do Brasil, para o semi-árido, o Vale do Jequitinhonha... Por isso, terei muito pouco trabalho de substituí-lo. Agora, a Constituição também diz que o vice-presidente pode exercer alguma missão especial, se convocado pelo titular.

Folha - Se convocado, o sr. poderá ter algum papel além de vice?
Alencar
- Só a prática pode dizer. Sempre estarei disponível para atender aos interesses nacionais.

Folha - O PL pode ter algum representante no ministério?
Alencar
- O Lula não tem preconceito com relação a partido. O PL é um dos partidos que compõem da aliança nacional, junto com o PMN, o PC do B e o PCB. A partir do segundo turno, houve também outros apoios, como do PSB, PPS, PDT... Outros partidos também deram apoio no segundo turno. Em Minas, por exemplo, o PMDB deu apoio incondicional ao Lula, como na Paraíba e em Santa Catarina. Lula conseguiu construir um consenso nacional. Num país como o Brasil, que tem 30 partidos, nenhum vai obter uma vitória eleitoral de forma isolada. Mesmo que obtivesse, teria grandes dificuldades de governar.

Folha - Os tucanos também poderão participar do governo?
Alencar
- Não há nenhum preconceito contra o PSDB. Apesar de se posicionar em sentido contrário, é possível que, diante das propostas do Lula, ele venha a dar apoio ao Lula.

Folha - Para o sr., qual deverá ser a grande marca do governo Lula?
Alencar
- Em primeiro lugar, o Lula prima pela sensibilidade social, que é inerente à personalidade dele. Também possui um arraigado sentimento nacional. E é uma figura admirável do ponto de vista de intransigência em relação à probidade. Não há um arranhão moral ou ético contra ele. É sensível às questões ligadas às regiões menos favorecidas, já que nasceu numa delas. E também ao tratamento desigual dado às crianças nas escolas, porque foi uma das que passaram por isso.

Folha - Como o sr. imagina o Banco Central no governo Lula?
Alencar
- Tem de haver uma reestruturação das prioridades. A única meta sobre a qual se fala no Brasil hoje é a meta de inflação. É óbvio que isso é importante. O BC, no governo Lula, será o guardião da moeda, com absoluto rigor no controle da inflação, mas sempre consciente de que essa é uma atividade meio, não uma atividade fim. O fim, no governo Lula, será a retomada do crescimento, para que possam ser alcançados os objetivos de gerar empregos e aumentar as exportações.

Só assim poderemos baixar as taxas de juros, ainda que lenta e gradualmente. Quanto à dívida, Lula tem dito com todas as letras: ela é do Brasil, não do FHC. Se é do Brasil, terá de ser honrada. Uma coisa que deve ser dita, no entanto, é que, continuando nesse rumo, de contrair empréstimos sem a contrapartida de crescimento da economia, vamos chegar a uma situação de insolvência.

Folha - Como assim?
Alencar
- A dívida cresce muito em relação ao PIB e, da forma como está, pode até ultrapassar o PIB. O ministro da Fazenda fala que a Itália deve 100% do PIB. Só que a dívida italiana é rolada com uma taxa de juros cinco vezes menor do que a nossa. E a longo prazo, que não é o caso da nossa.

Temos obtido um superávit, mas adjetivado de primário. Ele é adjetivado porque não é superávit. O déficit construído apenas pelos juros atinge cerca de 10% do PIB. Já o superávit é de menos de 4% do PIB. Ou seja, o superávit primário cobre apenas 40% do déficit. Os outros 60% se acoplam à dívida e isso faz com que ela cresça como bola de neve.

A banca internacional sabe, no entanto, que os 3,75% do PIB de superávit primário são razoáveis. Se ele for usado para amortização de juros e compromissos da dívida, já está bom, e aí eles podem nos dar crédito. O que temos de aprender é a nos defendermos disso. E para isso temos de voltar a crescer, valorizar a produção.

Para isso, precisamos fazer com que o crédito de longo prazo e a custo compatível também estimule as pequenas e médias empresas. Elas são empresas de mão-de-obra intensiva. Temos de levar o desenvolvimento para a pequena empresa.

Folha - O sr. acha que o BNDES não cumpre esse papel?
Alencar
- O BNDES tem condições para isso, mas ele tem que abrir um leque para o Brasil. Em vez do projeto sofisticado, que uma empresa pequena não tem condições de fazer, o BNDES pode passar a exigir um questionário que qualquer pequeno empresário seja capaz de preencher, até de forma manuscrita. O empresário informará tudo nesse cadastro. Isso não é o Lula que fala. Trata-se de uma proposta minha.

Folha - O sr. é contra o BNDES emprestar às empresas de fora?
Alencar
- O BNDES não nasceu para isso. A meu ver, não deveria mais conceder empréstimos estrangeiros. Por que precisamos emprestar dinheiro para grandes empresas estrangeiras virem se instalar aqui? Isso não é xenofobia, e sim mudança de foco.

Folha -O sr. acha que sua entrada na campanha do Lula foi decisiva?
Alencar
-Eu tenho procurado não atrapalhar o Lula. O prestígio do Lula é muito grande. Ele é um gigante, uma figura predestinada. Ele tem um sopro divino que o fará um grande presidente.

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