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28/10/2002 - 05h10

Católicos devem ajudar, mas também vão pressionar o Planalto

da Folha de S.Paulo, no Rio

Cooperação e pressões, participação e distanciamento crítico, diálogo e cobranças. Assim deverá ser, entre tapas e beijos, o relacionamento da Igreja Católica com o governo do PT.

Os canais entre a instituição e o partido que de alguma forma ela ajudou a fundar sempre estiveram desobstruídos, mas nesta eleição, por conta do pragmatismo do estilo "Lulinha paz e amor", em várias ocasiões houve tensão e desconfiança. Principalmente quando o PT decidiu não participar do plebiscito contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), liderado pela igreja, e quando fez a aliança com o PL, que abriga a parte política mais importante da Igreja Universal.

Há na igreja a expectativa de que pelo menos um membro da hierarquia católica, o bispo d. Mauro Morelli, de Duque de Caxias (RJ), seja convidado para ressuscitar no governo o Conselho de Segurança Alimentar, responsável pelos programas de combate à fome e à miséria que ele próprio dirigiu durante a Presidência de Itamar Franco.

Durante a campanha, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) recebeu todos os candidatos e deixou claro as prioridades que vai cobrar do futuro governo: combate à fome e à miséria, reforma agrária, comportamento ético e combate à corrupção. Segundo d. Jayme Chemello, presidente da entidade, "acentuamos a necessidade de olhar mais para o povo". No relacionamento com o novo governo, a igreja manterá, "uma certa distância para poder exercer o papel de consciência crítica."

O bispo de Uberlândia, d. José Alberto Moura, coordenador da campanha de evangelização da CNBB, recebeu Lula em sua residência em agosto. "A gente lembrou que o governo tem de olhar em primeiro lugar pelos excluídos. Há uma confiança [no PT], mas haverá cobrança."

As pressões virão principalmente do setor da igreja formado pelas Cebs (Comunidades Eclesiais de Base), pelas pastorais sociais e por uma parte do clero que desde a década de 70 têm forte participação política e se apresenta como a igreja dos oprimidos.

Gilberto Carvalho, um dos principais elos entre o partido e a igreja (foi chefe de gabinete da coordenação da campanha do PT e é membro do Movimento Fé e Política) prevê que "este setor vai estar à frente das demandas que vão explodir no dia seguinte à vitória de Lula." Para ele, "é um setor muito comprometido com os aspectos éticos" e que ficou ressabiado quando o PT não apoiou o plebiscito da Alca e fez aliança com o PL. "O medo do setor é estar elegendo um Fernando de la Rúa [presidente da Argentina eleito pela oposição e que renunciou]", admite.

Uma das áreas de conflito social onde a igreja tem maior participação é a da reforma agrária, que ela apóia ostensivamente desde 1952, quando foi fundada a CNBB. Isidoro Revers, secretário da CPT (Comissão Pastoral da Terra), diz que o PT não tem como pedir paciência aos sem-terra. Ele acha que vai haver tensão, mas diz que acredita que o PT estará sempre mais aberto a negociações que qualquer outro partido.

O assessor das Cebs, Pedro de Assis Ribeiro de Oliveira, acha possível que o PT provoque uma "frustração". Ele acha que as tensões serão positivas, e cita uma frase que ouviu de um bispo: "O PT é o meio que usamos para chegar a uma sociedade mais justa. O nosso fim é o reino de Deus."

As expectativas destes setores politizados da igreja são grandes e podem gerar conflitos. Esta é a opinião do bispo emérito d. José Maria Pires, progressista e liderança do movimento negro. "O governo não terá condições de resolver logo [os problemas] e não poderá ser tão radical como alguns movimentos gostariam."

O padre Virgílio Leite Uchôa, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, acha que as bases da igreja deveriam ajudar o próximo governo na mobilização popular e na mediação com os movimentos sociais, mas sem perda de independência. D. Mauro Morelli, cotado para reestruturar o Conselho Nacional de Segurança Alimentar, também se preocupa com a autonomia. "Se o presidente me convoca para um desafio, não vejo como recusar. Isto não entra em conflito com a minha missão de bispo. Estaremos dando uma contribuição para a sociedade e não sendo enquadrados."

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