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28/10/2002 - 05h14

Base petista, servidores cobram oito anos sem reajustes

WLADIMIR GRAMACHO
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Luiz Inácio Lula da Silva acabara de subir ao palanque montado na Esplanada dos Ministérios para seu último comício em Brasília, antes de voltar à capital como presidente eleito. Cerca de 35 mil pessoas esperavam seu discurso. No palco, o candidato foi interceptado por um líder sindical.

"Lula, quase todo mundo aqui é funcionário público. Toma nossa lista de reivindicações. Você precisa falar sobre isso agora", disse Cláudio Santana, secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais e candidato a deputado federal pelo próprio PT. A mão estendida oferecia uma carta com 5 mil assinaturas e um índice de reajuste: 89%.

"Tenham um pouco de paciência", pediu Lula, constrangido. "Já tivemos muita paciência nesses oito anos. Agora queremos o reajuste", devolveu Santana, encerrando a conversa.

A cena ocorreu no início da noite do dia 28 de setembro, um sábado. O tom do curto diálogo indica em que ambiente Lula sentará, pela primeira vez, na cadeira do empregador à mesa de negociações salariais. Do outro lado, estarão 827 mil servidores da ativa e 517 mil inativos, entre civis e militares do Executivo. A data do encontro: janeiro de 2003, primeiro mês do governo Lula e data-base do funcionalismo.

Os servidores cobram uma fatura de oito anos sem reajustes para o servidor comum da Esplanada. Todos podem ser beneficiados, ainda que algumas categorias, como os auditores fiscais, tenham obtido reajustes específicos. Calculam, com base no INPC do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que o reajuste devido entre janeiro de 1995 e janeiro de 2002 é de 89%.

"O companheiro Lula precisa dar uma resposta à nossa reivindicação. Até agora foram só evasivas. Dizer que vai sentar para negociar não interessa. Não tem pacto de submissão, não", avisa Cláudio Santana.

Na ponta do lápis, o aumento salarial de 89% para todos os servidores do Executivo custaria R$ 49 bilhões a mais, por ano, aos cofres públicos. É mais que o dobro da arrecadação da CPMF estimada pelo governo para 2003. Para pagar a conta sem aumentar o déficit fiscal, seria preciso, grosso modo, triplicar a alíquota da contribuição sobre movimentações financeiras. Elevá-la, por exemplo, dos atuais 0,38% para 1,14%.

"Como o partido conta com sólidas bases entre os funcionários, os sindicatos tendem a esperar que os governantes do PT concedam rapidamente aumentos salariais. Se o partido cede, corre o risco de inviabilizar as finanças. Caso não ceda, tem que se haver com funcionários particularmente agressivos", escreveu o cientista político André Singer, porta-voz de Lula, em seu livro sobre o PT.

Com razão. As experiências de governos do PT no Espírito Santo e no Distrito Federal, por exemplo, revelaram sindicatos como os principais adversários das administrações de Vítor Buaiz e Cristovam Buarque.

Além disso, a base do PT no Congresso é, antes de tudo, uma base sindical. Dos atuais 58 deputados federais do partido, 33 foram dirigentes de sindicatos ou da CUT. Entre os oito senadores, quatro vêm do sindicalismo.

"Sempre evitamos atritos com sindicatos. Mas na hora da votação, fechamos com o partido", diz o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações (Bahia).

Em 2002, os sindicatos também evitaram atritos com o PT. "Por orientação da CUT, a maioria das categorias profissionais antecipou as negociações por reajustes para evitar o período eleitoral", diz o secretário-geral da entidade, Duvanier Ferreira. "Assim, os dirigentes sindicais ficariam mais livres para se envolver na campanha", explica. "Mas em nenhum momento imaginou-se usar isso para prejudicar o Lula."

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